Por Alexandre Figueiredo
Está marcada para hoje uma reunião entre a diretoria do Museu Nacional, representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM). Surgido de um desmembramento do antigo Departamento de Museus (DEMU) do IPHAN, o IBRAM faz parte do Conselho Consultivo do IPHAN, com um representante especialmente designado para a função.
Segundo o diretor administrativo do Museu Nacional, Wagner William Martins, será realizada uma força-tarefa para avaliar e planejar os trabalhos de recuperação do prédio, situado em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Representantes da UNESCO também irão participar da reunião.
A recuperação do prédio também depende de avaliação do IPHAN, condição obrigatória para que se permitisse trabalhos de intervenção em prédios históricos tombados pelo instituto. O Museu Nacional está tombado pelo IPHAN há 80 anos.
Os trabalhos se dividem em dois planos. Há o plano emergencial, para o qual serão acertados os recursos a serem solicitados à União para obras imediatas, inclusive referentes à estrutura do prédio, que se encontra frágil, e que serão sustentadas por tapumes, enquanto não é realizada a reconstrução. Escombros estão sendo removidos no local. Também estão sendo feitos trabalhos de busca e levantamento do material destruído e do que pôde ser salvo depois do trágico acontecimento.
Várias reuniões estão sendo feitas entre a diretoria do Museu Nacional e outras instituições parceiras, no esforço de buscar soluções das mais diversas para recuperar o museu, além de adotar ações preventivas de proteção do novo acervo, que será de novas doações.
Paralelamente a essas tarefas, um grupo de estudantes da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) resolveu iniciar debates em torno de um acervo de registros fotográficos que envolvem o material que se perdeu com o fogo. Através de e-mail, os estudantes de Museologia da UNIRIO receberam mais de cinco mil mensagens, com milhares de fotos do extinto acervo.
São fotos pessoais que registrarão a memória desses bens. Elas não substituirão o antigo acervo, mas servem como referência e registro do que existia no Museu Nacional e como meio de conscientizar as futuras gerações sobre as perdas causadas pelo descaso político que provocou o incêndio, através da recusa de enviar recursos financeiros para manutenções periódicas.
"É obvio que essas imagens não vão recuperar o museu. Mas ao menos criam uma memória desse presente absurdo que estamos vivendo, de um museu desse porte ir ao chão em poucas horas", disse a professora da USP Giselle Beiguelman, especialista em preservação de arte digital, ao comentar a iniciativa dos alunos da UNIRIO.
Os estudantes pretendem entrar em contato com o Museu Nacional para informar sobre a iniciativa e, talvez, receber subsídios e até testemunhos que possam enriquecer a memória a ser colhida pelo acervo ao mesmo tempo nostálgico e didático, que também poderá compensar parcialmente a ausência dos objetos originais em pesquisas escolares.
Há também um projeto que teve início em 2007, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. É um trabalho idealizado pelo pesquisador Sergio Alex Kungland de Azevedo, responsável pelo projeto Geração de Imagens Digitais das Coleções do Museu Nacional.
O projeto é feito em parceria com o designer Jorge Lopes, coordenador do Núcleo de Expansão Tridimensional da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Jorge é pioneiro, no Brasil, no uso de prototipagem rápida para modelos tridimensionais. Lopes realizou vários trabalhos de impressão em 3D na coleção permanente do Museu de Ciências de Londres.
Através do projeto em parceria com o Museu Nacional, um acervo de cerca de trezentas peças foi escaneado em 3D ou por meio de equipamentos utilizados na medicina, como os tomógrafos. Embora também não substituam o acervo perdido, os objetos digitalizados e que podem ser impressos em 3D podem servir como referência informativa e fornecer subsídios para pesquisas. Entre as réplicas, estão as do cérebro de fóssil de mulher pré-histórica, batizada de Luzia, e de múmias e fósseis.
"Quando começamos o projeto, jamais pensamos que, um dia, o acervo seria destruído. Nossas intenções eram, entre outras, fazer réplicas para exposição no exterior e estudar as peças de forma não invasiva. Por exemplo, visualizar o interior de uma múmia sem precisar abrir o caixão egípcio. Estou muito assustado com tudo isso", afirmou Jorge Lopes, que afirmou que o acervo digitalizado ajudará na identificação dos itens perdidos pelo incêndio.
Ele também acrescentou, a respeito desse acervo digitalizado: "Imagine uma peça toda despedaçada. A reconstrução tridimensional pode ser usada para tentar identificá-la. Também esperamos que as réplicas ajudem na preservação da memória do museu. Porém, não trarão o museu de volta".
Lopes mantém na PUC duas máquinas de prototipagem, que imprime as réplicas à semelhança das originais. As máquinas iriam para o Museu Nacional nas vésperas do incêndio, mas ficaram na universidade. Todavia, um escâner que continha imagens digitalizadas, um equipamento caríssimo, estava no Museu Nacional e também foi destruído pelo incêndio.
O IPHAN lançou uma nova portaria, de 04 de setembro de 2018, portanto dois dias após o incêndio, relacionada a Projetos de Prevenção e Combate a Incêndios e Pânico (PPCIP), que determinam normas e procedimentos a serem adotados pelos gestores e proprietários de bens patrimoniais. Medidas sobre segurança já haviam sido previamente divulgadas, mas a portaria, disponível na página do IPHAN, reafirma a urgência e a importância das ações preventivas.
FONTES: Extra, Diário de Pernambuco, BBC Brasil, IPHAN.
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