Por Alexandre Figueiredo
Localizado na Rua Camerino, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, o Cais do Valongo, principal ponto de desembarque de escravos no Brasil, tornou-se Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, órgão ligado às Nações Unidas.
O local foi inaugurado em 1811, num tempo em que o sistema escravagista brasileiro recebia pressões das nações estrangeiras, que aderiram à Revolução Industrial, para ser extinto. Apesar dessas pressões, as elites brasileiras insistiram em manter o sistema, alegando ser o único eficaz para seu desenvolvimento econômico.
O local teria recebido cerca de um milhão de escravos, um quarto dos escravos que chegaram ao Brasil ao longo de mais de trezentos anos. Em 1911, o Cais do Valongo foi aterrado, e só foi redescoberto depois que escavações foram feitas na área, dentro do projeto Porto Maravilha para receber turistas durante a Copa do Mundo FIFA 2014 e os jogos olímpicos Rio 2016.
No local, foram encontrados cerca de 500 mil itens que incluem objetos diversos, adornos, amuletos e ossadas, que, guardados na Vila Olímpica da Gamboa, também na Zona Portuária, estão sendo identificados num levantamento feito por arqueólogos do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, vinculado à Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação da Prefeitura do Rio de Janeiro.
O título de Patrimônio Mundial da Humanidade dado ao Cais do Valongo se deu no último dia 09, por iniciativa do Comitê do Patrimônio Mundial, órgão ligado a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A decisão se deu durante a reunião anual que aconteceu na cidade de Cracóvia, na Polônia.
O título concedido ao local não representa a possibilidade de recursos financeiros diretos, mas permite um destaque simbólico, como um lugar de lembranças trágicas, a exemplo do campo de extermínio de Auschwitz, na Alemanha, e a cidade de Hiroshima, no Japão, atingida pela bomba atômica em 1945.
Apesar do título, há problemas a serem resolvidos no Cais do Valongo. Durante o período diurno, nos dias úteis, tudo parece um lugar comum, em que se observa até grupos de estudantes recebendo informações históricas dadas pelas professoras. Na última terça-feira, observou-se um grupo escolar diante de uma placa informativa.
Mas, em outros momentos, o local revela sua deterioração, através da sujeira e da má conservação, enquanto serve, também, de ponto de consumo de crack e área em que transeuntes resolvem urinar na rua. O surgimento de grama no local também faz destoar a caraterística histórica, porque o local, sendo ligado ao porto, faria mais sentido se estivesse cheio de areia.
Outro dado a considerar é que o galpão da Vila Olímpica da Gamboa, onde os 500 mil itens encontrados no Cais do Valongo estão guardados em várias caixas, fica ao lado do Morro da Providência, uma das áreas consideradas mais violentas do Rio de Janeiro.
A esperança é, portanto, que o título seja um motivo para chamar a atenção das autoridades para conservar e proteger os sítios históricos que alimentam o turismo no Rio de Janeiro e proporcionar a melhor segurança possível para os turistas se informarem sobre as histórias desses lugares.
FONTES: Agência Brasil, UOL, O Estado de São Paulo.
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