Pular para o conteúdo principal

CONSELHO CONSULTIVO DO IPHAN APROVA TODOS OS PEDIDOS DE TOMBAMENTO E REGISTRO

Última reunião do ano marca tombamento de dois centros históricos, um complexo ferroviário e o mais novo patrimônio imaterial do Brasil

São João del-Rei – MG, 3 de dezembro de 2009. A última reunião do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, ocorrida hoje, na cidade mineira de São João del-Rei, acabou em festa. É que toda a população aguardava ansiosamente a decisão sobre o último item da pauta, que era o pedido de registro como patrimônio nacional do Toque dos Sinos em Minas, uma tradição que é muito forte na cidade.

Aprovação concedida, os sinos das igrejas começaram a tocar sua música. A partir de agora, o Toque dos Sinos em Minas Gerais, tendo como referência São João del-Rei e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes é o mais novo patrimônio imaterial brasileiro. Ele passa a integrar uma seleta e recente lista que vem protegendo as tradições e manifestações culturais do país.

A festa, porém, não ficou restrita a São João del-Rei. Outras três cidades também comemoram seus novos títulos, conferidos na mesma reunião do Conselho Consultivo. A primeira a festejar foi Paranaguá, primeira cidade do estado paranaense e segunda a ter seu centro histórico tombado. Logo em seguida foi a vez de Iguape, cidade do litoral paulista que já pleiteia o título desde a década de 1960. A terceira proposta analisada e aprovada foi a do tombamento do complexo ferroviário da Estada de Ferro Noroeste do Brasil – EFNOB, em Campo Grande – MS. A partir de agora, os três estão protegidos para preservar sua história e passam a obedecer as normas do Iphan, que não permite a descaracterização das áreas tombadas.



CENTRO HISTÓRICO DE IGUAPE

O núcleo urbano de Iguape, no Vale do Ribeira, está entre os mais bem preservados e caracterizados centros históricos de São Paulo, com arquitetura e urbanismo capazes de contar sua trajetória. A proposta de tombamento defendeu que a complexidade e a singularidade do patrimônio do Vale do Ribeira resultam da sua história, de seu povoamento, das estratégias e contingências econômicas, do território e das sociabilidades, que são sua paisagem cultural. A área tombada compreende o centro histórico, o antigo sistema portuário fluvial e marítimo, incluindo o Canal do Valo Grande e o Morro da Espia.



CENTRO HISTÓRICO DE PARANAGUÁ

Para reconhecer a importância da primeira cidade do estado do Paraná, o Iphan tombou uma área que engloba todo o núcleo mais antigo da cidade, indo desde a Igreja de São Benedito, na rua Conselheiro Sinimbu até a rua Visconde de Nácar. O tombamento inclui importantes exemplares da arquitetura colonial brasileira, como a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, o Colégio dos Jesuítas, a Igreja da Ordem 3ª de São Francisco das Chagas, além da antiga Rua da Praia. É estabelecida ainda uma poligonal de entorno, como uma transição entre a área tombada e o restante da cidade, e onde estão situados outros exemplares arquitetônicos significativos para a história da cidade.



COMPLEXO FERROVIÁRIO DA ESTRADA DE FERRO NOROESTE DO BRASIL EM CAMPO GRANDE

O conjunto da EFNOB possui 22,3 hectares e 135 edifícios em alvenaria e madeira, erguidos em datas diferentes a partir da ampliação das atividades da ferrovia e ainda mantém parte dos trilhos que não foram retirados da área urbana de Campo Grande. O Complexo Ferroviário da EFNOB em Campo Grande é um documento vivo sobre o comportamento da sociedade local, retratando a estratificação das classes sociais e suas relações de trabalho. A poligonal de tombamento vai dos viadutos nas ruas Maracaju e Antônio Maria Coelho até o limite da área do complexo ferroviário junto à rua Eça de Queiroz, abarcando as residências dos da EFNOB, junto à rua 14 de Julho, seguindo até o córrego do Segredo que, durante anos, exerceu o papel de barreira natural à expansão da cidade na direção oeste.



O TOQUE DOS SINOS DAS MINAS GERAIS

A importância de se registrar o Toque dos Sinos em Minas Gerais está não só na beleza e na tradição dessa manifestação cultural, mas também na avaliação feita pelo Iphan de que essa tradição pode se perder. Os sinos vêm sendo substituídos por instrumentos eletrônicos devido às dificuldades para a manutenção. Segundo a CNBB, o custo é elevado e exige a disponibilidade de uma ou mais pessoas para tocar os sinos sempre que necessário.

Outro aspecto que chama a atenção para a necessidade de proteção desse bem cultural é o registro de grande número de sinos rachados, sem badalo ou sem local apropriado para serem instalados. Entretanto, apesar de toda a dificuldade, o Iphan afirma que o toque dos sinos ainda está presente e sua relação com a população das cidades inventariadas reforça a necessidade de reconhecimento desse bem como patrimônio.

Ainda hoje, nas cidades inventariadas, os toques são religiosos e têm finalidade social e, até mesmo, de defesa civil. Com sinais bem característicos, os nomes dos toques dos sinos, principalmente os repiques, foram criados pelos sineiros ainda no tempo colonial e preservados na tradição oral. Alguns dos toques mais conhecidos são: Ângelus, A Senhora é Morta, Toque de Cinzas, Toque de Finados, Toque de Passos, Toques de Te Deuns, Toques Festivos, Toque de Parto, Toque de Missas, Toque de Natal, Toque de Ano Novo.

O CONSELHO CONSULTIVO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro, presidido por Luiz Fernando de Almeida, presidente do Iphan, é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros, que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios – Icomos, a Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus – Ibram, a Associação Brasileira de Antropologia – ABA, e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.

Mais informações:
Assessoria de Comunicação Iphan/Monumenta
Adélia Soares – adelia.soares@iphan.gov.br
Ana Rosa Saraiva – ana.saraiva@iphan.gov.br
Gabriela Coelho – gabriela.coelho@iphan.gov.br
(61) 3414.6187 / 3326-6864
www.iphan.gov.br / educacaopatrimonial.wordpress.com / @IphanGovBr

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A POLÊMICA DA HISTÓRIA DAS MENTALIDADES

Por Alexandre Figueiredo Recentemente, a mídia lançou mão da história das mentalidades para legitimar tendências e ídolos musicais de gosto bastante duvidoso. O "funk carioca", o pagode baiano, o forró-brega, o breganejo e outros fenômenos comerciais da música feita no Brasil sempre lançam mão de dados biográficos, de sentimentos, hábitos pessoais dos envolvidos, chegando ao ponto da ostentação da vida pessoal. Também são mostradas platéias, e se faz uma pretensa história sociológica de seus fãs. Fala-se até em "rituais" e as letras de duplo sentido - na maioria das vezes encomendada por executivos de gravadoras ou pelos empresários dos ídolos em questão - são atribuídas a uma suposta expressão da iniciação sexual dos jovens. Com essa exploração das mentalidades de ídolos duvidosos, cujo grande êxito na venda de discos, execução de rádios e apresentações lotadas é simétrico à qualidade musical, parece que a História das Mentalidades, que tomou conta da abordagem his

O RESSENTIMENTO "POSITIVO" DE UMA ESQUERDA FESTIVA E VIRA-LATA

ROGÉRIO SKYLAB ENTREVISTA O PARCEIRO MICHAEL SULLIVAN NO PROGRAMA APRESENTADO PELO PRIMEIRO, MATADOR DE PASSARINHO, DO CANAL BRASIL. Por Alexandre Figueiredo Estranha a esquerda que exerce o protagonismo nos governos de Lula. Uma esquerda não apenas de perfil identitário, o que já causa estranheza, por importar um culturalismo próprio do Partido Democrata, sigla da direita moderada dos EUA. É uma esquerda que prefere apoiar alguns valores conservadores do que outros, mais progressistas, mas vistos erroneamente como "ultrapassados". Trata-se de uma esquerda que, no ideário marxista, se identifica com o perfil pequeno-burguês. Uma "esquerda" de professores, artistas ricos, celebridades, socialites, jornalistas da grande mídia, carregados de um juízo de valor que destoa das causas esquerdistas originais, por estar mais voltado a uma visão hierárquica que vê no povo pobre um bando de idiotas pueris. Essa esquerda está distante do esquerdismo tradicional que, em outros t

OS TATARANETOS DA GERAÇÃO DA REPÚBLICA VELHA

Por Alexandre Figueiredo O que faz a elite que apoia incondicionalmente o governo Lula e obtém hábitos estranhos, que vão desde falar "dialetos" em portinglês - como na frase "Troquei o meu boy  pelo meu dog " - até jogar comida fora depois de comer cinco garfadas de um almoço farto, ser comparável às velhas elites escravocratas, fisiológicas e golpistas do passado, incluindo a "cultura do cabresto" das elites da República Velha? Apesar do verniz de modernidade, progressismo e alegria, a elite que obteve o protagonismo no cenário sociocultural comandado pelo atual mandato de Lula - que sacrificou seus antigos princípios de esquerda preferindo artifícios como a política externa e o fisiologismo político para obter vantagens pessoais - , trata-se da mesma sociedade conservadora que tenta se repaginar apenas expurgando os radicais bolsonaristas, hoje "bodes expiatórios" de tudo de ruim que aconteceu na História do Brasil. A mediocrização cultural, a