Pular para o conteúdo principal

CAPOEIRA TORNA-SE PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL



Por Alexandre Figueiredo

O Conselho Consultivo do IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, declarou que a capoeira é agora um patrimônio cultural do Brasil. Em votação realizada em Salvador, Bahia, no dia 15 de julho de 2008, o Conselho Consultivo do IPHAN, composto de 22 membros, entre representantes de entidades culturais e da sociedade civil, concluiu-se o processo de registro da capoeira, que durou dois anos.

O ato do registro foi feito em presença do ministro interino da Cultura, Juca Ferreira, do governador da Bahia, Jacques Wagner, do presidente do IPHAN, Luís Fernando de Almeida, do presidente da Fundação Palmares (órgão do Ministério da Cultura destinado às manifestações afro-brasileiras), Zulu Araújo, dos embaixadores da Nigéria e do Senegal e de autoridades locais.

No evento, Luís Fernando de Almeida anunciou a inclusão, no Livro de Saberes, do ofício dos mestres de capoeira. É por causa do empenho deles em difundir a capoeira que ela se tornou conhecida, apreciada e praticada em diversos países do mundo. A atividade foi implementada e sua habilidade de ensino reconhecida em 150 países.

A capoeira é uma atividade cultural mista. É, ao mesmo tempo, uma coreografia e uma luta. É usada tanto como forma de defesa quanto como recreação. Sua prática, além disso, inclui música, seja ela cantada, tocada ou as duas coisas, com instrumentos percussivos ou então apenas com o berimbau e o ritmo de palmas de quem assiste à luta. Sua origem ainda não tem data conhecida, mas os primeiros registros de que se tem conhecimento são do século XVIII, em território brasileiro. As cidades onde a capoeira teria surgido são Salvador, Recife e Rio de Janeiro.

A transformação da capoeira em patrimônio cultural, segundo Juca Ferreira, foi uma reparação histórica a esta atividade. Diz ele: "Nós estávamos devendo isso aos mestres de capoeira, responsáveis por uma das manifestações mais plurais e brilhantes de nossa cultura". Durante muitos anos, a capoeira era vista como prática subversiva ou como ato de violência, e a atividade era duramente reprimida pela polícia. A capoeira chegava a ser praticada por muitos adeptos às escondidas. A luta chegou a ser extinta no Rio de Janeiro e em Recife. No Rio, os grupos de capoeiristas eram conhecidos como "maltas". Na capital pernambucana, os passos de capoeira influenciaram a dança do frevo, outra atividade transformada em patrimônio cultural.

A exemplo do samba, que também é hoje patrimônio cultural, quando as escolas de samba surgiram para provar à sociedade de que não se tratava de atividade nociva à sociedade, a capoeira também teve campanha semelhante. Em 1932, em Salvador, o capoeirista Manuel dos Reis Machado, conhecido como Mestre Bimba, fundou a primeira academia de capoeira no Brasil. Mestre Bimba inseriu elementos das lutas orientais na prática da capoeira, que, através desse hibridismo, desenvolveu uma técnica que veio a ser definida como "capoeira regional".

Outro capoeirista, Vicente Joaquim Ferreira, o Mestre Pastinha, não seguiu a orientação de Bimba, preferindo o método tradicional da malícia, conhecido como Capoeira Angola. O Mestre Pastinha teve sua academia de capoeira, também em Salvador e fundada em 1941, como a primeira legalizada oficialmente pelo governo da Bahia.

No ato de votação, diversos grupos capoeiristas compareceram para acompanhar o evento. Diante do Palácio Rio Branco, no Centro de Salvador, esses grupos realizaram uma grande roda de capoeira, para comemorar o novo status dado à luta. No Teatro Castro Alves, também na capital baiana e localizado defronte ao Campo Grande, foi realizado um evento musical com a participação do percussionista Naná Vasconcelos e de artistas como Roberto Mendes, Mariene de Castro e o também percussionista Wilson Café. Naná Vasconcelos, pernambucano, ampliou as possibilidades musicais do berimbau. Ele, junto a Gilberto Gil, idealizou o PercPan, festival de música percussiva que se realiza anualmente na capital baiana.

Um dossiê contendo o histórico do processo de pesquisa, avaliação e registro da capoeira mostra a síntese do que foi feito. As pesquisas, iniciadas em 2006, tiveram a participação de estudiosos das Universidades Federais da Bahia (UFBA), Rio de Janeiro (UFRJ), Fluminense (UFF) e Pernambuco (UFPE). As três capitais onde a capoeira poderia ter surgido serviram de locais de pesquisa. Também foram visitados lugares onde havia documentação sobre essa atividade.

FONTES: IPHAN, Fundação Palmares, Wikipedia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

IPHAN TOMBA CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO PESSOA

Por Alexandre Figueiredo No dia 05 de agosto de 2008, o Centro Histórico da cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, passa a ser considerado patrimônio histórico. Uma cerimônia realizada na Câmara Municipal de João Pessoa celebrou a homologação do tombamento. No evento, estava presente o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Luiz Fernando de Almeida, representando não somente a instituição mas também o ministro interino da Cultura, Juca Ferreira, ausente na ocasião. Luiz Fernando recebeu dos parlamentares municipais o título de "Cidadão Pessoense", em homenagem à dedicação dada ao Centro Histórico da capital paraibana. Depois do evento, o presidente do IPHAN visitou várias áreas da cidade, como o próprio local tombado, além do Conjunto Franciscano, o Convento Santo Antônio e a Estação Cabo Branco, esta última um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer que foi inaugurado no mês passado. Luiz Fernando de Almeida participou também da abertura da Fei...

A POLÊMICA DA HISTÓRIA DAS MENTALIDADES

Por Alexandre Figueiredo Recentemente, a mídia lançou mão da história das mentalidades para legitimar tendências e ídolos musicais de gosto bastante duvidoso. O "funk carioca", o pagode baiano, o forró-brega, o breganejo e outros fenômenos comerciais da música feita no Brasil sempre lançam mão de dados biográficos, de sentimentos, hábitos pessoais dos envolvidos, chegando ao ponto da ostentação da vida pessoal. Também são mostradas platéias, e se faz uma pretensa história sociológica de seus fãs. Fala-se até em "rituais" e as letras de duplo sentido - na maioria das vezes encomendada por executivos de gravadoras ou pelos empresários dos ídolos em questão - são atribuídas a uma suposta expressão da iniciação sexual dos jovens. Com essa exploração das mentalidades de ídolos duvidosos, cujo grande êxito na venda de discos, execução de rádios e apresentações lotadas é simétrico à qualidade musical, parece que a História das Mentalidades, que tomou conta da abordagem his...

SÍLVIO SANTOS E ROBERTO CARLOS: COMEÇO DO FIM DE UMA ERA?

Por Alexandre Figueiredo Símbolos de um culturalismo aparentemente de fácil apelo popular, mas também estruturalmente conservador, o apresentador Sílvio Santos e o cantor Roberto Carlos foram notícias respectivamente pelos seus desfechos respectivos. Sílvio faleceu depois de vários dias internado, aos 94 anos incompletos, e Roberto anunciou sua aposentadoria simbólica ao decidir pelo encerramento, previsto para o ano que vem, do seu especial de Natal, principal vitrine para sua carreira. Roberto também conta com idade avançada, tendo hoje 83 anos de idade, e há muito não renova sua legião de fãs, pois há muito tempo não representa mais algum vestígio de modernidade sonora, desde que mudou sua orientação musical a um romantismo mais conservador, a partir de 1978, justamente depois de começar a fazer os especiais natalinos da Rede Globo de Televisão.  E lembremos que o antigo parceiro de composições, Erasmo Carlos, faleceu em 2022, curiosamente num caminho oposto ao do "amigo de fé ...