Por Alexandre Figueiredo
O fim da fase Ana de Hollanda no Ministério da Cultura, substituída por Marta Suplicy, pode não parecer, a primeira vista, uma promessa de tempos dourados para a pasta, considerada uma das que menos recebem atenções do Governo Federal.
No entanto, o fim de uma gestão que, no conjunto da obra, estava mais voltada para a burocracia dos direitos autorais dentro dos padrões anteriores à popularização da Internet e ao surgimento de novas tecnologias e linguagens, traz muita expectativa de como se comportará o MinC a partir de agora.
No caso do IPHAN, a gestão de Ana de Hollanda, como se sabe, aparentemente não alterou a rotina da autarquia, que se seguiu ao seu trabalho de pesquisas, tombamentos e lançamento de livros e outros eventos.
Mesmo assim, a gestão de Marta Suplicy pode também significar novas expectativas para o instituto. Afinal, o IPHAN também é o que menos recebe atenção entre os órgãos do Ministério da Cultura, o que torna a situação ainda mais problemática. Daí a esperança que a nova gestão possa representar alguma transformação para o setor do patrimônio cultural.
A foto mostra uma visita de Marta à sede do IPHAN, em Brasília, recebida pelo presidente do órgão, Luiz Fernando de Almeida. Ela foi conferir até mesmo os livros lançados pela instituição, além de conversar com o arquiteto que há seis anos está à frente do IPHAN.
Talvez a aparente falta de intimidade de Marta com o Ministério da Cultura tenha um ponto positivo. Sua disposição em estudar o órgão e ouvir as partes interessadas pode significar que ela atenda a muitas reivindicações de artistas, intelectuais e acadêmicos para o fortalecimento da cultura brasileira. Com isso, o IPHAN poderá ser favorecido através de políticas mais dinâmicas e mais investimentos para o instituto.
CONCURSO PÚBLICO
Embora não esteja oficialmente anunciado, é possível que um novo concurso para renovação do quadro de servidores do IPHAN seja feito no próximo ano. Os últimos concursos neste sentido foram feitos em 2005 e 2009, e um outro foi feito em 2007 para o PAC das Cidades Históricas.
O grande problema está no programa do concurso, cujas exigências estão muito distantes da especialidade funcional do instituto. Os concursos de 2007 e 2009 incluíram, sem a menor necessidade, questões de Raciocínio Lógico e Matemática.
As duas matérias, quando muito, se adequariam mais a uma função de Arquitetura. Mesmo assim, são matérias desnecessárias para a avaliação do servidor que irá trabalhar com patrimônio histórico, que deveria se dedicar mais a conhecer assuntos sobre Sociologia, História, Antropologia, Arquitetura - no sentido de entender como se dará uma intervenção em um bem imóvel - em vez de equações ou questões desnecessárias de comparação de hipóteses fictícias.
O IPHAN, certamente, necessita mais de conhecedores da cultura brasileira, de fatos históricos, de questões sociológicas e antropológicas do que equações matemáticas ou análises comparativas. Até porque pode-se fazer comparações sem depender de malabarismos teóricos tipo "Se A é B, mas B não é C e D é E, então...".
O novo concurso do IPHAN poderia limitar seu programa geral apenas para Português, Informática e Conhecimentos Específicos, estes incluindo Sociologia, História, Antropologia e Arquitetura, talvez também falando de Cultura Popular (com o cuidado de não sucumbir à "cultura de massa" brega-popularesca, que é mais mercado e política do que cultura de fato).
A seleção deveria, portanto, abrir mão do velho moralismo academicista que exige de forma generalizada a inclusão de Matemática e similares nas provas, sem se atentar se isso é ou não necessário. O concurso do IPHAN deveria atender ao novo espírito do Ministério da Cultura, exigindo apenas matérias ligadas à instituição, para assim poder aprovar servidores realmente preparados para seu trabalho.
FONTE: Ministério da Cultura.
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