Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2017

EM ANO DE PERDAS NA MPB, COMERCIALISMO SE CONSOLIDA NA MÚSICA BRASILEIRA

ANITTA, EM CENA DO VÍDEO DE "VAI MALANDRA". Por Alexandre Figueiredo Em um ano como 2017, que a MPB perdeu, pelo menos, três notáveis compositores - Belchior, Luís Melodia e Almir Guineto - , o comercialismo musical brasileiro, cujas tentativas remetem a, pelo menos, 50 anos atrás, consolidou seu domínio, dando fim, infelizmente, a uma época de música popular de qualidade e uma aliança entre universitários e artistas populares. Enquanto isso,  a MPB autêntica sofre um período de acomodação, com a onda de homenagens intermináveis, tributos que parecem sinalizar que a Música Popular Brasileira, tal como conhecíamos desde 1965, tornou-se coisa do passado. Não que a MPB soasse datada, mas o mercado e a mídia parecem desestimulados em divulgar qualquer renovação artística da música de qualidade. Todo um caminho de persuasão ideológica se deu para se chegar à supremacia absoluta da geração recente do brega-popularesco, a dos "pós-bregas", o pop comercial brasile

O DIA EM QUE A ALERJ BRINCOU DE SER IPHAN

Por Alexandre Figueiredo Em 01º de setembro de 2009, um ritmo comercial, cujos aspectos sócio-culturais são bastante confusos e contraditórios, ainda que se ocultem as relações verticais entre indústria e público consumidor, foi declarado "movimento cultural de caráter popular" através do anúncio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nesse evento, no qual se viam entidades ligadas ao "funk carioca" e personalidades relacionadas - de artistas solidários como a cantora Fernanda Abreu até DJs como Marlboro e Rômulo Costa, além do presidente da APAFUNK (Associação de Profissionais e Amigos do Funk), MC Leonardo e o antropólogo Hermano Vianna - , causou muita movimentação no Centro do Rio. Na altura da Av. Pres. Antônio Carlos, em frente ao prédio que chegou a ser da Câmara dos Deputados quando o Rio de Janeiro era capital do Brasil e hoje abriga a ALERJ, funqueiros estavam reunindo com faixas com expressões como "funk é cultura" e outros lemas

SEMINÁRIO DISCUTE, EM FORTALEZA, A POLÍTICA DO PATRIMÔNIO IMATERIAL

Por Alexandre Figueiredo Comemorando 20 anos da Carta de Fortaleza, resultante do Seminário "Patrimônio Imaterial: Estratégias e Formas de Proteção", o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) promove o II Seminário de Fortaleza, cujas inscrições já estão abertas . O evento, que acontece de 08 a 11 de novembro próximos, no Teatro José de Alencar, terá abertura com uma palestra, denominada Conferência Magna, do sociólogo francês Laurent Levi-Strauss, filho do antropólogo Claude Levi-Strauss. Ele é membro do Conselho da Europa Nostra, que é a maior organização não-governamental dedicada à preservação do patrimônio cultural em 43 países. Segundo Laurent, na época em que a Carta de Fortaleza foi lançada, em 14 de novembro de 1997, o Brasil estava avançado nas políticas de proteção do patrimônio histórico e cultural em relação a maior parte da comunidade internacional. Laurent acrescentou: "Seis anos depois, em 2003, a UNESCO publicou a Conven

LADEIRA DA MISERICÓRDIA ESTÁ ENTRE OS BENS CULTURAIS BRASILEIROS

Por Alexandre Figueiredo Primeira via pública da cidade do Rio de Janeiro, a Ladeira da Misericórdia está entre os bens tombados pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em reunião realizada hoje. É a terceira reunião do ano, na sede do IPHAN, em Brasília, cinco meses depois do encontro anterior, no mesmo local, em abril último. Na primeira reunião, revalidou-se o registro patrimonial da Arte Kusiwa, pintura corporal e arte gráfica caraterísticos da tribo Wajãpi, que habita as regiões do Pará e Amapá. Curiosamente, a tribo, que estava ameaçada de perder seu terreno, integrante da Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados), foi beneficiada pela revogação do decreto que extinguiria a reserva para liberação da exploração de seus recursos naturais. O registro da Arte Kusiwa já havia sido feito em 2002, como o primeiro bem na lista de Patrimônio Cultural do Brasil. Depois a UNESCO, órgão das Nações Unidas, deu à manifestação o

A DOLOROSA RESSACA DO PÓS-BREGA

Por Alexandre Figueiredo Depois de 20 anos, quando se formou uma geração de intelectuais comprometida com a abordagem populista da bregalização cultural, a utopia por eles lançada decai, criando um clima de tristeza e de ressaca diante dos efeitos drásticos que a apologia à breguice trouxe para a realidade. A utopia pressupunha que a defesa da bregalização cultural, inserindo seus valores e, sobretudo, seus ícones musicais, para um público considerado de melhor qualificação cultural, iria promover uma grande revolução cultural e uma ampla democratização e celebração da diversidade plena, com o diálogo entre a tradição e a vanguarda, o artístico e o comercial. Isso tudo era promovido sob o pretexto do "combate ao preconceito", e a suposta celebração da diversidade cultural, querendo transformar meros fenômenos comerciais em supostos folclores do futuro, sob a desculpa de "fazerem parte" do cotidiano vivido pelas classes populares e "representar" se

CAIS DO VALONGO TORNA-SE PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE, MAS EXIGE CUIDADOS

Por Alexandre Figueiredo Localizado na Rua Camerino, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, o Cais do Valongo, principal ponto de desembarque de escravos no Brasil, tornou-se Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, órgão ligado às Nações Unidas. O local foi inaugurado em 1811, num tempo em que o sistema escravagista brasileiro recebia pressões das nações estrangeiras, que aderiram à Revolução Industrial, para ser extinto. Apesar dessas pressões, as elites brasileiras insistiram em manter o sistema, alegando ser o único eficaz para seu desenvolvimento econômico. O local teria recebido cerca de um milhão de escravos, um quarto dos escravos que chegaram ao Brasil ao longo de mais de trezentos anos. Em 1911, o Cais do Valongo foi aterrado, e só foi redescoberto depois que escavações foram feitas na área, dentro do projeto Porto Maravilha para receber turistas durante a Copa do Mundo FIFA 2014 e os jogos olímpicos Rio 2016. No local, foram encontrados cerca de 500 mil itens q

INTELECTUAIS PRÓ-BREGA QUERIAM EVITAR REPETIR CENÁRIO DE 1965

HILÁRIA MANIFESTAÇÃO CONTRA A GUITARRA ELÉTRICA EM 1967 FORTALECIA O VERDADEIRO DEBATE DA MPB NO COMEÇO DA DITADURA MILITAR. Por Alexandre Figueiredo A blindagem de intelectuais pela bregalização da música brasileira tem pouco mais de 15 anos. Ela se arrefeceu tanto pelos comentários negativos que rendeu de muitas pessoas quanto da consolidação da música brega-popularesca, o comercial-popular radiofônico e televisivo, que dispensava a necessidade das pregações, pelo menos com a intensidade que tiveram antes. Embora a intelectualidade pró-brega estivesse vinculada, de maneira tendenciosa e condicionada, pela Era PT (governos Lula e Dilma Rousseff), sua atuação remete ainda ao segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, por volta de 2000-2001. Ela coincide com o aumento do desgaste do presidente e sociólogo em seu segundo mandato. Em 2000, foi lançado o livro Eu Não Sou Cachorro, Não , do historiador Paulo César Araújo, como tentativa de dar um status "mais nobre" a

CUIABÁ E CAMPO GRANDE REVALORIZAM PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Por Alexandre Figueiredo As cidades de Cuiabá, capital do Mato Grosso, e de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, são contempladas por iniciativas de revalorização do patrimônio histórico promovidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em Cuiabá, já se encontra em funcionamento a Casa Barão de Melgaço, que abriga o Instituto Histórico e Geográfico do Mato Grosso (IHGMT) e também sedia a Academia Matogrossense de Letras (AML), restaurada e reaberta ao público no último dia 06, em cerimônia que contou com a presença das presidentes do IPHAN, Kátia Bogéa, do IHGMT, Elizabeth Madureira, e da AML, Marília Figueiredo Leite. A restauração, feita com investimento de R$ 690 mil vindas de recursos do PAC Cidades Históricas, envolveu a cobertura do edifício, a pintura da fachada, a recuperação de estruturas danificadas como o madeiramento de telhados, pisos e esquadrias, o reparo nas alvenarias, a substituição de instalações elétricas e sanitárias,

O "POPULAR DEMAIS" PREPAROU O GOVERNO MICHEL TEMER?

BANDA BAIANA ASA DE ÁGUIA, ACUSADA DE PEJOTIZAÇÃO. Por Alexandre Figueiredo A intelectualidade que defendia a bregalização da cultura popular em geral e da música brasileira em particular conseguiu o que queria. Criando um discurso de "combate ao preconceito", desculpa usada para forjar um consenso à apologia da degradação sócio-cultural sob o rótulo de "popular", o lobby intelectual contribuiu para o aumento do poder de fenômenos comerciais da "cultura de massa". Com o desmonte da Música Popular Brasileira através de uma campanha, em princípio, permissiva, e, depois, difamatória, onde primeiro se definia a MPB como uma "casa da sogra" onde cabia tudo que fosse, em tese, "música brasileira", e, depois, desmoralizava a MPB pelo seu "elitismo", a sigla que fazia os corações juvenis baterem nos anos 1960 e 1970 se distanciou dos jovens atuais. Hoje cresce o brega-popularesco na sua mais recente geração, que trabalha um

ENCONTRO DISCUTE CIDADES HISTÓRICAS E PATRIMÔNIO MUNDIAL

Por Alexandre Figueiredo Acontecerá, nos próximos dia 11 e 12 de abril, em Brasília, o 3º Encontro Brasileiro de Cidades Históricas Turísticas e Patrimônio Mundial, que discutirá uma gestão de políticas nacionais para o setor. O evento é promovido pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em parceria com a Confederação Nacional dos Municípios e da Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial. O evento reunirá representantes de instituições estaduais e federais, gestores municipais e também membros da sociedade civil, que debaterão os modos adequados de exploração turística, além de definir responsabilidades para a estruturação dessas localidades na condição de destinos turísticos. Num tempo difícil como o dos últimos meses, é bastante desafiador no Brasil pensar a questão do turismo e do patrimônio cultural, discutindo a administração de políticas neste sentido, que envolvem questões como a facilitação de acesso a lugares históricos e ao con

FIM DA MPB FM E O REFLEXO DA CRISE CULTURAL NO BRASIL

O SAMBISTA DIOGO NOGUEIRA NO ANÚNCIO DA MPB FM. Por Alexandre Figueiredo O comercialismo cada vez mais monopolista da música brega-popularesca, o "popular" comercial da música brasileira, foi favorecido no final de janeiro passado. A repentina saída da MPB FM, substituída por uma repetidora da Band News FM, causou muita indignação e deixou uma lacuna irreparável no rádio do Rio de Janeiro. A situação já não era boa. A MPB FM não tinha uma programação ousada. Era a única rádio no setor, e antes eram duas. Mas a Nova Brasil FM saiu do ar para dar lugar à Rádio Globo que, saindo da frequência 89,5, abriu espaço para a religiosa Feliz FM. Com o fim da MPB FM, a única maneira de ouvir MPB no rádio é sintonizando as rádios de pop adulto, que, todavia, têm que repartir as canções brasileiras com sucessos do pop estrangeiro. Fora isso, é aceitar resignadamente que a música brega-popularesca é "MPB", como desejam as elites intelectuais do Brasil, e esperar que um í

O POBRISMO IDEOLÓGICO DO "POPULAR DEMAIS"

ALCOOLISMO: UMA DAS CARATERÍSTICAS DA DEGRADAÇÃO CULTURAL VISTAS COMO "POSITIVAS" PELA INTELECTUALIDADE. Por Alexandre Figueiredo Há cerca de quinze anos, entrou em ascensão uma corrente de intelectuais dotados de muita visibilidade e prestígio. Composta de antropólogos, sociólogos, historiadores, atores, músicos, cineastas, jornalistas e produtores de eventos, foi um grupo que prevaleceu durante cerca de dez anos difundindo uma visão caricatural e estereotipada de "cultura popular". A partir do livro Eu Não Sou Cachorro, Não , de Paulo César Araújo, considerada a "bíblia" do movimento, a geração de intelectuais que defendiam a bregalização cultural como paradigma da "cultura popular" combinou um apelo populista, um alto prestígio nos seus próprios meios sociais e uma visão financista trazida de uma orientação ideológica vinda da Teoria da Dependência, de Fernando Henrique Cardoso. Tendo como alguns de seus ideólogos nomes como Paulo Cé