Por Alexandre Figueiredo
Salvador, considerada Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), está ameaçada. Com seus edifícios históricos entregues ao abandono e à falta de manutenção, eles sofrem com as fortes chuvas, que geram deslizamentos e desabamentos, que tiveram várias mortes e muitos danos.
O descaso com o patrimônio histórico e a especulação imobiliária estimulada pelo mercado turístico e pelos projetos empresariais fez com que, não bastasse essa situação dramática, a capital baiana tivesse que ver 31 edificações históricas serem demolidas por iniciativa do prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, o ACM Neto.
Muitos dos cinco mil casarões antigos só possuem a fachada e vários estão seriamente danificados e com risco de desabamento. Várias famílias ainda vivem em muitos deles, situados no entorno que envolve desde o bairro de Santo Antônio até a área do Pelourinho, além de ruas que ligam áreas como a Praça Castro Alves, Rua Chile, Baixa dos Sapateiros, Nazaré e Av. Sete de Setembro.
Manifesto enviado pelo Instituto dos Arquitetos da Bahia (IAB), Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU/BA) e pelo Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas Baianos (Sintarq) à UNESCO revela preocupação com as demolições ocorridas em áreas como a Ladeira da Montanha e a Conceição da Praia.
Segundo os arquitetos, estas áreas, de considerável potencial turístico, são cobiçadas pelos empreiteiros e empresários do ramo hoteleiro, sendo alvo da especulação imobiliária que, de forma predatória, ocupa espaços urbanos nas grandes cidades visando grandes resultados econômicos.
Os arquitetos se queixam que as 31 demolições ocorreram por iniciativa de ACM Neto e sob o consentimento dos técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), há muito adotando posições problemáticas em relação ao patrimônio de Salvador.
Em 2008, a 7ª Superintendência Regional da Bahia, sediada na Barroquinha, também dentro do Centro Histórico de Salvador, passou por uma gestão que se recusava a recuperar os casarões históricos, sob o argumento de que as obras de reparo iriam "falsificar" a estrutura histórica das edificações, consistindo nelas intervenções posteriores à estrurura original destas construções.
A alegação causou protesto entre os defensores do patrimônio histórico e a UNESCO chegou a ameaçar retirar o título de Patrimônio da Humanidade para a cidade de Salvador. Agora, é a vez do IPHAN consentir com as demolições de 31 casas, sob a alegação de que os imóveis "não tinham mais valor que justificasse sua preservação".
Segundo o articulista Luiz Antônio de Souza, que denunciou que havia demolições nas áreas do Taboão (área de ligação entre os bairros Comércio, Santo Antônio, Pelourinho e Baixa dos Sapateiros), políticas desarticuladas de intervenção urbana feitas sem qualquer tipo de transparência.
A UNESCO tem uma lista que contém patrimônios históricos em risco. São 48 sítios, nenhum dos quais situado no Brasil. Dois sítios já perderam o título: a cidade de Dresden, na Alemanha, e o Santuário de Órix da Arábia, em Omã. Segundo a coordenadora de Cultura da UNESCO no Brasil, Patrícia Reis, não há esse risco para Salvador, mas é preciso fazer uma "reflexão profunda".
Os arquitetos que assinaram manifesto enviado à UNESCO querem que uma missão do órgão viaje para Salvador para avaliar a situação. De acordo com o secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Érico Mendonça, a vinda da missão será benéfica para reforçar parcerias entre as três esferas de governo.
FONTES: Folha de São Paulo, Universo On Line.
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