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Mostrando postagens de 2022

QUE LEVOU O BRASIL A QUERER UMA "DEMOCRACIA QUALQUER NOTA"?

APOIADORES DE LULA FAZEM O "L" EM IPATINGA, MINAS GERAIS - O identitarismo festivo substituiu o ativismo trabalhista nas campanhas das esquerdas no Brasil. Por Alexandre Figueiredo A decadência do bolsonarismo, que acontece no Brasil, embora não deva ser superestimada, deve ser vista com cautela. Apesar disso, porém, há um clima de euforia a respeito de uma suposta mudança política, social e cultural que pouco tem a ver com o processo de mudança em si, mas da remoção apenas de uma aparente simbologia de raiva e contrariedade, que de forma generalizada está associada ao governo que se encerra, o do extremo-direitista Jair Bolsonaro. Isso porque Bolsonaro foi derrotado por Lula não por este ainda representar o antigo líder sindical que se tornou símbolo das esquerdas, mas por ele ter explorado as fraquezas emocionais dos brasileiros. Se Lula em 2002, mesmo se tornando uma novidade eleitoral ao vencer a campanha presidencial daquele ano, já não fez o tão imaginado "governo

O BRASIL ANIMADO DOS 30%

ESQUERDA IDENTITÁRIA MANIFESTA EM APOIO À CANDIDATURA PRESIDENCIAL DE LULA, NA PRAÇA DA SÉ, EM SÃO PAULO, EM 28 DE SETEMBRO ÚLTIMO. Por Alexandre Figueiredo Estamos longe de considerar o bolsonarismo como uma página virada na História do Brasil, uma vez que o cenário político e social do nosso país é bastante complexo e não é agora que vamos ter um caminho de prosperidade tranquilo e livre como se voasse em céu de brigadeiro. Culturalmente, o Brasil continua muito atrasado. Não serão os investimentos da cultura que melhorarão as coisas em si. Afinal, temos um quadro desigual em que as tendências brega-popularescas, ou seja, voltadas a expressões comerciais supostamente populares e herdeiras de uma linhagem iniciada com os primeiros ídolos cafonas dos anos 1960 e 1970, exercem influência dominante, com toda sua mediocridade cultural que, de tão difundida, faz acostumarem mal até mesmo pessoas que antes apreciavam expressões de qualidade artístico-cultural mais significativas. Afinal, di

O CULTURALISMO DA POSITIVIDADE TÓXICA DE HOJE

LULA DANÇA SARRADINHA COM ESTUDANTES EM SALVADOR - Clima de festa num Brasil em situação dramática. Por Alexandre Figueiredo A aparente decadência do bolsonarismo, com o suposto favoritismo de Lula na campanha presidencial, através de dados supostamente colhidos por pesquisas de intenção de voto, inaugura uma fase bastante inusitada no Brasil. O golpe político de 2016, que derrubou Dilma Rousseff, não acabou, mas seus principais idealizadores passaram a apoiar Lula sob o pretexto da "democracia". Apesar de, oficialmente, haver uma polarização representada por uma direita fascista e uma esquerda democrática, a verdadeira dualidade se situa entre a "raiva" e a "alegria", respectivamente simbolizadas por Jair Bolsonaro e Lula. Enquanto Bolsonaro busca a reeleição, Lula busca conquistar um terceiro mandato presidencial, numa campanha presidencial considerada difícil e bastante confusa. Os tempos atuais se contrapõem aos primeiros anos golpistas, sob a batuta d

OS "DONOS" DO GOSTO MUSICAL DOS BRASILEIROS

Por Alexandre Figueiredo Dizem que gosto não se discute. Mas torna-se estranha a prevalência, no gosto da maioria esmagadora dos brasileiros, de músicas de valor bastante duvidoso ou, se não for o caso, de um escasso repertório de músicas e intérpretes que, independente de serem bons ou não, são sempre vistos sob a referência do sucesso comercial ou de contextos bastante convencionais, como estar numa trilha sonora de novela da Rede Globo ou ser tema de um filme de sucesso no cinema estadunidense. Todavia, o que pouca gente sabe e boa parte dela não quer saber é que existem elites que regulam e determinam o que o brasileiro médio deve ouvir. Não se trata de um processo espontâneo como o ar que respiramos e toda a onda de gourmetizar o mainstream  ou mesmo o comercialismo tosco da música popularesca, vendendo tudo como falsa vanguarda, é também um processo muito calculado para atingir interesses comerciais estratégicos. Afinal, se existe hoje a moda de vender como "vanguarda"

O FALSO "VINTAGE" E O COMERCIALISMO TRAVESTIDO DE "VANGUARDA"

  RENSGA HITS - COM SÉRIE DO CANAL GLOBOPLAY, ATÉ O RECENTE FEMINEJO JÁ VIROU ARTIGO PRETENSAMENTE "VINTAGE". Por Alexandre Figueiredo Uma tendência que ocorre nos últimos anos é a mídia e o mercado do entretenimento no Brasil vender o comercialismo mainstream  em geral como se fosse falsa vanguarda. Não bastasse o pop comercial dos EUA dos últimos anos ser marcado por pretensas excentricidades de astros como Dua Lipa, Doja Cat, Nicky Minaj, Ke$ha, Kanye West, Post Malone e outros, até mesmo o hit-parade  mais tradicional agora é vendido como algo melhor do que realmente é, ou mesmo sendo bom, está sendo supervalorizado. Na carona disso tudo, temos o falso "vintage" brasileiro, um culturalismo que realimenta os sucessos comerciais como se fossem algo "sofisticado" ou "novidadeiro". Aqui não vamos detalhar sobre a música estrangeira aqui consumida, em que os mesmos sucessos do passado que se repetem nas rádios de pop adulto são supervalorizados me

AS NARRATIVAS QUE "DRIBLAM" A PROBLEMÁTICA DO CULTURALISMO VIRA-LATA

REGINA CASÉ É ACUSADA DE EXPLORAR O MITO DA "PERIFERIA LEGAL" EM PROGRAMAS DA REDE GLOBO. MAS ELA É SÓ A APRESENTADORA, EXISTE UMA EQUIPE POR TRÁS. Por Alexandre Figueiredo O chamado senso comum, pelo menos o que se considera dos setores mainstream  da opinião pública considerada "isenta" ou "progressista", tende a driblar as narrativas que problematizam o culturalismo vira-lata brasileiro, criando limites de abordagem para evitar a desqualificação de muitos fenômenos que atendem a interesses comerciais e financeiros estratégicos. Desde que uma geração de intelectuais passou a blindar a bregalização cultural, usando como desculpa o "combate ao preconceito" - tema explorado no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes...  - , há cerca de 20 anos, culturalismo vira-lata ou conservador teve que ter um contexto bastante limitado, que só se alargou conforme as conveniências do momento. Inicialmente, entendíamos como "degradação cultural" some

VERBAS ILÍCITAS PARA SHOWS "SERTANEJOS" SÃO O PREÇO CARO DO "COMBATE AO PRECONCEITO"

MUITAS PESSOAS ACREDITAM QUE BASTA INVESTIR DINHEIRO EM ÍDOLOS POPULARESCOS, COMO MC CRÉU (E), PARA ELE SE TRANSFORMAR NUM MÚSICO RENOMADO COMO TOM JOBIM. Por Alexandre Figueiredo A crise causada pelos escândalos de desvios de dinheiro público e investimentos abusivos em eventos com ídolos "sertanejos", como Gusttavo Lima e Zé Neto & Cristiano, mostra uma crise que não pode ser vista somente pelo viés econômico. Precisa ser vista, também, sob o âmbito cultural, pois revela um mercado dominado pela mediocrização cultural que atingiu níveis insustentáveis e absolutistas, transformando o Brasil num país da bregalização, empurrando o que há de melhor na diversidade musical para "bolhas sociais" que mal conseguem se comunicar com a sociedade. A polêmica começou quando Gusttavo Lima foi acusado de receber verbas de prefeituras de cidades do interior do país, que desviavam recursos para ações de interesse público para patrocinar o cantor em suas apresentações locais. S