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TERRA NATAL DO EX-PRESIDENTE DEODORO É TOMBADA



Por Alexandre Figueiredo

No último dia 17 de agosto, Dia do Patrimônio Nacional, a cidade de Marechal Deodoro, no Estado de Alagoas, foi a 62ª cidade a se tornar patrimônio histórico por iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Duas semanas antes da cerimônia de tombamento, no dia 03 de agosto, foi aprovada a sua homologação, no Rio de Janeiro, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do IPHAN.

A cidade foi fundada no século XVII, no ano de 1611. Sua história remete aos tempos do Brasil-colônia, quando o município foi construído pelos portugueses para evitar que o pau-brasil, tipo de árvore existente na região, fosse roubado e contrabandeado. A cidade se originou de um dos primeiros núcleos para onde o donatário da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho Pereira, enviou colonos, logo após a sua posse na capitania, em 09 de março de 1535.

Segundo o historiador João Alberto Ribeiro, vestígios da localidade já deveriam existir em 1591, à margem da lagoa Manguaba. O núcleo teria sido construído depois que os portugueses tomaram a área dos índios Caetés. A existência do núcleo se infere de uma escritura pública de 05 de agosto daquele ano, pela qual o procurador e sobrinho do donatário, Jorge de Albuquerque Coelho, fez a Diogo de Mello Castro a doação de dez léguas de terras ao longo da costa, sendo três às margens da lagoa, para o sul e para o norte, e sete para o sertão. No entanto, parece não ter sido possível a fundação, na época, do povoado.

Em 1611, Diogo Soares da Cunha realizou uma nova doação, através de escritura, da área destinada à fundação do povoado, de acordo com o que registrou Pedro Paulino no Dicionário Histórico e Geográfico. É a fundação oficial da cidade, sob o nome de Povoado de Madaglena de Sumaúna. Em 1633, a cidade foi saqueada e incendiada por invasores holandeses. O povoado foi elevado a vila em 12 de abril de 1636.

Posteriormente, o lugar recebeu o nome de Vila de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul. Depois, foi renomeada Vila das Alagoas, ou apenas Alagoas, até ganhar o nome atual, em homenagem ao militar que, no dia 15 de novembro de 1889, se tornou o primeiro presidente da República do Brasil. O município fica a 21 km a sudoeste de Maceió e está situado nas margens da lagoa Manguaba. A cidade tem hoje cerca de 42 mil habitantes.

A cidade foi durante algum tempo capital da então recém-criada província das Alagoas, a partir de um alvará régio de 16 de setembro de 1817, que estabeleceu a criação da Província de Alagoas, decreto ratificado por outro de 12 de janeiro do ano seguinte. A cidade de Alagoas foi capital da província até o ano de 1839, quando o posto foi transferido para a cidade de Maceió, a atual capital. Maceió teve origem no século XVII, com escritura também de 1611, referente a um engenho de açúcar localizado à margem do riacho "Massayó". No entanto, a cidade que hoje se chama Marechal Deodoro faz parte da Região Metropolitana de Maceió.

A iniciativa do tombamento teve origem num abaixo-assinado movido pela museóloga Célia Paiva - que foi presidente do Museu de Arte Sacra do município - , em prol da preservação do patrimônio histórico local. As assinaturas começaram a ser colhidas em 1995, doze anos após a mesma cidade ter sido reconhecida como patrimônio histórico estadual. O abaixo-assinado foi entregue ao IPHAN e o processo de tombamento se iniciou em 1997, quando a instituição recebeu um dossiê com referências da cultura do município e um inventário do patrimônio histórico local.

Este patrimônio apresenta alguns monumentos e prédios construídos nos séculos XVII e XVIII, como o Largo do Pelourinho, o Oratório da Forca - local onde os condenados ao enforcamento realizavam suas últimas orações - , o convento de São Francisco, cuja construção se deu entre os anos de 1684 e 1689 e que hoje se situa o Museu de Arte Sacra, e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, uma construção de 1755, com fachada barroca. Além destes, há também a Igreja do Senhor do Bonfim e as ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, do convento das Carmelitas e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, todas estas obras datadas do século XVII. Mas o destaque do município é uma casa contruída em estilo colonial, que foi o lugar onde nasceu o Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, militar que participou da Guerra do Paraguai (1865-1870), além de ter sido presidente da República .

Na cerimônia de tombamento do município, estavam presentes o ministro da Cultura, Gilberto Gil, do governador de Alagoas, Luís Abílio de Souza Neto, do prefeito da cidade, Danilo Damaso e do presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida.

FONTES: Bonde News (Paraná), Agência Brasil, Revista Museu, Wikipedia (Português), Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (IBGE, 1959).

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