Por Alexandre Figueiredo
O contraste que está havendo entre o meu grande sucesso literário, Música Brasileira e Cultura Popular em Crise (sucesso na Amazon, mas aqui indico o linque alternativo do Clube de Autores), e o polêmico Esses Intelectuais Pertinentes... é absolutamente injustificável.
Os dois livros promovem o mesmo debate sobre a crise da cultura brasileira, sendo que Esses Intelectuais Pertinentes... mostra, com detalhes, a campanha do pretenso "combate ao preconceito", mencionando os principais intelectuais envolvidos e mostrando os próprios textos e o próprio discurso deles.
O descaso de setores da chamada opinião pública para a obra que questiona essa campanha intelectual, como Esses Intelectuais Pertinentes..., que chegou a receber, na Internet, "resenhas" de pessoas que nunca leram o livro e se iludiram com vagas sinopses, é ilustrativo nesse mercado literário dominado por obras anestésicas que não contribuem em coisa alguma na formação de Conhecimento crítico no público brasileiro.
Esses Intelectuais Pertinentes... segue, à maneira própria, uma abordagem crítica que dialoga com livros como 1964: A Conquista do Estado, de René Dreifuss, no que se refere ao detalhamento das campanhas dos "institutos" IPES-IBAD, os questionamentos de José Ramos Tinhorão sobre a música popularesca, nos anos 1990, e as análises de Jessé Souza quanto ao culturalismo conservador que propiciou o golpe político de 2016.
O livro Esses Intelectuais Pertinentes... pode ferir os instintos emotivos das pessoas acostumadas a ver no universo popularesco um "país das maravilhas" e na sua intelectualidade orgânica um grupo de "bondosos pensadores" de uma suposta valorização da cultura popular, dentro da uma visão de que as chamadas "periferias" são um "paraíso de alegria, felicidade e autossuficiência".
Com a classe média dominando as narrativas predominantes no imaginário cultural brasileiro, é claro que uma obra como Esses Intelectuais Pertinentes... incomodada aqueles que se acostumaram com o pensamento padrão nas redes sociais, que nos fazem crer que os subúrbios, roças e sertões em todo o Brasil vivem num "eterno Carnaval" 365 ou 366 dias por ano.
Essa idealização se comprovou após o falecimento prematuro da cantora de "sofrência sertaneja", Marília Mendonça, quando se abriu, mesmo para os olhos de jornalistas culturais e músicos emepebistas, um "mundo encantado" de pessoas bonitas cantando, bebendo e dançando em ambientes como o Villa Mix, em Goiânia, e que oferecem uma mística bem mais poderosa, em termos de marketing, do que aquela que se manifestou nos tempos da Bossa Nova e do Clube da Esquina.
Com essa imagem "positiva" que não consegue delimitar o que é mesmo o "mundo dos pobres", criando uma "diversidade de plástico" que permite as pessoas ficarem na zona de conforto da glorificação da cultura popularesca, tratando nomes como o breganejo Daniel, hoje tido como "elitista", e "pobretões" como MC Fioti e os Barões da Pisadinha, do sucesso "Bum Bum Tan Tan", como dois exemplos "variados" de uma mesma "cultura das periferias".
Esses Intelectuais Pertinentes... não é um panfleto literário. Ele é um trabalho de pesquisa que complementa o que Música Brasileira e Cultura Popular em Crise havia feito. Neste livro, eu enumerei um histórico da formação cultural brasileira, com ênfase na música, e descrevi os elementos constituintes de sua crise recente.
Já Esses Intelectuais Pertinentes... reforça a análise da mesma crise, dando maiores detalhes e citando os principais intelectuais engajados na campanha pela bregalização cultural: Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches, Hermano Vianna, Milton Moura, Roberto Albergaria, Mônica Neves Leme, Tiagson, Eugênio Arantes Raggi, Rodrigo Faour, Ivana Bentes e tantos outros, que conforme descrevi se acham "mais povo que o povo", atuando como pretensos "especialistas em povo pobre".
A pesquisa incluiu citações de ideias e opiniões dos mesmos autores pesquisados, incluindo a publicação de ataques pessoais que Eugênio Raggi escreveu contra mim, depois que eu fiz questionamentos críticos sobre a música popularesca. O texto todo dele, originalmente publicado no extinto fórum Samba & Choro, foi inteiramente reproduzido no meu livro.
São citações que mostram que, ainda que minha obra desempenhe o senso crítico, ela "ouve" a "voz do outro". E isso traz um diferencial que as pessoas não sabem, porque seria uma boa oportunidade para as pessoas saberem como é o discurso dessa intelectualidade festiva que imagina que as comunidades pobres vivem em "estado permanente de felicidade".
Por isso mesmo, há um grande complemento com Música Brasileira e Cultura Popular em Crise, porque este faz um histórico da cultura brasileira, enquanto Esses Intelectuais Pertinentes... revela o empenho de uma intelectualidade orgânica que, fingindo-se de progressista, defendeu a degradação cultural brasileira sob a desculpa do "combate ao preconceito", trazendo preconceitos ainda piores.
Só lendo Esses Intelectuais Pertinentes... para entender seu conteúdo. Não dá para entender o livro através de sinopses ligeiras, e sair por aí interpretando aquilo que não leu. Isso é um ato preguiçoso e intelectualmente desonesto, o que certos dublês de resenhistas fazem na Internet, resenhando aquilo que não leram com o intuito de evitar que outros leiam, na pretensão farsesca de inventarem uma narrativa superficial que o referido livro não tem, porque ele faz justamente o contrário, aprofundando e indo mais longe com os questionamentos trazidos por Música Brasileira e Cultura Popular em Crise.
FONTES: Blogue Mingau de Aço, Blogue Linhaça Atômica, Carta Capital, Universo On Line.
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