Por Alexandre Figueiredo
O maior número de esculturas em madeira produzidos por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foram restaurados e estão em exposição pública desde o último dia 11. As obras estão localizadas na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, na cidade de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
As peças, produzidas entre 1784 e 1786, foram guardadas em outra igreja, a de Nossa Senhora da Conceição do Jaguara, na cidade de Matosinhos, também da Grande Belo Horizonte, durante o período de restauração da Igreja Matriz em Nova Lima. O estado do acervo estava lastimável. As peças - quatro altares de cedro, dois púlpitos e uma tarja do arco-cruzeiro, a única que ainda apresenta policromia - estavam desmontadas, guardadas em péssimas condições e as interferências que sofreram causaram a perda das cores e do douramento original.
O trabalho de restauração custou R$ 587 mil e os investimentos contaram com a parceria entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura de Nova Lima. A equipe foi integrada a professora Bethania Veloso, coordenadora da obra e diretora do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor) da Escola de Belas Artes da UFMG, pela professora de restauração e conservação do Cecor/UFMG, Eliana Ambrósio, da especialista e coordenadora local Denise Mampert, do marceneiro José Antônio Torres, de quatro aprendizes do município e de auxiliares e estagiários. Durante os trabalhos de recuperação, a equipe descobriu preciosidades esquecidas no decorrer do tempo.
No altar dedicado à Nossa Senhora da Conceição, um sacrário até então pouco conhecido foi encontrado. Encobrindo a porta de madeira, há indícios prováveis que desde a década de 1930 existia um nicho que serviu de suporte para a instalação de uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. A equipe também descobriu o segundo trono da santa, na área do mesmo altar, que tem pintura de mármore. No altar do Sagrado Coração de Jesus, também foi localizado o segundo altar do trono, que durante muito tempo especialistas julgaram desaparecido.
Registros históricos afirmam que as obras foram realizadas por encomenda de um fazendeiro da região, que era sonegador de impostos. Religioso, o fazendeiro decidiu investir na construção de uma igreja que fosse uma das mais belas, uma promessa feita para pagar seus pecados. Com isso, ele contratou Antônio Francisco Lisboa para realizar seu trabalho, no lugar mais sagrado do altar da igreja.
Em seu trabalho discreto, Lisboa deixou as iniciais do seu nome marcadas no sacrário. Os restauradores descobriram a assinatura e, assim registrada, a peça foi recolocada no mesmo esconderijo. "Agora ela está atrás do altar. E ela voltou ao seu lugar original. Escondida que a gente acredita que também é uma intenção do artista que ele não fosse identificado na confecção do altar", disse Bethania Veloso.
A equipe também constatou que parte do altar da igreja estava no lugar errado, devido a mudanças feitas por alguém que não conseguia alcançar a porta do sacrário durante a missa, uma pessoa de baixa estatura, provavelmente um padre, que teria mandado puxar o sacrário para a frente para atender essa necessidade específica.
Pouco antes dos trabalhos ficarem completos, a igreja matriz foi parcialmente liberada para o público assistir às missas. Mas, nessa fase, as missas dos fins de semana eram feitas na quadra de esportes, devido ao público ser maior. Mas agora, com os trabalhos completos, o público pode não apenas exprimir sua religiosidade, mas também contemplar o legado artístico do Aleijadinho, com as peças retomando as cores e o briho original.
FONTE: Portal G1/Globo, Portal Uai/O Estado de Minas.
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