Por Alexandre Figueiredo
O estranho pragmatismo que contaminou o povo do Estado do Rio de Janeiro a partir dos anos 1990 está destruindo o Brasil. Elegendo Jair Bolsonaro presidente do Brasil, favorecido pela projeção supostamente polêmica do parlamentar, reeleito em 2014 dentro de uma bandeira ultraconservadora que elegeu também Eduardo Cunha, artífice do golpe político de 2016, o pragmatismo carioca encontrou seu auge, culminando no declínio do Brasil.
O que é pragmatismo? Dentro do contexto do cotidiano das pessoas comuns, é quando se pensa apenas em atender as necessidades mais imediatistas e diretamente ligadas com as atividades pessoais de cada indivíduo. Não se quer mais o melhor, mas o básico, dentro daquele clichê de que "isso não é aquela maravilha, mas está bom demais".
Com isso, renuncia-se a muitos benefícios. É como se, num restaurante, um freguês passasse a pedir somente feijão, arroz, alguma carne e uma salada, com o objetivo apenas de matar a fome. Há uma mania de minimalismo, à qual se aceitam os retrocessos políticos, culturais, midiáticos e até de mobilidade urbana adotados no Rio de Janeiro nos últimos 25 anos.
No entretenimento juvenil, por exemplo, a ascensão do "funk carioca" - um ritmo desprovido de músicos, melodistas e arranjadores e motivado pela mediocridade artística - e a decadência do radialismo rock - reduzido ao pragmatismo da Rádio Cidade, na prática uma rádio pop que "só toca rock", reduzindo o segmento a um mero vitrolão, sem ter a mentalidade própria do segmento - revelam essa mania "nova" de se contentar com pouco.
Na mobilidade urbana, o direito de ir e vir foi contaminado pela moda da "pintura padronizada" que fazia com que ônibus de diferentes empresas tivessem uma mesma pintura. A capital fluminense está desfazendo, aos poucos, a medida, mas os efeitos danosos como a demagogia mal-administrada do sistema BRT e o sucateamento das empresas continuam ocorrendo, além do legado lamentável dos "ônibus padronizados" ter se espalhado por outras cidades do RJ e do Brasil.
A visão pragmática era defendida com muita arrogância pelos internautas fluminenses, em diversos de seus âmbitos. A defesa era tão intransigente que se alguém se encorajasse a questionar tais visões era alvo de humilhação, através do valentonismo digital (cyberbullying) que beirava à ameaça de agressões físicas.
O caso é que a obsessão pelo pragmatismo é temperada pelo complexo de superioridade, como se os fluminenses fossem os donos da verdade nesse minimalismo que permite retrocessos, que vão desde ouvir sucessos medíocres de "funk" achando que isso é "vanguarda", reduzir a cultura esportiva ao exclusivismo fanático do futebol e em redobrar a atenção para não embarcar no ônibus errado por causa da mesma pintura.
Isso não só fez o Rio de Janeiro romper com sua antiga vocação de diversidade e busca pelo melhor, que dos anos 1990 para cá resultou num declínio que refletiu até mesmo no aumento da criminalidade e na chamada "urna podre" dos fluminenses, como se não bastasse a rendição à mediocrização cultural que se espalhava pelo país através da mídia hegemônica de São Paulo.
Esse minimalismo fez com que jovens desprezassem a Educação e a Cultura e, tomados de reacionarismo político, essas gerações, que preferem apenas o consumismo e as emoções baratas de uma curtição vazia de sentido e sem proveito, acabaram optando para eleger políticos de valor duvidoso, que primeiro eram exaltados para depois, passados os seus mandatos, se tornarem alvos de repúdio e revolta dos seus antigos eleitores.
Foi assim quando os fluminenses tentaram eleger o grupo político de Eduardo Paes e Sérgio Cabral Filho, através da perspectiva espetacular de desenvolvimento através de eventos esportivos internacionais sediados na capital fluminense. Ou então quando o pragmatismo moralista elegeu Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro deputados federais, acendendo o pavio do golpe político de 2016, do qual o Rio de Janeiro é em boa parte responsável por sua realização.
Em 2018, mais uma vez o pragmatismo dos fluminenses quis eleger um presidente que não tivesse necessariamente um compromisso de desenvolver o país e retomar o crescimento, mas de adotar pautas moralistas, economicamente entreguistas e até sanguinárias.
O ultraconservadorismo que desde 2007 era notado no Rio de Janeiro fez com que muita gente no Brasil inteiro fosse pega de surpresa, derrubando o mito do "paraíso progressista e alegre" do Maracanã, das praias da Zona Sul, do voo livre do alto da Gávea, do Carnaval no Sambódromo de Oscar Niemeyer, da boemia alternativa da Lapa, da boemia intelectual dos bares de Ipanema e Copacabana.
Tudo isso acabou, quando se viu que o pesadelo carioca se manifesta por internautas rancorosos e vingativos, pelo crime disputado entre banqueiros de bicho, traficantes e milicianos que "importaram" a pistolagem para os subúrbios cariocas e, às vezes, para dentro da Zona Sul, e a eleição de Wilson Witzel, político de extrema-direita que foi um "azarão" nas pesquisas eleitorais, mostra ainda o desejo de uma parcela de cariocas em ver a violência sendo "resolvida" com o extermínio de pobres.
E é isso que se leva em conta, esse pragmatismo que culminou no reacionarismo, que fez o Governo Federal do "mito" Jair Bolsonaro decidir, através de seu ministro da Educação Abraham Weintraub, cortar R$ 11,9 milhões dos recursos a serem aplicados na recuperação do Museu Nacional, destruído por um incêndio que fez perder quase todo o seu acervo, que agora "sobrevive" em fotos e vídeos que remanesceram como memória histórica.
O corte de recursos faz parte de um pacote de redução de gastos para o setor da Educação pública e o Museu Nacional é administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. O programa de redução de verbas públicas causou uma série de protestos estudantis realizada no Brasil, em 15 de maio passado. Amanhã ocorrerá novo protesto, programado para os mesmos locais.
FONTES: O Globo, UOL, G1, Diário do Centro do Mundo, Carta Capital, Blogue Linhaça Atômica, Blogue Mingau de Aço.
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