Por Alexandre Figueiredo
Visando o turismo, o mercado hoteleiro e a especulação imobiliária, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, ordenou a expulsão de 35 famílias que vivem nas casas da Aldeia do Imbuhy, localizada no bairro do Imbuí e considerada um dos conjuntos arquitetônicos tradicionais da cidade.
O anúncio estabeleceu como prazo o próximo dia 15, data final para as famílias deixarem o lugar. Rodrigo Neves pretende demolir as casas e construir um complexo hoteleiro e um parque, visando atrair turismo para os entornos de Charitas e Jurujuba, bairros entre os quais situa o Imbuí.
O prefeito já começou a demolir o morro que se encontra entre Charitas e Cafubá, bairro da região de Piratininga. Até agora, a única ligação entre Piratininga e a região do Saco de São Francisco (onde se situam Charitas, Imbuí e Jurujuba) era uma pequena estrada, a Estrada do Imbuí, cujo acesso vai pouco antes da praia de Piratininga e termina no caminho para a praia de Jurujuba.
Nesse morro, será construído o túnel Cafubá-Charitas, pela qual passará um BRT vindo do Engenho do Mato (bairro situado entre Várzea das Moças e Itaipu) e, provavelmente, poderá ser o prolongamento da linha de ônibus 55 Várzea das Moças / Piratininga (via Cafubá).
Segundo Rodrigo Neves, a construção do túnel Cafubá-Charitas irá atrair turistas de alto poder aquisitivo vindos de áreas nobres da cidade do Rio de Janeiro. O entorno Charitas-Jurujuba poderá se transformar num equivalente de Niterói para a Barra da Tijuca carioca, no sentido de que será uma nova área nobre depois da saturação da Zona Sul (Copacabana, no Rio, e Icaraí, em Niterói).
O desejo de fortalecer o turismo e a modernização da região do Saco de São Francisco do prefeito de Nterói, no entanto, ignora a condição de patrimônio cultural de Aldeia do Imbuhy, fundada em 1886 como uma colônia de pescadores e situada próxima ao Forte do Imbuí.
A área é tombada como patrimônio histórico de Niterói através da Lei Municipal 3.045, promulgada este ano. Além disso, a área foi residência de Flora Simas de Carvalho, que costurou o primeiro exemplar da hoje célebre bandeira do Brasil. Ela foi autorizada pelo comando do Forte do Imbuí a construir sua residência por volta de 1915.
Atualmente, os descendentes de Flora ainda moram no lugar, como outros descendentes de antigos moradores. Eles alegam que seus ancestrais já moravam no local antes da construção do Forte do Imbuí e alertam para a importância histórica, arquitetônica, paisagística e etnográfica da aldeia que Neves pretende demolir para construir um complexo hoteleiro.
INVESTIMENTOS EM TURISMO NUMA CIDADE INSEGURA
Eleito em 2012, Rodrigo Neves é considerado, pela população de Niterói, um prefeito medíocre. Enquanto investe no turismo, deixa de investir na segurança, permitindo que crimes violentos aconteçam à luz do dia em áreas como a Praça do Rink, próxima ao Plaza Shopping, e a Alameda São Boaventura, no Fonseca.
Outros bairros, como Viradouro e o próprio São Francisco, sobretudo no entorno da Av. Rui Barbosa (antiga Estrada da Cachoeira), a violência é intensa e obriga muitos moradores a evitar saírem de casa à noite.
Tiroteios chegam a paralisar o tráfego de veículos na Av. Rui Barbosa e na Rua Dr. Mário Viana, no Viradouro na manhã e na tarde. Bandidos circulam livremente até mesmo durante as altas horas da manhã e da tarde no entorno da Mário Viana.
Na Região Oceânica, houve casos de arrombamento de casas ocorridos também em pleno dia, e muitos moradores, que antes buscavam a região como meio de ter maior sossego na vida, são agora obrigados a deixar o lugar, com medo da ação dos bandidos.
PROTESTOS ACONTECERAM NA PRAÇA ARARIBOIA
Na tarde do último dia 06, moradores da Aldeia do Imbuhy realizaram um protesto na Praça Arariboia, no entorno da Av. Visconde do Rio Branco, frente à Av. Ernâni do Amaral Peixoto e junto à Estação das Barcas.
Com faixas e cartazes, moradores e ativistas distribuíram panfletos, enquanto políticos solidários à manifestação e ativistas locais davam discursos e marcavam presença. Um abaixo-assinado foi passado com o objetivo de acionar a Justiça para impedir a destruição da aldeia.
Até funcionários em greve e estudantes da Universidade Federal Fluminense se manifestaram solidários ao protesto, que lembra que a ação foi movida pelo Supremo Tribunal de Justiça e o prefeito contou com a ajuda do ministro da Defesa, Jacques Wagner (ex-governador da Bahia) para mobilizar o exército a forçar a expulsão dos moradores.
A ação de despejo prevê uma multa mensal de R$ 100 para quem não deixar o lugar no prazo estipulado e cobrança de R$ 1 mil da cada família por perdas e danos. Rodrigo Neves alegou que pretende transferir os moradores para novas habitações através do programa Minha Casa, Minha Vida, além do pagamento de aluguel social.
No entanto, os moradores se queixam dessa pretensa solução, uma vez que as habitações são muito distantes da região de São Francisco, poderão ser de condições precárias - como as habitações reservadas aos desabrigados do Morro do Bumba, no Cubango, tragicamente atingido por uma tempestade em 2010 - e o valor do aluguel social é insuficiente para alugar um apartamento.
O movimento organiza uma página no Facebook para quem quiser conhecer melhor suas reivindicações. O endereço é https://www.facebook.com/sosaldeiadoimbuhy. Já o abaixo-assinado contra a destruição do lugar está no endereço http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/30864.
FONTES: Linhaça Atômica, O Fluminense, O Globo, SOS Aldeia do Imbuhy (Facebook).
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