Por Alexandre Figueiredo
Há um grande empenho dos movimentos sociais, das populações indígenas e dos advogados e juristas solidários em manter a Aldeia Maracanã, área adjunta ao Estádio Mário Filho, o Maracanã, que está incluída entre as diversas construções ameaçadas de demolição pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e pela Prefeitura da capital fluminense.
Estão ameaçados de desaparecer o Estádio de Atletismo Célio de Barros (pista de atletismo nacional), Parque Aquático Júlio de Lamare (conhecido como “Delamare”, dotado de três piscinas olímpicas de padrão mundial), Colégio Municipal Friedenreich (escola considerada de alto conceito educacional), além da área do antigo Museu do Índio e seu entorno, hoje ocupado por tribos indígenas.
A área a ser demolida já tem orçamento e empresa definidos para as obras que, além de ampliarem a saída de torcedores do estádio, incluirão um estacionamento e um centro comercial, está causando protestos na sociedade, uma vez que importantes espaços para a educação, para o esporte comunitário e para a cultura indígena correm o risco de desaparecerem em nome do entretenimento.
Este é um aspecto negativo da utopia de entretenimento e prosperidade econômica do Governo Federal, que criam uma ilusão de que basta a viabilidade econômica para a garantia do progresso social e da preservação do interesse público.
Episódios como o da Aldeia Maracanã mostram que essa visão centralizadora da perspectiva econômica, a de que o lucro e os investimentos em si garantem o progresso da sociedade, é equivocada. A viabilidade econômica é apenas um detalhe, mas os arbítrios que estão por trás de certos projetos chegam a desmentir esse verniz "progressista" de medidas que se demonstram autoritárias e elitistas.
No último dia 21, índios da Aldeia Maracanã se reuniram com técnicos do IPHAN, na sede da 6ª Superintendência Regional, no Rio de Janeiro, no esforço de evitar a demolição do antigo Museu do Índio. Presente na reunião, a arquiteta Lia Motta acredita que a presidenta do instituto, Jurema Machado, é sensível à questão e poderá se posicionar a favor dos índios.
Os representantes das tribos que ocupam o entorno do antigo Museu do Índio, desativado em 1979, apresentaram propostas que envolvem um centro de memória indígena a ser implantado no antigo prédio do museu. Além disso, os índios tentam obter um documento de doação do terreno de 1865, necessário como prova para o impedimento da demolição.
Trata-se de um documento de doação da área feito naquele ano, no tempo do Segundo Império, para a realização de pesquisas indígenas. A área, que incluía um antigo casarão que veio a ser o prédio do antigo Museu do Índio, foi doada por iniciativa do Duque de Saxe, genro do imperador D. Pedro II.
O IPHAN terá que dar o seu parecer oficial até a próxima sexta-feira, dia 25, quando expira o prazo que o Governo Federal tem para se posicionar sobre o projeto de demolição da área do antigo Museu do Índio. O IPHAN encaminhará para a presidenta Dilma Rousseff um ofício sobre a reunião com os índios no último dia 21 e os argumentos para o Governo Federal evitar a destruição do lugar.
Advogados, juristas, historiadores, arquitetos, antropólogos e defensores, entre outros, estão empenhados em buscar subsídios e medidas legais para evitar a derrubada da área. Por outro lado, o governador fluminense Sérgio Cabral Filho e o prefeito carioca Eduardo Paes têm ao seu lado tecnocratas, empresários e políticos que querem a derrubada dos prédios envolvidos.
Interesses comerciais, políticos e turísticos andam, dessa forma, agindo de forma arbitrária, usando como pretexto um "interesse público" que não existe na realidade. Afinal, o verdadeiro interesse público não é aquele proveniente do paternalismo dos escritórios tecnocráticos, mas da vontade das ruas e dos diversos segmentos da sociedade.
Desrespeitar as populações indígenas, de tribos remanescentes daquelas que existiam em nosso país e que eram as primeiras formadoras da cultura brasileira, é desrespeitar o interesse público que nenhum discurso de palanque ou de escritório consegue defender. Por isso mesmo, os movimentos sociais se esforçam das mais diversas formas para preservação da Aldeia Maracanã, inclusive o IPHAN.
FONTES: JB On Line, Agência Carta Maior.
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