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Mostrando postagens de 2016

100 ANOS DO SAMBA NO CONTEXTO DA CRISE DA MPB

Por Alexandre Figueiredo Há cem anos, no dia 27 de novembro de 1916, era gravado o primeiro samba brasileiro. Era a música "Pelo Telefone", composição de Ernesto dos Santos, o Donga e do jornalista Mauro de Almeida, que tardiamente recebeu o crédito da co-autoria, e foi gravada em disco pela Casa Edison e lançada pela Odeon (hoje divisão EMI da Universal Music). A canção teve como intérprete o cantor Manuel Pedro dos Santos, o Baiano (Bahiano, segundo a grafia anterior à reforma ortográfica de 1943), nascido em 1870 na mesma Santo Amaro da Purificação que, mais tarde, revelou os cantores Caetano Veloso e Maria Bethânia. A música "Pelo Telefone" - que as gerações mais novas conhecem como citação incidental na música "Pela Internet", de Gilberto Gil - tem uma história curiosa e cheia de controvérsia. Surgiu de uma música cantada na roda de samba da Tia Ciata, no bairro da Penha, Rio de Janeiro. Na reunião, cantava-se uma música intitulada "Ro

PROJETO DE EDIFÍCIO EM SALVADOR PROVOCA GRAVE CRISE NO GOVERNO TEMER

Por Alexandre Figueiredo Há tempos a construção de um edifício de 30 andares, que causa um contraste paisagístico numa área histórica de Salvador, causa muita polêmica. O edifício La Vue, localizado na Av. Sete de Setembro, no trecho da Ladeira da Barra, já era um problema local dos soteropolitanos. Era, portanto, um problema que mostra a fragilidade do IPHAN baiano-sergipano, já que a 7ª Superintendência Regional contempla os dois Estados. Há tempos o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional sofre um conflito local entre políticas de intervenção do patrimônio histórico e de preservação de sítios históricos. Sucessivas direções, nos últimos dez anos, alternavam dois momentos radicais, um que se fundamentava na não intervenção em obras de recuperação de prédios históricos, baseada na tese de correntes de que a restauração era uma "falsificação" que comprometeria a estrutura original do edifício histórico, mesmo sendo peças idênticas às originais. Foi e

SAÍDA DE MARCELO CALERO E SUBSTITUIÇÃO POR ROBERTO FREIRE APROFUNDAM CRISE NO MINC

Por Alexandre Figueiredo Quando a crise em torno do Ministério da Cultura do governo de Michel Temer parecia, pelo menos, sob controle, eis que um novo episódio aprofunda ainda mais a crise, não bastasse a própria crise profunda que vive o governo em geral. A notícia, dada na noite do dia 18 de novembro de 2016, da saída do ministro da Cultura, Marcelo Calero, só não surpreendeu muito porque no governo Temer se espera qualquer instabilidade, e o Brasil já havia vivido uma série de incidentes e imprevistos. Calero foi substituído pelo senador pernambucano Roberto Freire, também fundador e presidente do PPS. Houve as prisões dos ex-governadores do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho e Sérgio Cabral Filho, e a agressão ao repórter da Rede Globo, Caco Barcellos, dois atos que desafiam as aparências revelando não o combate à corrupção ou ao monopólio midiático, mas antes uma punição tendenciosa a políticos decadentes e um radicalismo burro nos protestos que vitimaram um jorna

PEC 241 PODE CORTAR ATÉ O PAC DAS CIDADES HISTÓRICAS

Por Alexandre Figueiredo Um quadro sombrio se desenha no Brasil desde o mês de maio, quando Michel Temer assumiu a Presidência da República, ainda na condição de interino. Querendo mudar demais no projeto político, rompendo com o programa de governo da antecessora Dilma Rousseff, Temer implantou um projeto considerado por especialistas como "ultraliberal", que é a volta do radicalismo capitalista com a retomada de valores sociais ultraconservadores. Uma de suas bandeiras é a proposta de emenda constitucional número 241, a PEC 241, conhecida como PEC do Teto. É uma proposta que prevê o limite de gastos públicos, que não podem crescer acima dos índices da inflação, e cujos investimentos ficam praticamente congelados num prazo de 20 anos. O defensores da PEC 241 que, na edição deste texto, se encontra em votação em segundo turno no plenário da Câmara dos Deputados, afirmam que os investimentos públicos, em tese, preservarão setores como Educação, Saúde e Previdência Soc

NOS 80 ANOS DO IPHAN, ESFORÇOS RECENTES DE POLÍTICAS PATRIMONIAIS

Por Alexandre Figueiredo Mesmo diante de um cenário político confuso, irregular e turbulento, representado pelo governo do presidente Michel Temer e no plano da Cultura, pelo ministro da pasta, Marcelo Calero, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), procura se manter na normalidade administrativa, numa época em que celebra 80 anos de surgimento. Nos últimos dez anos, o IPHAN teve quatro presidentes: o antropólogo paulista Antônio Augusto Arantes (autor do livro da série Primeiros Passos da Brasiliense, O Que É Cultura Popular ), o arquiteto mineiro Luiz Fernando de Almeida (atual presidente do Museu de Arte do Rio de Janeiro - MAR), a também arquiteta mineira Jurema Machado e, atualmente, a historiadora maranhense Kátia Bogéa. Não foi fácil passar por essas gestões e manter o IPHAN dentro de um padrão de eficiência nos trabalhos de proteção do patrimônio histórico. Há imperfeições aqui e ali, como em Salvador, em que as políticas patrimoniais não cons

DEMISSÕES NO MINC E A CRISE CULTURAL

Por Alexandre Figueiredo Na 40 sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, realizado em julho passado em Istambul, na Turquia, incluiu o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, na lista dos bens que recebem o título de Patrimônio Mundial da Humanidade. O evento contou com a presença do ministro da Cultura do governo interino de Michel Temer, Marcelo Calero, e da atual presidenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Kátia Bogea, que, entre outras coisas, considerou o título como reconhecimento a uma "obra-prima do gênio criativo humano". Ironicamente, a obra, envolvida em uma das primeiras atividades do IPHAN desde que Michel Temer tomou o poder, é de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer que, tendo sido comunista e ateu, simboliza o oposto do perfil ideológico que guia o governo interino. Certamente, o saudoso arquiteto não se tornaria lembrado, apesar de suas admiráveis obras, de maneira positiva se depender de um dos projetos educac

RIO DE JANEIRO E SALVADOR INVERTEM POSIÇÃO

O COMPLEXO DO ALEMÃO É APENAS UM DOS SÍMBOLOS DA DECADÊNCIA DO RIO DE JANEIRO. Por Alexandre Figueiredo Até dez anos atrás, imaginava-se que Salvador permaneceria na sua situação de atraso social enquanto o Rio de Janeiro permaneceria, mesmo com seus defeitos, como um símbolo de civilidade e modernidade. Mas, nos últimos sete anos, o Rio de Janeiro sucumbiu a uma decadência tão grande que colocou a outrora Cidade Maravilhosa numa situação de inferioridade até em relação a Estados considerados atrasados, como os do Norte e Nordeste. E essa crise não é só econômica, como também não é só por causa da violência ou da corrupção política. É uma crise simbolizada até mesmo por fenômenos que muitos, por boa-fé, consideram "positivos", como o "funk carioca", a programação "roqueira" da Rádio Cidade e as empresas de ônibus ocultadas pela pintura padronizada, que por trás do oba-oba publicitário também revelam aspectos de profunda decadência. Diante desse

AS CONTRADIÇÕES ACERCA DO "FUNK"

MC BIEL, UM DOS EXEMPLOS DE ATITUDE MACHISTA DO "FUNK". Por Alexandre Figueiredo A chamada "cultura" brega-popularesca está em crise. Incidentes diversos envolvendo ídolos "populares" da música e, em parte, do comportamento, fazem com que a reputação deles estivesse em xeque. Por outro lado, mostra também a crise de uma intelectualidade apologista a esse "universo popular demais". A citação de um "funk proibidão" no episódio do estupro coletivo de uma adolescente em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, há cerca de um mês, e o caso do assédio do ídolo do "funk ostentação" MC Biel revelam um impasse deixado pelo "funk", que teve que assumir uma postura que seu discurso propagandista tanto insistiu em desmentir: o machismo. O "funk" demonstra dois graves equívocos: o discurso marqueteiro e a mania de ficar se explicando. Embora os funqueiros adotem uma postura triunfalista, há um certo ressentimento de se

"FUNK", ESTUPRO COLETIVO E ANÁLISE DISCURSIVA

Por Alexandre Figueiredo O episódio do estupro coletivo, ocorrido no dia 21 de maio último, na medida em que citou um sucesso do "funk" revelou também as contradições graves que um ritmo meramente comercial, mas com pretensiosismo de ser visto como "cultura séria", contraiu em seu discurso ideológico. No referido dia, no bairro Praça Seca, no entorno de Jacarepaguá, uma moça que iria visitar um namorado foi cercada por um grupo de homens e levada para uma casa, onde foi dopada e depois estuprada, durante uma orgia onde foi notada a presença de 33 homens. Eles gravaram um vídeo que, quatro dias depois, foi publicado e compartilhado nas mídias sociais. O crime repercutiu não apenas no Rio de Janeiro, como também no Brasil inteiro e no mundo. Até a atriz Emma Watson, usando palavras em português, repudiou o episódio. A atriz inglesa é conhecida pelo movimento feminista HeForShe, que se dedica a estimular os homens a se solidarizarem com as mulheres na luta con

"NOVO" MINISTÉRIO DA CULTURA CRIA ÓRGÃO PARALELO AO IPHAN

Por Alexandre Figueiredo Quando o assunto é o governo Michel Temer, toda medida tem um custo amargo a ser pago pelos brasileiros. O governo interino, que veio com o apetite não de uma gestão provisória, mas de um governo definitivo, já disse a que veio com uma agenda conservadora em vários aspectos. Esta semana, por exemplo, veio com o dado surreal do ator Alexandre Frota, que fez parte do elenco da novela Roque Santeiro , da Rede Globo, mas hoje segue carreira de segundo escalão, atuando em filmes pornográficos, se reunindo com o ministro da Educação, Mendonça Filho, para dar sugestões para o projeto educacional nas escolas públicas. Motivo de piadas na Internet, até pelo baixo carisma de Alexandre Frota associado a sua pouca, para não dizer nenhuma, especialização no setor e pelo seu caráter ideologicamente conservador - o ator é um entusiasta da política do PMDB-PSDB vigente, e estava acompanhado por Marcello Reis, um reacionário da Internet - , dá o tom do caráter tragicôm

A CRISE DA CULTURA E DO GOVERNO MICHEL TEMER

Por Alexandre Figueiredo Quando o presidente interino da República, Michel Temer, parecia acalmar os ânimos com a recriação do Ministério da Cultura, depois de tentar reafirmar que a Secretaria Nacional de Cultura, subordinada ao Ministério da Educação e Cultura, que chegou a ser recriado, iria fortalecer o setor, eis que nova e grave crise acontece, fora desse âmbito, atingindo o governo. Foi divulgada, hoje de manhã, uma gravação do ministro do Planejamento, Romero Jucá, revelando os bastidores do estranho processo de impeachment , que afastou a presidenta Dilma Rousseff através de suspeitas tão vagas de corrupção que não passaram de fofocas plantadas pelos oposicionistas para despertar a ira popular, orquestrada pela mídia associada, para tirá-la do Governo Federal. Nela, Romero, que horas depois se licenciou do cargo devido à má repercussão da divulgação da gravação, conversava com o ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado, na gravação anterior ao afastamento de Dilma, ac