Por Alexandre Figueiredo
No dia 28 de janeiro de 2008, foi celebrado o centenário do edifício sede da 6ª Superintendência Regional do IPHAN, localizado no número 46 da Avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro. O prédio abriga esta unidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1986, e possui, em si, sua relevância histórica.
O edifício, que antes era a sede da Companhia Docas de Santos no Rio de Janeiro, é uma das construções remanescentes do começo do século XX, quando a avenida ainda se chamava Central. O prédio foi inaugurado apenas três anos depois da Av. Central, que era uma das principais obras do então prefeito carioca Francisco Pereira Passos, engenheiro que, inspirado nas reformas urbanas realizadas em Paris, no final do Século XIX, implantou mudanças radicais no quadro urbano do centro carioca. Era a Bèlle-Èpoque da capital francesa inspirando o desejo do Brasil de superar o ranço provinciano dos tempos da colônia, ainda remanescentes no período imperial. Conhecido como "bota abaixo", o governo Pereira Passos tornou-se marcado pela construção da Av. Central, no lugar de uma porção de cortiços, casas, botequins e outras construções que então existiam, sendo uma larga avenida que ligava a Zona Portuária, pela Praça Mauá, à orla carioca, pela Glória.
Passos realizou também a Avenida do Mangue (atual Francisco Bicalho), destruiu o Morro do Senado para abrir a Avenida Mem de Sá (que liga o Catumbi à Lapa), alargou ruas no Centro carioca, realizou obras de urbanização na orla carioca e deu início à urbanização de Copacabana, então um tranqüilo bairro de veraneio para as nobres famílias do Rio de Janeiro. As obras de Pereira Passos provocaram muita polêmica e, expressão do desejo de transformar o Rio de Janeiro na "Paris dos trópicos", não se preocupou em resolver concretamente os problemas das populações pobres que moravam na cidade.
O edifício que hoje abriga a 6ª SR do IPHAN foi projetado pelo arquiteto paulista Ramos de Azevedo, responsável por muitas obras importantes realizadas na cidade de São Paulo, das quais se destacam o Teatro Municipal, a Santa Casa de Misericórdia e o Palácio das Indústrias, este último sede do gabinete do prefeito da capital paulista. O prédio da Av. Central também era um dos mais requintados entre as primeiras móveis comerciais na avenida, resultantes elas do Concurso de Fachadas, realizado por Pereira Passos com o apoio do então presidente da República, Rodrigues Alves. Este concurso incentivou o processo de construção dos prédios na avenida.
As obras foram realizadas logo em 1905, pela construtora Antônio Januzzi Irmãos & Cia., estando os trabalhos encerrados em 1908, ano da inauguração do edifício. Ele foi destinado a se tornar sede nacional da Companhia Docas de Santos, na ocasião em que o país celebrava os 100 anos da abertura dos portos marítimos de Portugal às nações amigas, antes da família real portuguesa viajar para o Brasil. O ramo de atuação da Companhia Docas de Santos inspirou Ramos de Azevedo a ornamentar o prédio com temas relacionados a motivos náuticos.
O edifício possui uma estrutura estética, tendo sido feito em alvenaria e ferro. Sua fachada foi feita com pedra-de-galho, um tipo de granito existente na floresta da Tijuca. Nela, destacam-se os elementos decorativos em cantaria e as portas de entrada de jacarandá confeccionadas pela marcenaria do artesão português Manuel F. Tunes. As janelas são adornadas por frontões cujos estilos se alternavam entre o renascentista e o barroco.
Na parte interna, destacam-se as pinturas decorativas no corredor de entrada, feitos pelo artista alemão Benno Treidler. A clarabóia, cuja luminosidade é produzida a partir do terceiro andar do prédio, é repassada, em sucessivos pisos, até o térreo, através das lajes constituídas por tijolos de vidro. A escada é feita em ferro fundido, que percorrem os cinco andares do edifício ao redor do elevador já construído na época, e que até hoje continua em funcionamento.
O prédio de cinco pavimentos também comemora este ano os trinta anos de tombamento pelo Patrimônio Histórico, condição reforçada pelo abrigo do próprio IPHAN, na sua sexta Superintendência Regional. Para celebrar o centenário do edifício, serão feitas obras de restauração, sobretudo na infra-estrutura, incluindo a recuperação dos elevadores e das instalações elétricas e hidráulicas. Outras melhorias estão previstas, visando tornar o prédio mais seguro e agradável para a visitação de turistas e estudiosos em geral, além de permitir um melhor atendimento da 6ª SR do IPHAN à comunidade interessada.
FONTES: IPHAN, Ministério da Cultura, Wikipedia.
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