Por Alexandre Figueiredo
Numa época em que as gerações mais recentes desconhecem o que é a verdadeira cultura - a "cultura" que eles conhecem só é aquela imposta pela grande mídia - , quando ocorre alguma tragédia, a situação fica ainda mais preocupante.
Na noite de ontem (13/08/2012), aconteceu um incêndio na casa do colecionador de arte Jean Boghici, em Copacabana. Havia muitas obras de arte no local, incluindo quadros de Di Cavalcanti - como Samba (foto), de 1925 - , Tarsila do Amaral e até Carlos Vergara (que continua vivo e ativo).
Até agora não se sabe oficialmente o tamanho do prejuízo causado, mas o incêndio obrigou os moradores do prédio, localizado nos arredores da Rua Barata Ribeiro.
Segundo um morador, o incêndio teria começado no quarto. Vários documentos e quadros teriam sido atingidos. Não houve feridos nem vítimas fatais, mas os familiares do colecionador tiveram que sair imediatamente do prédio.
Em 2009, um incêndio atingiu outro apartamento no Leblon, e um casal de idosos perdeu uma outra coleção de obras de arte. Houve também, no mesmo ano, um incêndio que atingiu parte do acervo de Hélio Oiticica, no Jardim Botânico, também na Zona Sul do Rio. A coleção de Boghici iria ser exposta num evento que aconteceria no primeiro trimestre de 2013, no Museu de Arte do Rio. A citada obra de Di Cavalcanti seria uma das atrações do evento.
Deveríamos pensar o Brasil e seu patrimônio cultural. Medidas para proteger e guardar bens culturais, para difundi-los, para mostrarmos à sociedade, porque eles contam um pouco do que é nosso país, a relação dos brasileiros com o mundo em que vivem, a relação das gerações, dos fatos, dos valores, crenças etc.
Fica muito fácil defender a "cultura de massa" como se fosse "nossa verdadeira cultura", mas ela é muito duvidosa e supérflua em relação à missão de produzir conhecimento e valores sociais. O que a "cultura de massa" produz é apenas consumo, mercadoria. Parece "cultura", mas ela aparece como o "sabor artificial" dos enlatados culturais consumidos sobretudo pelos jovens.
Já a verdadeira cultura, viva, orgânica, verdadeiramente social, ela está em risco. Na semana passada, faleceram Celso Blues Boy e Magro (músico do MPB-4). Temos perdas humanas, danos materiais, mas, acima de tudo, um grande desprezo pela cultura de verdade.
"Cultura de verdade é o que o rádio toca, é o que aparece na TV", dizem muitos. Não é verdade. O que o pessoal pensa ser "cultura", é tão somente o engodo de entretenimento que consome, por decisão de executivos de rádio, de TV e da imprensa "popular".
O problema será o futuro da cultura brasileira, que, mais do que o enterro de seus falecidos e as perdas materiais diversas, será o total abandono pelas gerações futuras, "queimado" pelo incêndio do esquecimento mais esnobe, enterrado pelo desprezo impiedoso. Será assim que o Brasil se desenvolverá como potência e como sociedade? Certamente, não.
A mediocridade manterá o Brasil no atraso, por mais que a intelectualidade tente relativizar essa mediocridade tentando fazer ouro de estrume.
FONTES: Portal G1, Portal R7.
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