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NITERÓI LEVA DECADÊNCIA DO RIO DE JANEIRO ÀS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS


Por Alexandre Figueiredo

Que o Rio de Janeiro está sofrendo uma decadência vertiginosa, motivada principalmente pelo conservadorismo "pragmático" de boa parte de seus cidadãos, isso é verdade. Há um bom tempo, pelo menos há uns 25 anos, a outrora Cidade Maravilhosa sucumbiu a um cenário de profunda decadência social, através do agravamento da violência e da degradação cultural.

Isso reflete também em cidades de sua Região Metropolitana, o Grande Rio. A Baixada Fluminense virou um reduto de profundo reacionarismo social, visto sobretudo nas redes sociais. A pistolagem, antes um "privilégio" do jogo-do-bicho e dos grupos de "justiceiros" da Baixada, se ampliou e, entre as suas vítimas fatais, se destacou a vereadora do PSOL, Marielle Franco (1979-2018).

Além disso, o descaso cultural fez com que, no Rio de Janeiro, houvesse incêndios que destruíram coleções pessoais de artes plásticas e, em setembro de 2018, o acervo raríssimo do Museu Nacional, que agora só "sobrevive", relativamente, pelas fotos e registros deixados de grande parte dos itens perdidos.

Também chama a atenção a concentração de internautas reacionários e odiosos vivendo no Grande Rio, além do fato da maioria da população eleger políticos reacionários, como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro, responsáveis pelo golpe político e jurídico de 2016. Ver que cariocas e fluminenses deram esse "cavalo de Troia" que pôs o Brasil a perder é preocupante.

Culturalmente, o Rio de Janeiro que antes respirava MPB autêntica, jazz, soul e rock alternativo, passou a dar preferência ao "rock farofa", ao pop dançante e à música brega-popularesca. Programas policialescos e a imprensa marrom se tornaram mais influentes e o imaginário carioca se inclina a cultuar subcelebridades dentro da mediocridade viciada do "gente como a gente" popularizada pelos "quenuncas" (pessoas que fazem apologia ao erro humano como se fosse um fato normal).

Mas Niterói se destaca, em todo o Grande Rio, como um reduto de acomodação e conformismo, que faz muitos perguntarem se os niteroienses não se tornaram uma versão live action do mito preconceituoso do "baiano preguiçoso". Há um acúmulo de problemas em Niterói que seus cidadãos ignoram ou não se demonstram dispostos a combater nem a enfrentar.

A cidade que abrigou a Rádio Fluminense FM, uma das melhores rádios alternativas de rock do país e que, até agora, não deixou sucessora. Em contrapartida, a sua vibrante cultura rock perdeu popularidade até ceder lugar à breguice da música popularesca, a ponto da cidade que outrora acolheu o roqueiro catarinense Celso Blues Boy (1956-2012) gerar o ícone do "sertanejo universitário" João Gabriel.

CIDADANIA E MOBILIDADE URBANA EM PREJUÍZO

A cidade vive uma realidade aberrante. Uma boa parcela de niteroienses fuma compulsivamente e, o que é pior, o faz com tamanha arrogância e um certo exibicionismo. Os niteroienses costumam desprezar seus próprios problemas, e, no caso do tabagismo, além de ignorarem os malefícios que o fumo traz à saúde, desconhecem que, em parte, o vício financia o crime organizado, pelas denúncias que a imprensa faz do comércio clandestino do produto por traficantes e milicianos.

Há também o vício de torcedores de futebol gritarem, mesmo a altas horas da noite, a cada gol de um dos quatro times cariocas, Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco. Apesar de tais gritos prejudicarem os moradores que querem dormir para acordarem no dia seguinte para mais uma jornada de trabalho, nada é feito para reprimir esse ato de poluição sonora.

O fanatismo futebolista também preocupa, tal o teor de mesmice que representa, na indigência cultural que não permite a diversificação e faz com que cariocas e fluminenses reagissem com irritada intolerância a quem destoar de seu repertório restrito de valores culturais, aos quais envolve a torcida fanática por qualquer um dos quatro clubes cariocas e, musicalmente, a apreciação da mesmice do hit-parade dançante ou dos mesmos flash backs que tocam nas FMs de pop adulto.

Na mobilidade urbana, existe uma grande defasagem na qual a criação de ciclovias é uma novidade ainda muito mal digerida, quando existem outras necessidades que devem ser levadas em conta. Na Av. Marquês do Paraná, na proximidade do Rio Cricket e no cruzamento com a Av. Roberto Silveira e a Rua Miguel de Frias, a demora dos pedestres para esperar as sinaleiras exige a construção de passarelas nas proximidades.

Depois que o acesso, por túnel e avenida, de Cafubá para Charitas foi construído, após ficar sete décadas no papel, com o esquecido projeto de 1943, a bola da vez é a necessidade de nova avenida ligando os bairros vizinhos de Várzea das Moças e Rio do Ouro, que não contam com acesso próprio por vias largas.

Os dois bairros se comunicam entre duas ruas muito estreitas, Rua Jean Valenteau Mouillac e Rua Senador Fernandes da Cunha. Mas o grosso do seu tráfego depende da rodovia estadual RJ-106, a Rodovia Amaral Peixoto, que acaba assumindo a incômoda função de "avenida de bairro", causando problemas para seu tráfego e para a mobilidade urbana.

O problema, aparentemente, não incomoda os niteroienses e supostamente nenhum grande transtorno fez exigir a nova avenida. Não há, em tese, grandes problemas com a condição de "avenida de bairro" da RJ-106, mas veículos que vêm de Maria Paula, pela Estrada Velha de Maricá (RJ-100, atual Rod. Pref. João Sampaio), ou de Várzea das Moças, disputam tráfego com veículos que se destinam a cidades da Região dos Lagos, incluindo as distantes Cabo Frio e Macaé.

Isso é um grande problema ao qual se prevê haver transtornos mais evidentes quando a Região Oceânica de Niterói, área onde se situam bairros como Itaipu e Piratininga, sofrer um crescimento urbano que se refletirá em Várzea das Moças e Rio do Ouro, forçando a construção de nova avenida, cujo terreno já existe, entre o fim da RJ-100 e a Estrada Ewerton Xavier (parte da RJ-108).

CONSUMISMO

Se o Rio de Janeiro sucumbiu ao consumismo pragmático que restringiu o padrão de qualidade de vida cultural das pessoas, que acabaram dando preferência a coisas "básicas", atitude distante da imponência cultural que a outrora capital do Brasil e, depois, da Guanabara, e o Estado do Rio de Janeiro , expressavam no passado, Niterói leva isso às últimas consequências.

O Rio de Janeiro, com todo seu retrocesso, precisa mostrar seu relativo cosmopolitismo moderno, uma sombra do que havia sido há seis décadas, para ao menos dar a impressão de que ainda mantém seu destaque entre as capitais brasileiras.

Já Niterói, não. A cidade parece se acomodar com um jeito de cidade do interior, de forma que a maioria de seus habitantes vive num clima de acomodação indiferente, uma estranha satisfação com as limitações vividas pela cidade e, iludidos com o pleno uso da Internet nos seus telefones celulares, têm a falsa noção da modernidade que não vivem.

Se o Rio de Janeiro apresenta problemas como reabastecimento de produtos, uma aberração pelo fato da região ser sede ou distribuidora de muitas indústrias, Niterói vive isso de maneira ainda pior. O mesmo caso é a situação ambiental, com árvores tomadas pelo parasita chamado erva de passarinho, que as enfraquece e impede que se faça a fotossíntese que renovaria o ar e amenizasse o calor na região.

Niterói vive a indiferença total a seus problemas, e isso preocupa muito, pois a cidade, nos anos 1990, foi considerada a quarta maior em Índice de Desenvolvimento Humano segundo as Nações Unidas. O título é discutível, mas esperava-se algum esforço, não somente das autoridades, mas da população, para que se tenha pelo menos algum nível significativo de progresso.

O grande problema é, portanto, a acomodação dos niteroienses, que já é pior do que a acomodação dos cariocas que já fez o Rio de Janeiro receber um trocadilho jocoso com a Síndrome de Riley Day (doença que se manifesta com a incapacidade de sentir dor), o Riley Day Janeiro.

Niterói chega ao extremo dessa insensibilidade, de forma que, certa vez, um grupo de pessoas de boa aparência sentou-se, em um estabelecimento na Av. Roberto Silveira, indiferente ao cocô de cavalo que havia na calçada e exalava um cheiro insuportável que não parecia ser percebido pelos jovens. Na Rua Santa Rosa, transeuntes pareciam felizes quando uma pequena fogueira estava acesa junto ao poste na esquina da Rua Américo Oberlaender. A fogueira só foi apagada horas depois.

Será que Niterói, que chegou ao outro extremo da indignação radical da Revolta das Barcas, a completar 60 anos em 22 de maio próximo, quando cidadãos revoltados com o aumento das tarifas do transporte marítimo destruíram a estação da Praça Arariboia, terá que precisar de um estímulo externo para voltar a agir para resolver seus problemas?

Ou será que os niteroienses vão viver numa eterna maresia até que o mito preconceituoso e irreal do "baiano preguiçoso" se transfira para eles? Até um niteroiense tomar consciência de que um problema é realmente um problema, o baiano já fez, em um único dia, o trabalho da semana. É hora de Niterói se mexer e se autoconhecer.

FONTES: O Fluminense, O Globo, Jornal do Brasil, O Dia, A Tribuna.

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