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"FUNK CARIOCA": O CONTRASTE ENTRE O DISCURSO E A REALIDADE


"FUNK CARIOCA": O CONTRASTE ENTRE O DISCURSO E A REALIDADE

Por Alexandre Figueiredo

Nos últimos anos, o "funk carioca" se destacou como um fenômeno peculiar, muito menos pela sua suposta qualidade artística do que pelo discurso altamente engenhoso que o ritmo recebe pelos seus defensores.

O sistema retórico é de certa forma tão habilidoso que esse discurso, em si, está garantindo não somente a sobrevida do "funk" como um modismo dançante como está permitindo que ele penetre em espaços e redutos antes inimagináveis, recebendo o apoio nunca cogitável de intelectuais, professores, jornalistas, artistas e até mesmo políticos de esquerda.

O que levou o "funk" a tomar um rumo fenomenológico que o faz próximo de se tornar, ainda que pela via política, um "patrimônio cultural", ou pelo menos um "movimento cultural de caráter popular", é algo inédito no Brasil e revela o quanto a intelectualidade brasileira não está preparada ainda para as sutilezas do discurso.

O Brasil, cuja tradição positivista e pragmática inspirou até a inscrição "Ordem e Progesso" de nossa bandeira, também carece de uma intelectualidade crítica, uma vez que a burocracia academicista barra o acesso, logo nas primeiras inscrições para o Mestrado, de possíveis futuros intelectuais brasileiros, pois suas teses críticas, independente de qualquer padrão considerado "científico", comprometeriam tanto o sistema de bolsas de pesquisa quanto a vaidade de intelectuais prestigiados, num contexto como o brasileiro, onde os interesses de poder político e o poder econômico mancham até mesmo as bancas universitárias.

Por isso mesmo, a inexistência de uma contestação sistemática do "funk carioca" mal consegue ser compensada por um discurso que contestasse o ritmo, que apresentasse cientificamente suas contradições. A rejeição pública ao ritmo é grande e expressiva, mas ela é enfraquecida por se limitar apenas ao discurso raivoso de fãs de rock, de saudosistas da MPB dos anos 60 e de alguns blogueiros, escritores e críticos musicais que tentam questionar o fenômeno.

Mas o que levou o "funk" a investir num discurso tão engenhoso, persuasivo e até contraditório? Como se deu esse discurso? Como já escrevemos neste site, o "funk" vive hoje sua terceira temporada como modismo nacional, e parece não querer desaparecer do 'establishment' midiático tão cedo. Seu primeiro modismo foi entre 1990 e 1992, prejudicado pelas notícias criminais envolvendo os chamados "bailes funk". O segundo modismo, entre 1999 e 2002, foi prejudicado pelas críticas quanto à vulgaridade explícita, assim como pelas acusações de alienação e idiotização do público ouvinte. O atual modismo foi lançado em seguida, em 2003.

O CASO TIM LOPES E A REPENTINA MUDANÇA DO DISCURSO "FUNKEIRO"

As razões prováveis talvez teriam surgido através do episódio do jornalista Tim Lopes. Carismático jornalista de reportagens populares, sem apelar para o grotesco sensacionalista nem para o policialesco, Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido por esse apelido, realizava reportagem averiguando a prática de sexo explícito e consumo de drogas num "baile funk" da Vila Cruzeiro, região da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. Foi detido pela quadrilha do traficante local, conhecido como Elias Maluco, e, depois de agressivo interrogatório, foi morto a tiros. Da quadrilha, cinco envolvidos foram detidos, entre eles o próprio chefe do bando, e dois foram mortos em tiroteio com a polícia.

Tim Lopes trabalhava para a Rede Globo de Televisão e investigava a violência e a prostituição (que envolvia também menores) em um "baile funk". Até agora é um mistério o que levou a mesma rede televisiva, praticamente da noite para o dia, a mudar todo o discurso em prol do "funk", praticamente traindo o trabalho de seu falecido repórter.

Embora o diretor de jornalismo da Rede Globo, Carlos Henrique Schroder, em comunicado publicado no site de Tim Lopes, fale em não permitir que "sua (a de Tim Lopes) morte tenha sido em vão", e afirme que "a imprensa brasileira não abrirá mão do seu papel. Nós, da Globo, continuaremos firmes neste propósito", o que se viu foi justamente o contrário. Os "bailes funk" continuam com seu festival de drogas e prostituição, incluindo a pedofilia mais aberta. Só que agora existe todo um verniz de "cidadania", "movimento cultural" e "sexualidade saudável" por trás disso. Só falta fornecer, gratuitamente, preservativos para as adolescentes exercerem sua "sexualidade saudável" nos "bailes funk".

"MÚSICA POPULAR" DE MERCADO - O que leva então a mudança repentina desse discurso? Na verdade, essa mudança acompanha todo um quadro de alteração retórica de todos os ritmos e tendências do brega-popularesco. Espécie de pop comercial brasileiro, ou "música popular" de mercado, o universo brega-popularesco surgiu na virada dos anos 50 para os 60 através de nomes como Waldick Soriano. A música popularesca cresceu ao longo dos anos 70 com Odair José, Gretchen e Benito di Paula, e, juntando elementos da fase pasteurizada da MPB, configurou todo um cenário dos anos 80 e 90 que continua prevalecendo, através da axé-music, da dita "música sertaneja", do "pagode romântico", entre outros.

Ameaçado de perder o reinado mercadológico por sua natural efemeridade e com a reação, em 2002-2003, de artistas emergentes de MPB autêntica (Vanessa da Mata, Cordel do Fogo Encantado, Seu Jorge, Maria Rita Mariano, Yamandu Costa), o mercado brega-popularesco correu atrás de intelectuais, celebridades, artistas e jornalistas que promovessem uma imagem "positiva" de seus ídolos, criando todo um repertório discursivo que se baseia na suposta imagem de "vítimas de preconceito" dos ídolos popularescos que, no auge do sucesso, também são creditados como "vítimas de inveja" de quem não os aprecia.

Talvez isso tivesse aberto uma brecha para o "funk carioca", que já havia ganho um artigo em sua defesa, criado pela jornalista Bia Abramo, que trabalhou na Folha de São Paulo (onde trabalhou o tio, Cláudio Abramo) e Bizz e atua na Fundação Perseu Abramo (pai de Bia). O artigo foi publicado antes da morte de Tim Lopes, mas antes de todas as argumentações nele apresentadas virarem lugar comum em toda a mídia brasileira.

RETÓRICA POPULARESCA: SUPOSTO "HORROR MORALISTA"

Não se sabe se realmente as alegações de Bia Abramo inspiraram diretamente toda uma mudança discursiva da retórica funkeira, mas seus elementos principais se encontram lá. O primeiro parágrafo dá uma boa amostra disso, acusando a rejeição dada ao "funk" de ser uma "onda de horror moralista". A jornalista coloca como subtítulo do artigo a frase "O funk, assim como a axé-music, o rap e a chamada música sertaneja, sofre os efeitos de uma espécie perversa de exclusão estético-ideológica do que se chama de MPB", bem ao gosto da retórica pró-popularesca. Diz o primeiro parágrafo:

"É sempre assim: quando alguma manifestação cultural criada pela juventude pobre rompe as barreiras sociogeográficas e passa a aparecer com destaque em meios de comunicação, a primeira reação é de alarme, choque e desconfiança. Assim aconteceu com o punk paulistano no final da década de 70, assim também foi recebido o rap da periferia de São Paulo ali pelo meio da década de 80 e não é de se espantar que tenha voltado a ocorrer no final de 2000 com o funk carioca. Seus músicos e compositores vêm dos morros e favelas do Rio de Janeiro, seu público – que nas letras é caracterizado como composto por popozudas, tigrões, tchutchucas – é original também. Enquanto as músicas com batida monocórdica e refrões repetitivos ("tá dominado/tá tudo dominado") saíam de quase todas as rádios, TVs e barraquinhas de CDs piratas espalhadas pelas cidades brasileiras, uma onda de horror moralista seguiu-se à invasão do funk".

Nem mesmo o twist, ritmo dançante da virada dos anos 50/60 do século passado, se beneficiou de tamanho discurso. O ritmo popularizado pelo cantor e hoje empresário Chubby Checker nunca pretendeu usar a Contracultura que veio pouco depois em seu benefício. Era um ritmo sem qualquer pretensão lírica, poética nem mobilizatória, e, quando deixou de ser um modismo, simplesmente saiu de cena, mesmo influenciando, anos depois, nomes como Trini Lopez.

Pois o "funk", que embora num nível artístico inferior compartilha do propósito meramente dançante do twist, passou a vender uma imagem de "engajamento social" cujo discurso se torna tão habilidoso que escapa das caraterísticas artisticamente medíocres do ritmo carioca.

COMO É O DISCURSO

Os empresários do "funk" não tardaram a receber o apoio de intelectuais, artistas, celebridades e políticos para trabalhar seu novo discurso. O principal apoio é dado diretamente pelos cantores Fernanda Abreu e Ivo Meirelles, pelo antropólogo Hermano Vianna, pelo apresentador e político Wagner Montes, pelos parlamentares Chico Alencar e Marcelo Freixo. Um intérprete funkeiro, MC Leonardo, torna-se dirigente comandando a APAFUNK (Associação de Profissionais e Amigos do Funk), um esforço para a politização (não assumida no discurso) do ritmo carioca.

O ponto de partida da nova retórica a serviço do "funk" toma como alegação a mesma que, por exemplo, os defensores de ídolos bregas como Waldick Soriano e Odair José já fazem, que é de classificá-los como "vítimas de preconceito". É um recurso para perpetuar o sucesso diante do natural desgaste de tais fenômenos da chamada "música de sucesso".

No entanto, o discurso de defesa do "funk" alça voos mais altos do que o dos demais ritmos popularescos. Nem a axé-music, que vendeu, nos anos 90, sua imagem de "movimento cultural baiano", atingiu tais níveis de pretensiosismo. A ideia do discurso é criar uma idealização do "funk carioca", através de uma cobertura na grande imprensa que explorasse mais sutilezas na sua retórica. Junto à grande imprensa, intelectuais também trabalham para desenvolver uma retórica mais convincente.

Nestas duas estratégias, o "funk" ganha uma abordagem jornalística baseada na narrativa do 'new journalism' (reportagem narrada como romance literário), e uma abordagem historiográfica baseada na História das Mentalidades. Tanto o 'new journalism', que realça a notícia para um texto ao mesmo tempo abrangente e agradável, quanto a História das Mentalidades, que desenvolve dados históricos com personagens anônimos, servem para forjar um aparato "militante" e "intelectualizado" do "funk", procurando impressionar universitários e cientistas sociais. Programas como 'Central da Periferia', da Rede Globo, e o documentário 'Sou Feia Mas Tô na Moda", de Denise Garcia, além de reportagens em várias revistas de entretenimento, jornais e mesmo artigos em revistas de textos acadêmicos, como o de Hermano Vianna para uma edição sobre Patrimônio Imaterial da revista Patrimônio, do IPHAN, na qual afirma que a valorização do "funk" é associada a uma "nova forma de pensar" a cultura brasileira.

Avançando nesta retórica, surgem então comparações da rejeição do "funk" a ritmos como maxixe e até o punk rock. Rodrigo Faour (FAOUR: 2006) comparou a rejeição do "funk" à rejeição que o maxixe e o samba sofreram no começo do século XX, discurso também feito pelo deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ). Faour também reforça a argumentação comparando a rejeição do "funk" ao punk rock, discurso também trabalhado pelo jornalista Sílvio Essinger, que escreveu um livro para cada estilo.

O discurso também é reforçado até mesmo através da contradição. Mesmo fazendo sucesso na grande mídia e integrando o 'establishment' popularesco nacional, o "funk carioca" tenta argumentar que sofre discriminação nas "grandes corporações da mídia". Uma reportagem da Caros Amigos chega a afirmar que o ídolo funkeiro Mr. Catra "segue invisível aos olhos das corporações de mídia", quando, só no portal Ego, ligado às Organizações Globo - uma das maiores corporações de mídia do país - , aparece pelo menos sete vezes com a palavra-chave "Mr. Catra", e três como "MC Catra". O funkeiro apareceu também no programa 'Caldeirão do Huck', principal referencial da Rede Globo para o entretenimento do público jovem. O mesmo funkeiro apareceu também num evento de premiação do canal pago Multishow, também das Organizações Globo.

Outros veículos da grande mídia, como Folha de São Paulo, Isto É, Jornal do Brasil e TV Bandeirantes, além do SBT e Rede Record, também passaram a apoiar o ritmo. Mas, para dar uma imagem mais "revolucionária" ao "funk", o dirigente da APAFUNK, MC Leonardo, virou colaborador da revista esquerdista Caros Amigos, enquanto fazia seu lobby com políticos do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

O discurso "militante" atingiu seu ápice em setembro de 2009, quando a reunião de personalidades relacionadas direta ou indiretamente com o "funk" e parlamentares fluminenses na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro aprovaram a lei que define o ritmo carioca como um "movimento cultural de caráter popular". Chegou-se ao ponto dos envolvidos, como os DJs Marlboro e Rômulo Costa, também empresários de "funk", reivindicarem o ensino do ritmo nas escolas, como substituição às atividades de redação. É o auge do pretensiosismo funkeiro.

O "funk" prevalece entre parte da intelectualidade porque esta, por sua formação de classe média alta, eventualmente é tomada de um sentimento paternalista em relação ao povo pobre. A recreação dos pobres pelo "funk", que dissimula interesses de controle social seja dos empresários funkeiros, que entendem que com um povo subordinado eles podem lucrar muito mais, seja pela mídia, que acha melhor um favelado rebolar de forma grosseira do que realizar passeatas como a do Movimento dos Sem-Terra, é vista por essa facção da intelectualidade sobre a forma idealizada do "bom selvagem", do "rebelde domesticado" das comunidades pobres.

Tal paternalismo serve, para esses intelectuais, para disfarçar seu complexo de culpa de viver de forma confortável em seus apartamentos, de consumir referentes culturais que o povo pobre não tem acesso. Isso também resulta numa troca de vantagens, como a projeção desses intelectuais na mídia - ainda que na posição de "polêmicos" - e o respaldo intelectual que sustenta, tanto econômica como politicamente, os empresários e dirigentes do "funk".

O SOM FUNKEIRO: NADA MERECE ESSA BADALAÇÃO TODA

O som da música do "funk carioca", inspirado explicitamente no 'miami bass' dos EUA, carece de qualidade artística. O pretensiosismo todo não justifica a pobreza musical, a sonoridade robotizada, os vocais medíocres, as temáticas que variam entre o panfletarismo oco do "funk de raiz" (tido como "de protesto"), o romantismo piegas do "funk melody" (cruzamento do "funk" com o brega de Odair José) e as baixarias explícitas, sejam pornográficas (como no chamado "funk comercial" apoiado nas dançarinas chamadas de "mulheres-frutas"), sejam em alusão à violência ("proibidões").

Não há muita variação em torno do "funk". Suas primeiras manifestações se reduziam a uma batida eletrônica e um vocal que parodiava uma cantiga de roda. Depois o "funk melody" representou um brega pós-Jovem Guarda com sintetizadores e a batida funkeira. Desde 2003, no entanto, foi adotado o chamado "tamborzão", uma batida eletrônica que imita sons de batuque de umbanda, visando dar um verniz "brasileiro" ao "funk", seja para reforçar a campanha retórica a favor do ritmo, seja para atrair turistas e qualquer estrangeiro deslumbrado, que, do contrário que se imagina, não são muitos. A maior parte do público de música pop no exterior vê com desconfiança o "funk carioca", no máximo vendo o ritmo como um cômico exotismo.

A defesa do "funk", quando encara o problema da baixa estética de seu som, apela para o desprezo estético do ritmo, alegando que "é isso que o povo sabe fazer". Mas, se compararmos que a música popular do passado tinha mais força artística e expressividade musical, o "desprezo à estética" torna-se injustificável.

CONCLUSÃO

O discurso totalmente engenhoso, que se tornou frequente depois da morte do jornalista Tim Lopes, desafia a opinião pública diante da relação entre o falecimento do repórter que investigava os "bailes funk", contratado por uma poderosa rede de televisão, e o apoio posterior desta mesma rede e outros veículos de mídia ao ritmo.

O que se sabe é que toda a campanha em prol do "funk carioca" se deve ao desejo de seus empresários em manter o sucesso financeiro, desafiando, no máximo possível, a natural efemeridade de um ritmo com sérias limitações artísticas. Num país despreparado para a armadilha das sutilezas do discurso, a retórica de defesa do "funk" se tornou um fenômeno peculiar, motivado não por uma suposta valorização do "funk", mas pela contradição entre o discurso sofisticado em defesa do ritmo e suas caraterísticas musicais sofríveis e limitadas.

Toda essa campanha, apesar de apelar para o "valor social" desse ritmo, não é feita senão para favorecer os interesses políticos e econômicos das elites envolvidas, como empresários funkeiros e a grande mídia. E que a intelectualidade, na medida em que defende o "funk", evoca seu sentido paternalista de enxergar o entretenimento do povo pobre.

FONTES: Folha On Line, Tim Lopes (Site Oficial), Revista Bravo, Segundo Caderno (O Globo), Portal G1 (Globo).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARBEX JR., José. O funk e a crítica. Extraído de http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=11&ed=7. In: Revista Pangea Mundo, 07.04.2001. Consultado em 15.12.2007.
ABRAMO, Bia. Cultura: O funk e a juventude pobre carioca. In: REVISTA DE TEORIA E DEBATE. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 31 de agosto de 2001.
FAOUR, Rodrigo. História sexual da MPB. Rio de Janeiro: Record, 2006.
FIGUEIREDO, Alexandre. A farsa midiática do "funk carioca". Extraído de http://patrimoniais.fotopages.com/?entry=1884450. Publicado em dezembro de 2007.
SALLES, Marcelo. Funk carioca: O batidão entre a perseguição e a resistência. In: Caros Amigos. São Paulo: Ed. Casa Amarela, Julho de 2009.
VIANNA, Hermano. Tradição da mudança: a rede das festas populares brasileiras. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). Revista Patrimônio Nº 32: Patrimônio Imaterial e Biodiversidade. Brasília: IPHAN, 2005.
ZEGAIB, Aniz Tadeu. Central da Periferia: o declínio do povo brasileiro.. Extraído do endereço http://www.observatoriodaimprensa.com.br. Publicado em 10 de abril de 2006. Consultado em 30 de abril de 2006.

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