ALCOOLISMO: UMA DAS CARATERÍSTICAS DA DEGRADAÇÃO CULTURAL VISTAS COMO "POSITIVAS" PELA INTELECTUALIDADE.
Por Alexandre Figueiredo
Há cerca de quinze anos, entrou em ascensão uma corrente de intelectuais dotados de muita visibilidade e prestígio. Composta de antropólogos, sociólogos, historiadores, atores, músicos, cineastas, jornalistas e produtores de eventos, foi um grupo que prevaleceu durante cerca de dez anos difundindo uma visão caricatural e estereotipada de "cultura popular".
A partir do livro Eu Não Sou Cachorro, Não, de Paulo César Araújo, considerada a "bíblia" do movimento, a geração de intelectuais que defendiam a bregalização cultural como paradigma da "cultura popular" combinou um apelo populista, um alto prestígio nos seus próprios meios sociais e uma visão financista trazida de uma orientação ideológica vinda da Teoria da Dependência, de Fernando Henrique Cardoso.
Tendo como alguns de seus ideólogos nomes como Paulo César, Pedro Alexandre Sanches, Hermano Vianna, Denise Garcia, Ronaldo Lemos, os baianos Milton Moura e Roberto Albergaria (este já falecido) e o mineiro Eugênio Arantes Raggi, eles funcionariam como uma espécie de IPES-IBAD em roupagem pós-tropicalista.
Essa intelectualidade se ascendeu ainda durante a crise do governo Fernando Henrique Cardoso. Ainda durante esse governo, Paulo César e Pedro Sanches lançaram seus primeiros livros. Eu Não Sou Cachorro, Não, sobre a música brega, e Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba, sobre a Tropicália.
Os dois livros foram lançados num contexto de uma abordagem da "cultura popular" submetida à chamada "cultura de massa". A grande mídia, principalmente a Rede Globo, reaproveitava a geração neo-brega (Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Zezé di Camargo & Luciano, Belo, Daniel e Leonardo) para uma nova cosmética visual e musical inserindo-os em duetos e tributos de MPB como forma de criar um vínculo artificial, mas de valor duvidoso, com os emepebistas mais famosos.
Costurando os livros de Paulo e de Pedro - a completar a "santíssima trindade" da intelectualidade pró-brega com Hermano Vianna, o propagandista do "funk" e outros ritmos trash supostamente regionais - , nota-se a herança da Jovem Guarda, sobretudo de Roberto Carlos, um cantor de indiscutível talento, mas articulador de um comercialismo musical que representou um grave risco para o patrimônio musical brasileiro acumulado por séculos.
Num esforço de combinar "vanguarda" (Tropicalismo) com "retaguarda" (brega), essa geração de intelectuais veio de uma tendência, surgida na década de 1990, que deixava de lado a contestação da indústria cultural, rompendo com uma linhagem trazida desde os tempos da "teoria hipodérmica" (teoria da manipulação de massas pela mídia) dos professores alemães da Escola de Frankfurt, exilados nos EUA por conta do nazismo.
Durante anos os interesses comerciais eram questionados como um sistema de dominação, persuasão e manipulação das massas, apenas evoluindo das análises simplórias da "teoria hipodérmica" - que ignorava que o público também tinha seus interesses e desejos próprios - até a análise dos mais sutis mecanismos de persuasão midiática.
De repente, no Brasil, surgiu, no âmbito não só da música popular mas também do comportamento e outras modalidades - o erotismo grosseiro das mulheres siliconadas, as telenovelas e os programas policialescos - , uma tendência a analisar a "cultura popular" de maneira meramente descritiva e apologética, evitando qualquer contestação de mérito sob a desculpa de "respeitar" formas de expressão, em tese, associadas às classes populares.
A ascensão dessa corrente intelectual dos anos 90, em paralelo a abordagens neoliberais trazidas por Fernando Henrique, já como presidente da República, se consolidou na década seguinte, mas, diante do "acidente de percurso" da vitória do Partido dos Trabalhadores com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, os intelectuais orgânicos dos anos 90 passaram a ter um pretenso vínculo com o esquerdismo, se aproveitando tão somente do termo "popular".
Denomina-se essa intelectualidade como "positivamente etnocêntrica" e se dá o apelido de "bacana" pelo apelo populista desses intelectuais, que, embora não dirigissem seus textos ao grande público, mas a outros intelectuais, se propagavam pelo forte apelo midiático e pela garantia de transformar o jabaculê radiofônico-televisivo do "popular demais" numa futura "etnografia", num possível "folclore" de amanhã.
No âmbito político, a derrota do PSDB pelo PT se deu pelas crises do segundo governo FHC, através do desmonte da Petrobras que, precarizando sua estrutura funcional, fez com que um acidente com a Plataforma P-36, na Bacia de Campos dos Goytacazes (RJ), em março de 2001, motivado pela sobrecarga no trabalho, matasse 11 funcionários.
A queda do nível de água das hidrelétricas provocou outra crise, a do racionamento de energia elétrica (apagão), por conta da imprudência do governo FHC em uma ação preventiva. Juntando isso à falta de carisma do candidato à sucessão pelo PSDB, o economista José Serra, a vitória do PT simbolizou o começo de uma trajetória interrompida bruscamente em 2016, com o impeachment que atingiu a presidenta Dilma Rousseff em seu segundo mandato.
Quanto ao suposto esquerdismo, a estratégia tomada por intelectuais "bacanas" seria uma forma tanto de fazer jus ao uso do termo "popular" quanto aos interesses estratégicos de obter, de governos petistas, verbas estatais - mesmo provenientes de doações estrangeiras, como as do magnata George Soros e de órgãos como a Fundação Ford - , ou talvez impedir o aprofundamento dos debates sobre a cultura das classes populares, até pelo vínculo original dos intelectuais com a mídia comercial.
VÍNCULO MIDIÁTICO
O vínculo midiático, nem sempre assumido, se observa quando o livro Eu Não Sou Cachorro, Não, de Paulo César Araújo, ganhou cartaz na grande mídia hegemônica. Além disso, é notória a formação midiática de nomes como Pedro Sanches (surgido na Folha de São Paulo e com passagens em O Estado de São Paulo e revista Época), Hermano Vianna (lançado na Editora Abril, através da Bizz, e hoje nas Organizações Globo) e Denise Gercia (ex-RBS, parceira sulista das Organizações Globo).
A "cultura popular" que tais intelectuais passaram a defender, em contraponto às críticas que a bregalização recebia nos anos 90 - como os "sertanejos" de mullets (cabelo com mechas caídas pelos ombros) "pagodeiros" que "só mexiam os pezinhos", a agressividade de Carlos "Ratinho" Massa e as assistentes de palco de Luciano Huck - , tem interesses comerciais estratégicos.
Afinal, é a "cultura" propagada por redes de rádio e TV e imprensa que foram beneficiadas politicamente durante o governo de José Sarney, nos anos 80, sob o apoio também do então ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães.
Foi através das concessões clientelistas da dupla Sarney/ACM que se "desenhou" o cenário que depois seria definido pelos intelectuais da bregalização como "cultura das periferias", se valendo, apesar do suposto esquerdismo, de um termo usado na Teoria da Dependência de FHC, "periferia", como a representação de uma parcela economicamente inferiorizada da humanidade.
Portanto, em que pese a roupagem sofisticada das narrativas desses intelectuais, o que eles defendiam não era exatamente o patrimônio cultural das classes populares, mas um repertório de valores simbólicos e paradigmas que correspondiam não a uma imagem real do povo pobre, mas uma forma ao mesmo tempo idealizada, paternalista e estereotipada, um recorte elitista trazido por intelectuais de classe média sobre o que eles consideravam ser o "povo pobre".
PRECONCEITOS "SEM PRECONCEITOS"
O que chama a atenção é que os intelectuais "bacanas" tomaram emprestado um jargão do vocabulário ativista, o "combate ao preconceito", popularizado pelos noticiários sobre o apartheid da África do Sul. Chegou-se a usar uma retórica de "ruptura com o apartheid cultural", como desculpa para fazer o conjunto de tendências da bregalização cultural, o brega-popularesco, chegar ao público de maior poder aquisitivo.
Para isso, tinha que ser usado um discurso engenhoso, dotado de técnicas sofisticadas de narrativa discursiva. Técnicas de abordagem histórico-social da Teoria das Mentalidades, narrativa romanceada de reportagens do Novo Jornalismo, inserções de caráter panfletário dos discursos do Tropicalismo e da militância de esquerda, até para vender os "sucessos do povão" com uma imagem falsamente libertária.
Apesar de todo o esforço para forçar a aceitação sob a alegação de "romper o preconceito", o que está em jogo não é, em verdade, a inserção de sucessos de gosto e valor duvidosos na antologia do patrimônio cultural brasileiro, embora, sociologicamente, ele se refere a um contexto cultural envolvendo classes populares, ainda que de maneira problemática e conflituosa.
Isso se justifica quando o que está em jogo é o consumismo e a consolidação de fenômenos comercialmente rentáveis e que trabalham uma imagem caricatural das classes populares, baseadas em um perfil inofensivo que não represente ameaça aos privilégios das elites detentoras do poder econômico. Pelo contrário, é um perfil de classes populares que se torna aceito por setores da alta burguesia, através de expressões que chegam ao consumo nas mansões e condomínios de luxo.
A ideologia brega-popularesca chega a idealizar um suposto paraíso das "periferias", uma forma idealizada da vida das classes populares, sob o recorte discursivo da intelectualidade associada. Uma visão que pode ser sintetizada a partir de várias fontes, como os textos sobre os primeiros ídolos cafonas a partir de Paulo César Araújo até o mito da "periferia legal" dos programas produzidos por Hermano Vianna e apresentados por Regina Casé, na Rede Globo de Televisão.
Selecionamos então uma síntese do que a intelectualidade "bacana" descrevia do "mundo encantado da periferia", criando uma paisagem e uma etnografia de consumo na qual o povo pobre era trabalhado como se fosse uma "sociedade feliz" e que buscava uma "ascensão social" sem romper o vínculo com as qualidades socialmente inferiores a que estava associada pelo sistema de valores dominantes.
1) UFANISMO DAS FAVELAS - Contrariando as abordagens sociológicas que, desde meados dos anos 1950, chamavam a atenção para o problema das construções irregulares nos morros, encostas e outras áreas suburbanas, o "ufanismo das favelas" revelava um cenário que misturava Disneylândia com a glamourização do subdesenvolvimento, criando uma paisagem de consumo feita para o turismo etnográfico voltado à lucratividade de empresários e autoridades envolvidos.
2) ORGULHO DE SER POBRE - Visão romantizada das classes pobres, numa caricatura maior do que a que se via, por exemplo, mas chanchadas dos anos 1950. É, portanto, o princípio maior do "pobrismo", o "orgulho de ser pobre", que complementa o "ufanismo das favelas" na suposta autoafirmação das "periferias".
Esse "orgulho" era uma utopia trazida pela elite intelectual na qual se supunha uma possibilidade do povo pobre se emancipar economicamente, com relativos benefícios institucionais e políticos, sem deixar de lado os aspectos interiorizados e grosseiros da vida na pobreza, criando, assim, uma "pobreza com mais dinheiro".
3) "CRIATIVIDADE" DO SUBEMPREGO - O mito do "trabalho informal" como "criatividade" do povo pobre já desmascarava o falso esquerdismo dos intelectuais da bregalização, diante da apologia à informalidade do trabalho através da citação do comércio ambulante ou de camelôs que vendiam produtos clandestinos, pirateados ou usados (produtos que seus consumidores originais julgavam obsoletos).
Tudo se deixou passar por causa do mito atraente da "pobreza legal", mas a glamourização do brega revelava aspectos que lembram mais o projeto da reforma trabalhista do governo Michel Temer: trabalho precarizado, mal remunerado e improvisado, que mal conseguia dar sustento seguro às classes populares.
4) MELTING POP - Os intelectuais da bregalização que tentavam se inserir no contexto progressista se esqueceram que estavam evocando o mito do melting pop, "pop misturado", trazido por um Nelson Motta que se integrava com gosto ao grupo conservador Instituto Millenium.
A ideia de misturar pop estrangeiro com bairrismo interiorano criava não uma "cultura libertária" mas um conflito de identidade em que as classes pobres desejavam produtos de elite e referenciais estrangeiros, mas sob o prisma provinciano do interiorano desinformado que é o último a saber sobre as novidades do mundo.
5) PIRATARIA - A ideia de "pirataria" sugere imitação, máscara, sugerindo não mais a afirmação da identidade social do povo pobre, mas o falseamento de uma identidade que não é a sua, mas trazida por referenciais estrangeiros difundidos "de cima", através do poder midiático de rádios "populares", controladas por oligarquias nacionais e, sobretudo, regionais.
A "pirataria" chegou a ser trabalhada como "libertária" através do discurso do pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Ronaldo Lemos, sobre o tecnobrega do Pará. O discurso também foi endossado por Pedro Alexandre Sanches e fazia reduzir a ideia da "cultura popular" a um processo de cópia de modismos estrangeiros, muitas vezes já obsoletos em seus lugares de origem.
No brega de raiz, era uma tradução do método do primeiro ministro do Planejamento da ditadura militar, Roberto Campos, de desenvolvimento subordinado da economia brasileira: uso de matéria-prima de fora, obsoleta, para impulsionar o processo. No brega, usava-se a matéria-prima obsoleta (modismo estrangeiro recém-extinto ou já em declínio) para "desenvolver" a "cultura brasileira".
6) INSTITUIÇÃO DA PROSTITUIÇÃO - O discurso dos intelectuais da bregalização que mais foi empurrado para as forças progressistas, nesse pacote de "glamourização da pobreza", está o de defender a prostituição como uma "instituição".
O problema é que, confundindo o ato de defender prostitutas com o de defender a prostituição, se impede as mulheres pobres envolvidas de buscar novos ofícios para melhoria de vida, já que a prostituição é uma situação degradante e está sujeita ao arbítrio abusivo e à violência machistas.
A glamourização do trabalho das prostitutas, que chegou a ter "sindicato" e "rádio comunitária" (com repertório de música brega), era feito para fins de consumismo, complementando a paisagem de consumo das favelas e o turismo etnográfico que enriquece políticos e empresários.
7) DIVERSÃO NO ALCOOLISMO - A glamourização dos botequins de subúrbios é outro aspecto que a intelectualidade pró-brega queria empurrar como um dos paradigmas da espetacularização da pobreza. A ideia de ver pessoas encerrando a vida pelo alcoolismo era vista de maneira "positiva", sobretudo através da imagem idealizada da bebida alcoólica como "consoladora" dos problemas amorosos.
Essa imagem idealizada começou nos primeiros ídolos cafonas e até no "sertanejo" dos anos 90, mas recentemente entrou na pauta de canções de "forró eletrônico", axé-music e "sertanejo universitário". Embora fosse visto pelo discurso intelectual como uma "diversão sem compromissos", o objetivo dessa retórica é garantir as vendas de bebidas alcoólicas dos grandes fabricantes que patrocinam tais eventos.
8) INICIAÇÃO SEXUAL DAS ADOLESCENTES POBRES - Esse ponto de vista, pasmem, existiu e prevaleceu sobretudo no discurso do cenário "pagodeiro" baiano pós-É O Tchan e no discurso "etnográfico" do "funk carioca".
A ideia da hipersexualização das adolescentes (menores de idade) sob o eufemismo de "iniciação sexual" parecia um discurso etnográfico de visão objetiva e abordagem científica, mas era, na verdade, uma sutil apologia à pedofilia, considerada crime pela lei. Era a aplicação antropológica do ditado "pimenta nos olhos dos outros é refresco", ou "baixaria na vida dos pobres é cidadania".
9) PRETEXTO DA "INTUIÇÃO POPULAR" - A mediocrização que simboliza a bregalização cultural, de cantores e músicos medíocres e precarização da expressão musical, era creditada pelo discurso intelectual como "intuição popular". "É o que o povo pobre sabe fazer", disse a professora da UFBA, Malu Fontes, no jornal A Tarde, em 2008, expressando um certo etnocentrismo.
Polarizando a sofisticação da música brasileira - como se não tivesse havido Cartola, Jackson do Pandeiro e Pixinguinha vindos das classes pobres e a boa música popular só fosse obra de bossanovistas e pesquisadores universitários dos anos 60 e 70 - com a "música popular demais", criava-se a associação das classes populares à precarização musical, como se ela não tivesse sido responsável pelo rico patrimônio acumulado pelos séculos.
10) "AUTOSSUFICIÊNCIA DAS PERIFERIAS" - As alegações de "mercado independente", "cultura alternativa" e "autossuficiência cultural" são falsos, porque o "popular demais" da música brega-popularesca envolve esquemas mercadológicos tão perversos quanto os das gravadoras multinacionais.
Além disso, o mito de "autossuficiência cultural" apenas esconde uma relação hierarquizada dos empresários de entretenimento, associados ao poder midiático, sobretudo regional, o que nem de longe demonstra a emancipação cultural das classes populares que, neste contexto, é manipulada por um jogo de interesses em que o consumismo está acima da cidadania.
CONCLUSÃO
A partir desses preconceitos expressos pelo discurso do suposto combate ao preconceito, as classes populares também ganham formas pejorativas de abordagem, mas positivamente veiculadas pela retórica intelectual na sua campanha pelo "pobrismo", pela ideologia da "pobreza legal".
É a imagem da solteira excessivamente erotizada das mulheres siliconadas ou das funqueiras, ou a imagem abobalhada do negro tarado pelo "pagodão" baiano. Ou a imagem do "caubói" de shopping center do "sertanejo universitário" ou o coitadismo do brega romântico dos primórdios da cafonice dos anos 60 e 70. Ou a confusa atribuição da imprensa policialesca ora como "pasquins humorísticos", ora como "jornalismo investigativo".
A reboque de tudo isso, as classes populares acabam sendo associadas à ignorância, a mediocrização, ao apego a valores retrógrados - como o machismo, no "funk carioca" - e grosseiros. Positivar tudo isso e dar ao brega-popularesco uma imagem de "libertário" é uma forma de botar os problemas sociais debaixo do tapete e fazer o mercado faturar às custas da degradação cultural.
Durante anos essa visão prevaleceu e a influência de intelectuais da bregalização cultural foi um dos fatores que permitiram a derrubada brusca do governo Dilma Rousseff, na medida em que a bregalização, com sua simbologia do "pobrismo", enfraqueceu o povo pobre e o deixou à margem do debate público, se ocupando na suposta autoafirmação através da degradação cultural.
FONTES: O Globo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, O Dia, Caros Amigos, Carta Capital, Revista Fórum.
Por Alexandre Figueiredo
Há cerca de quinze anos, entrou em ascensão uma corrente de intelectuais dotados de muita visibilidade e prestígio. Composta de antropólogos, sociólogos, historiadores, atores, músicos, cineastas, jornalistas e produtores de eventos, foi um grupo que prevaleceu durante cerca de dez anos difundindo uma visão caricatural e estereotipada de "cultura popular".
A partir do livro Eu Não Sou Cachorro, Não, de Paulo César Araújo, considerada a "bíblia" do movimento, a geração de intelectuais que defendiam a bregalização cultural como paradigma da "cultura popular" combinou um apelo populista, um alto prestígio nos seus próprios meios sociais e uma visão financista trazida de uma orientação ideológica vinda da Teoria da Dependência, de Fernando Henrique Cardoso.
Tendo como alguns de seus ideólogos nomes como Paulo César, Pedro Alexandre Sanches, Hermano Vianna, Denise Garcia, Ronaldo Lemos, os baianos Milton Moura e Roberto Albergaria (este já falecido) e o mineiro Eugênio Arantes Raggi, eles funcionariam como uma espécie de IPES-IBAD em roupagem pós-tropicalista.
Essa intelectualidade se ascendeu ainda durante a crise do governo Fernando Henrique Cardoso. Ainda durante esse governo, Paulo César e Pedro Sanches lançaram seus primeiros livros. Eu Não Sou Cachorro, Não, sobre a música brega, e Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba, sobre a Tropicália.
Os dois livros foram lançados num contexto de uma abordagem da "cultura popular" submetida à chamada "cultura de massa". A grande mídia, principalmente a Rede Globo, reaproveitava a geração neo-brega (Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Zezé di Camargo & Luciano, Belo, Daniel e Leonardo) para uma nova cosmética visual e musical inserindo-os em duetos e tributos de MPB como forma de criar um vínculo artificial, mas de valor duvidoso, com os emepebistas mais famosos.
Costurando os livros de Paulo e de Pedro - a completar a "santíssima trindade" da intelectualidade pró-brega com Hermano Vianna, o propagandista do "funk" e outros ritmos trash supostamente regionais - , nota-se a herança da Jovem Guarda, sobretudo de Roberto Carlos, um cantor de indiscutível talento, mas articulador de um comercialismo musical que representou um grave risco para o patrimônio musical brasileiro acumulado por séculos.
Num esforço de combinar "vanguarda" (Tropicalismo) com "retaguarda" (brega), essa geração de intelectuais veio de uma tendência, surgida na década de 1990, que deixava de lado a contestação da indústria cultural, rompendo com uma linhagem trazida desde os tempos da "teoria hipodérmica" (teoria da manipulação de massas pela mídia) dos professores alemães da Escola de Frankfurt, exilados nos EUA por conta do nazismo.
Durante anos os interesses comerciais eram questionados como um sistema de dominação, persuasão e manipulação das massas, apenas evoluindo das análises simplórias da "teoria hipodérmica" - que ignorava que o público também tinha seus interesses e desejos próprios - até a análise dos mais sutis mecanismos de persuasão midiática.
De repente, no Brasil, surgiu, no âmbito não só da música popular mas também do comportamento e outras modalidades - o erotismo grosseiro das mulheres siliconadas, as telenovelas e os programas policialescos - , uma tendência a analisar a "cultura popular" de maneira meramente descritiva e apologética, evitando qualquer contestação de mérito sob a desculpa de "respeitar" formas de expressão, em tese, associadas às classes populares.
A ascensão dessa corrente intelectual dos anos 90, em paralelo a abordagens neoliberais trazidas por Fernando Henrique, já como presidente da República, se consolidou na década seguinte, mas, diante do "acidente de percurso" da vitória do Partido dos Trabalhadores com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, os intelectuais orgânicos dos anos 90 passaram a ter um pretenso vínculo com o esquerdismo, se aproveitando tão somente do termo "popular".
Denomina-se essa intelectualidade como "positivamente etnocêntrica" e se dá o apelido de "bacana" pelo apelo populista desses intelectuais, que, embora não dirigissem seus textos ao grande público, mas a outros intelectuais, se propagavam pelo forte apelo midiático e pela garantia de transformar o jabaculê radiofônico-televisivo do "popular demais" numa futura "etnografia", num possível "folclore" de amanhã.
No âmbito político, a derrota do PSDB pelo PT se deu pelas crises do segundo governo FHC, através do desmonte da Petrobras que, precarizando sua estrutura funcional, fez com que um acidente com a Plataforma P-36, na Bacia de Campos dos Goytacazes (RJ), em março de 2001, motivado pela sobrecarga no trabalho, matasse 11 funcionários.
A queda do nível de água das hidrelétricas provocou outra crise, a do racionamento de energia elétrica (apagão), por conta da imprudência do governo FHC em uma ação preventiva. Juntando isso à falta de carisma do candidato à sucessão pelo PSDB, o economista José Serra, a vitória do PT simbolizou o começo de uma trajetória interrompida bruscamente em 2016, com o impeachment que atingiu a presidenta Dilma Rousseff em seu segundo mandato.
Quanto ao suposto esquerdismo, a estratégia tomada por intelectuais "bacanas" seria uma forma tanto de fazer jus ao uso do termo "popular" quanto aos interesses estratégicos de obter, de governos petistas, verbas estatais - mesmo provenientes de doações estrangeiras, como as do magnata George Soros e de órgãos como a Fundação Ford - , ou talvez impedir o aprofundamento dos debates sobre a cultura das classes populares, até pelo vínculo original dos intelectuais com a mídia comercial.
VÍNCULO MIDIÁTICO
O vínculo midiático, nem sempre assumido, se observa quando o livro Eu Não Sou Cachorro, Não, de Paulo César Araújo, ganhou cartaz na grande mídia hegemônica. Além disso, é notória a formação midiática de nomes como Pedro Sanches (surgido na Folha de São Paulo e com passagens em O Estado de São Paulo e revista Época), Hermano Vianna (lançado na Editora Abril, através da Bizz, e hoje nas Organizações Globo) e Denise Gercia (ex-RBS, parceira sulista das Organizações Globo).
A "cultura popular" que tais intelectuais passaram a defender, em contraponto às críticas que a bregalização recebia nos anos 90 - como os "sertanejos" de mullets (cabelo com mechas caídas pelos ombros) "pagodeiros" que "só mexiam os pezinhos", a agressividade de Carlos "Ratinho" Massa e as assistentes de palco de Luciano Huck - , tem interesses comerciais estratégicos.
Afinal, é a "cultura" propagada por redes de rádio e TV e imprensa que foram beneficiadas politicamente durante o governo de José Sarney, nos anos 80, sob o apoio também do então ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães.
Foi através das concessões clientelistas da dupla Sarney/ACM que se "desenhou" o cenário que depois seria definido pelos intelectuais da bregalização como "cultura das periferias", se valendo, apesar do suposto esquerdismo, de um termo usado na Teoria da Dependência de FHC, "periferia", como a representação de uma parcela economicamente inferiorizada da humanidade.
Portanto, em que pese a roupagem sofisticada das narrativas desses intelectuais, o que eles defendiam não era exatamente o patrimônio cultural das classes populares, mas um repertório de valores simbólicos e paradigmas que correspondiam não a uma imagem real do povo pobre, mas uma forma ao mesmo tempo idealizada, paternalista e estereotipada, um recorte elitista trazido por intelectuais de classe média sobre o que eles consideravam ser o "povo pobre".
PRECONCEITOS "SEM PRECONCEITOS"
O que chama a atenção é que os intelectuais "bacanas" tomaram emprestado um jargão do vocabulário ativista, o "combate ao preconceito", popularizado pelos noticiários sobre o apartheid da África do Sul. Chegou-se a usar uma retórica de "ruptura com o apartheid cultural", como desculpa para fazer o conjunto de tendências da bregalização cultural, o brega-popularesco, chegar ao público de maior poder aquisitivo.
Para isso, tinha que ser usado um discurso engenhoso, dotado de técnicas sofisticadas de narrativa discursiva. Técnicas de abordagem histórico-social da Teoria das Mentalidades, narrativa romanceada de reportagens do Novo Jornalismo, inserções de caráter panfletário dos discursos do Tropicalismo e da militância de esquerda, até para vender os "sucessos do povão" com uma imagem falsamente libertária.
Apesar de todo o esforço para forçar a aceitação sob a alegação de "romper o preconceito", o que está em jogo não é, em verdade, a inserção de sucessos de gosto e valor duvidosos na antologia do patrimônio cultural brasileiro, embora, sociologicamente, ele se refere a um contexto cultural envolvendo classes populares, ainda que de maneira problemática e conflituosa.
Isso se justifica quando o que está em jogo é o consumismo e a consolidação de fenômenos comercialmente rentáveis e que trabalham uma imagem caricatural das classes populares, baseadas em um perfil inofensivo que não represente ameaça aos privilégios das elites detentoras do poder econômico. Pelo contrário, é um perfil de classes populares que se torna aceito por setores da alta burguesia, através de expressões que chegam ao consumo nas mansões e condomínios de luxo.
A ideologia brega-popularesca chega a idealizar um suposto paraíso das "periferias", uma forma idealizada da vida das classes populares, sob o recorte discursivo da intelectualidade associada. Uma visão que pode ser sintetizada a partir de várias fontes, como os textos sobre os primeiros ídolos cafonas a partir de Paulo César Araújo até o mito da "periferia legal" dos programas produzidos por Hermano Vianna e apresentados por Regina Casé, na Rede Globo de Televisão.
Selecionamos então uma síntese do que a intelectualidade "bacana" descrevia do "mundo encantado da periferia", criando uma paisagem e uma etnografia de consumo na qual o povo pobre era trabalhado como se fosse uma "sociedade feliz" e que buscava uma "ascensão social" sem romper o vínculo com as qualidades socialmente inferiores a que estava associada pelo sistema de valores dominantes.
1) UFANISMO DAS FAVELAS - Contrariando as abordagens sociológicas que, desde meados dos anos 1950, chamavam a atenção para o problema das construções irregulares nos morros, encostas e outras áreas suburbanas, o "ufanismo das favelas" revelava um cenário que misturava Disneylândia com a glamourização do subdesenvolvimento, criando uma paisagem de consumo feita para o turismo etnográfico voltado à lucratividade de empresários e autoridades envolvidos.
2) ORGULHO DE SER POBRE - Visão romantizada das classes pobres, numa caricatura maior do que a que se via, por exemplo, mas chanchadas dos anos 1950. É, portanto, o princípio maior do "pobrismo", o "orgulho de ser pobre", que complementa o "ufanismo das favelas" na suposta autoafirmação das "periferias".
Esse "orgulho" era uma utopia trazida pela elite intelectual na qual se supunha uma possibilidade do povo pobre se emancipar economicamente, com relativos benefícios institucionais e políticos, sem deixar de lado os aspectos interiorizados e grosseiros da vida na pobreza, criando, assim, uma "pobreza com mais dinheiro".
3) "CRIATIVIDADE" DO SUBEMPREGO - O mito do "trabalho informal" como "criatividade" do povo pobre já desmascarava o falso esquerdismo dos intelectuais da bregalização, diante da apologia à informalidade do trabalho através da citação do comércio ambulante ou de camelôs que vendiam produtos clandestinos, pirateados ou usados (produtos que seus consumidores originais julgavam obsoletos).
Tudo se deixou passar por causa do mito atraente da "pobreza legal", mas a glamourização do brega revelava aspectos que lembram mais o projeto da reforma trabalhista do governo Michel Temer: trabalho precarizado, mal remunerado e improvisado, que mal conseguia dar sustento seguro às classes populares.
4) MELTING POP - Os intelectuais da bregalização que tentavam se inserir no contexto progressista se esqueceram que estavam evocando o mito do melting pop, "pop misturado", trazido por um Nelson Motta que se integrava com gosto ao grupo conservador Instituto Millenium.
A ideia de misturar pop estrangeiro com bairrismo interiorano criava não uma "cultura libertária" mas um conflito de identidade em que as classes pobres desejavam produtos de elite e referenciais estrangeiros, mas sob o prisma provinciano do interiorano desinformado que é o último a saber sobre as novidades do mundo.
5) PIRATARIA - A ideia de "pirataria" sugere imitação, máscara, sugerindo não mais a afirmação da identidade social do povo pobre, mas o falseamento de uma identidade que não é a sua, mas trazida por referenciais estrangeiros difundidos "de cima", através do poder midiático de rádios "populares", controladas por oligarquias nacionais e, sobretudo, regionais.
A "pirataria" chegou a ser trabalhada como "libertária" através do discurso do pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, Ronaldo Lemos, sobre o tecnobrega do Pará. O discurso também foi endossado por Pedro Alexandre Sanches e fazia reduzir a ideia da "cultura popular" a um processo de cópia de modismos estrangeiros, muitas vezes já obsoletos em seus lugares de origem.
No brega de raiz, era uma tradução do método do primeiro ministro do Planejamento da ditadura militar, Roberto Campos, de desenvolvimento subordinado da economia brasileira: uso de matéria-prima de fora, obsoleta, para impulsionar o processo. No brega, usava-se a matéria-prima obsoleta (modismo estrangeiro recém-extinto ou já em declínio) para "desenvolver" a "cultura brasileira".
6) INSTITUIÇÃO DA PROSTITUIÇÃO - O discurso dos intelectuais da bregalização que mais foi empurrado para as forças progressistas, nesse pacote de "glamourização da pobreza", está o de defender a prostituição como uma "instituição".
O problema é que, confundindo o ato de defender prostitutas com o de defender a prostituição, se impede as mulheres pobres envolvidas de buscar novos ofícios para melhoria de vida, já que a prostituição é uma situação degradante e está sujeita ao arbítrio abusivo e à violência machistas.
A glamourização do trabalho das prostitutas, que chegou a ter "sindicato" e "rádio comunitária" (com repertório de música brega), era feito para fins de consumismo, complementando a paisagem de consumo das favelas e o turismo etnográfico que enriquece políticos e empresários.
7) DIVERSÃO NO ALCOOLISMO - A glamourização dos botequins de subúrbios é outro aspecto que a intelectualidade pró-brega queria empurrar como um dos paradigmas da espetacularização da pobreza. A ideia de ver pessoas encerrando a vida pelo alcoolismo era vista de maneira "positiva", sobretudo através da imagem idealizada da bebida alcoólica como "consoladora" dos problemas amorosos.
Essa imagem idealizada começou nos primeiros ídolos cafonas e até no "sertanejo" dos anos 90, mas recentemente entrou na pauta de canções de "forró eletrônico", axé-music e "sertanejo universitário". Embora fosse visto pelo discurso intelectual como uma "diversão sem compromissos", o objetivo dessa retórica é garantir as vendas de bebidas alcoólicas dos grandes fabricantes que patrocinam tais eventos.
8) INICIAÇÃO SEXUAL DAS ADOLESCENTES POBRES - Esse ponto de vista, pasmem, existiu e prevaleceu sobretudo no discurso do cenário "pagodeiro" baiano pós-É O Tchan e no discurso "etnográfico" do "funk carioca".
A ideia da hipersexualização das adolescentes (menores de idade) sob o eufemismo de "iniciação sexual" parecia um discurso etnográfico de visão objetiva e abordagem científica, mas era, na verdade, uma sutil apologia à pedofilia, considerada crime pela lei. Era a aplicação antropológica do ditado "pimenta nos olhos dos outros é refresco", ou "baixaria na vida dos pobres é cidadania".
9) PRETEXTO DA "INTUIÇÃO POPULAR" - A mediocrização que simboliza a bregalização cultural, de cantores e músicos medíocres e precarização da expressão musical, era creditada pelo discurso intelectual como "intuição popular". "É o que o povo pobre sabe fazer", disse a professora da UFBA, Malu Fontes, no jornal A Tarde, em 2008, expressando um certo etnocentrismo.
Polarizando a sofisticação da música brasileira - como se não tivesse havido Cartola, Jackson do Pandeiro e Pixinguinha vindos das classes pobres e a boa música popular só fosse obra de bossanovistas e pesquisadores universitários dos anos 60 e 70 - com a "música popular demais", criava-se a associação das classes populares à precarização musical, como se ela não tivesse sido responsável pelo rico patrimônio acumulado pelos séculos.
10) "AUTOSSUFICIÊNCIA DAS PERIFERIAS" - As alegações de "mercado independente", "cultura alternativa" e "autossuficiência cultural" são falsos, porque o "popular demais" da música brega-popularesca envolve esquemas mercadológicos tão perversos quanto os das gravadoras multinacionais.
Além disso, o mito de "autossuficiência cultural" apenas esconde uma relação hierarquizada dos empresários de entretenimento, associados ao poder midiático, sobretudo regional, o que nem de longe demonstra a emancipação cultural das classes populares que, neste contexto, é manipulada por um jogo de interesses em que o consumismo está acima da cidadania.
CONCLUSÃO
A partir desses preconceitos expressos pelo discurso do suposto combate ao preconceito, as classes populares também ganham formas pejorativas de abordagem, mas positivamente veiculadas pela retórica intelectual na sua campanha pelo "pobrismo", pela ideologia da "pobreza legal".
É a imagem da solteira excessivamente erotizada das mulheres siliconadas ou das funqueiras, ou a imagem abobalhada do negro tarado pelo "pagodão" baiano. Ou a imagem do "caubói" de shopping center do "sertanejo universitário" ou o coitadismo do brega romântico dos primórdios da cafonice dos anos 60 e 70. Ou a confusa atribuição da imprensa policialesca ora como "pasquins humorísticos", ora como "jornalismo investigativo".
A reboque de tudo isso, as classes populares acabam sendo associadas à ignorância, a mediocrização, ao apego a valores retrógrados - como o machismo, no "funk carioca" - e grosseiros. Positivar tudo isso e dar ao brega-popularesco uma imagem de "libertário" é uma forma de botar os problemas sociais debaixo do tapete e fazer o mercado faturar às custas da degradação cultural.
Durante anos essa visão prevaleceu e a influência de intelectuais da bregalização cultural foi um dos fatores que permitiram a derrubada brusca do governo Dilma Rousseff, na medida em que a bregalização, com sua simbologia do "pobrismo", enfraqueceu o povo pobre e o deixou à margem do debate público, se ocupando na suposta autoafirmação através da degradação cultural.
FONTES: O Globo, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, O Dia, Caros Amigos, Carta Capital, Revista Fórum.
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