O ARTISTA PLÁSTICO ALEIJADINHO, EM DESENHO FEITO PELO MÉDICO E ARTISTA VALDERÍLIO FEIJÓ AZEVEDO, PROFESSOR DA UFPR.
Por Alexandre Figueiredo
Hoje se lembram os 200 anos de falecimento de Antônio Francisco Lisboa, o mineiro que, sob a alcunha de Aleijadinho, tornou-se um dos maiores artistas plásticos do período barroco, no Brasil colonial, e também um dos mais importantes de toda a História do país.
O apelido, que veio do corpo que se deformou com o tempo, tornou-se a identidade do artista, filho do arquiteto português Manuel Francisco Lisboa e da escrava Isabel, e que tornou-se arquiteto e entalhador, e suas obras, marcadas pela mesma controvérsia que marcou sua vida, eram cuidadosamente pesquisadas por estudiosos que queriam desvendar o mistério de suas autorias.
Afinal, era o século XVIII e não havia a mesma preocupação de registros autorais que se tem hoje. E Antônio Lisboa, embora fizesse arte como profissão, por encomenda sobretudo de igrejas da região de Congonhas, em Minas Gerais, não fazia o tipo de artista profissional que conhecemos, de talento calculista e sucesso tendencioso.
Aleijadinho fazia sua arte de forma espontânea, e a beleza de suas obras revela um amor pela arte, um prazer expressivo que impressionava a todos, com a fama provocada pela sofisticada qualidade de suas esculturas de motivação predominantemente religiosa.
No entanto, consta-se que Aleijadinho tinha um temperamento difícil, por causa das dores que sofria com a doença, e não raro reagia de forma ríspida aos assédios, pensando serem escárnios disfarçados de elogios. Estas são algumas das lendas que cercam a polêmica biografia colhida sobre o artista.
Rodrigo José Ferreira Bretas é considerado um dos principais biógrafos de Aleijadinho, tendo escrito sua biografia em 1858, 44 anos depois da morte do artista. Mesmo assim, alguns dados, com o tempo, foram contestados em pesquisas posteriores.
Um deles é referente ao ano de nascimento do artista. Segundo Bretas, Antônio Lisboa nasceu em 29 de agosto de 1730, na antiga cidade de Vila Rica, antiga capital de Minas Gerais e hoje conhecida como Ouro Preto. Mas pesquisas de documentos consultados posteriormente fizeram com que a data fosse corrigida para 1738, o que credita o óbito de Aleijadinho na idade de 76 anos.
Consta-se que, por causa da doença, que lhe dava uma aparência que constrangia muitas pessoas, Aleijadinho cobria as partes enfermas de seu corpo com roupas amplas e folgadas, além do uso de chapéus para cobrir a cabeça.
Entre duas roupas, conforme registra o historiador de arte britânico John Bury, estava um grosso pano azul que era usado para cobrir os joelhos. Usava calças e coletes e adaptava os sapatos aos seus pés para parecerem normais. Quando andava a cavalo, usava uma enorme capa de manto negro e mangas longas.
Ele também criava um espaço cercado de biombos toldos para evitar a exposição e fazia os trabalhos quase sempre à noite. Fazia isso para não ser assediado enquanto realizava seus trabalhos artísticos, já que a doença e as reações das pessoas o fizeram ser uma pessoa ríspida e desconfiada.
Mas até mesmo a sua enfermidade causava polêmica. Mesmo quanto à idade, já que se atribui a idade de 47 anos em algumas fontes e, em outras, 39 ou 40. Não há dados precisos sobre como se deu sua moléstia degenerativa, coisa que nem mesmo o exame dos restos mortais de Aleijadinho conseguiram desvendar.
Seu acervo riquíssimo também era alvo de polêmicas, e sua identificação dependia muitas vezes da pesquisa de documentos referentes à encomenda de tais trabalhos. Um dos primeiros a avaliar o acervo de Aleijadinho foi o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que em sua viagem a Congonhas enumerou 66 figuras atribuídas a Aleijadinho.
Já o poeta Mário de Andrade, em suas turnês como pesquisador de manifestações culturais brasileiras, havia creditado um acervo de 74 imagens. Atualmente, conforme pesquisas diversas realizadas, considera-se o acervo de Aleijadinho dotado de 76 objetos, incluindo os 12 profetas.
Quatro escravos trabalharam para Aleijadinho, sendo três homens e uma mulher. Seus nomes eram Maurício, Januário, Agostinho e Anna. Maurício e Agostinho eram seus assistentes, e o primeiro dividia os bens salariais com o artista, de acordo com o relato de Bretas.
CELEBRAÇÕES À SUA MEMÓRIA
Um dos cenários da produção artística de Aleijadinho, a antiga Vila Rica, que hoje é a cidade histórica de Ouro Preto, divulgou um roteiro de atividades comemorativas à memória do artista, que ocorrem na cidade entre os próximos dias 17 a 21 de novembro de 2014. Os eventos são promovidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Já nesta semana já acontecem as exposições e oficinas Olhares sobre Aleijadinho, dedicadas a compreender a arte do mestre mineiro através de desenhos, ilustrações e fotografias, e de trabalhos que buscam obter conhecimentos sobre a arte barroca a partir do estudo do legado do artista.
Na igreja da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, no próximo dia 18, haverá a inauguração do seminário Aleijadinho e os Próximos 100 Anos, que contará com a participação do diretor do Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização (DEPAM) do IPHAN, Andrey Schlee, do presidente do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), Ângelo Oswaldo, do Cônego da Diocese de Mariana, Luís Carlos Ferreira e um representante da Prefeitura Municipal de Ouro Preto.
O seminário irá discutir as medidas de preservação e conservação do acervo de Aleijadinho, seus significados para as artes plásticas na atualidade e nas próximas décadas e como projetos de investimentos como o PAC das Cidades Históricas podem contribuir para a proteção de seu patrimônio artístico, destacando a construção do Museu de Moldagens que abriga seu acervo.
No dia 19, será a vez do lançamento do livro Antônio Francisco Lisboa: Moldagens de gesso como instrumento de preservação da sua obra, que relata as experiências do antigo SPHAN (Serviço), sob a direção do advogado Rodrigo Melo Franco de Andrade, entre 1937 e 1968, no processo de salvaguarda, preservação, conservação e proteção da obra do mestre Aleijadinho.
Outro projeto contemplado é a restauração da própria Matriz de Nossa Senhora da Conceição, prevista para os próximos dois anos. A igreja foi construída entre 1727 e 1746 com projeto e execução do arquiteto e pai de Aleijadinho, Manuel Francisco Lisboa.
A igreja um dos monumentos mais representativos da arquitetura barroca brasileira e receberá recursos do PAC das Cidades Históricas, com o trabalho de obras previsto para começar já no próximo ano.
FONTES: IPHAN, Blog Arte Médica, Wikipedia.
Por Alexandre Figueiredo
Hoje se lembram os 200 anos de falecimento de Antônio Francisco Lisboa, o mineiro que, sob a alcunha de Aleijadinho, tornou-se um dos maiores artistas plásticos do período barroco, no Brasil colonial, e também um dos mais importantes de toda a História do país.
O apelido, que veio do corpo que se deformou com o tempo, tornou-se a identidade do artista, filho do arquiteto português Manuel Francisco Lisboa e da escrava Isabel, e que tornou-se arquiteto e entalhador, e suas obras, marcadas pela mesma controvérsia que marcou sua vida, eram cuidadosamente pesquisadas por estudiosos que queriam desvendar o mistério de suas autorias.
Afinal, era o século XVIII e não havia a mesma preocupação de registros autorais que se tem hoje. E Antônio Lisboa, embora fizesse arte como profissão, por encomenda sobretudo de igrejas da região de Congonhas, em Minas Gerais, não fazia o tipo de artista profissional que conhecemos, de talento calculista e sucesso tendencioso.
Aleijadinho fazia sua arte de forma espontânea, e a beleza de suas obras revela um amor pela arte, um prazer expressivo que impressionava a todos, com a fama provocada pela sofisticada qualidade de suas esculturas de motivação predominantemente religiosa.
No entanto, consta-se que Aleijadinho tinha um temperamento difícil, por causa das dores que sofria com a doença, e não raro reagia de forma ríspida aos assédios, pensando serem escárnios disfarçados de elogios. Estas são algumas das lendas que cercam a polêmica biografia colhida sobre o artista.
Rodrigo José Ferreira Bretas é considerado um dos principais biógrafos de Aleijadinho, tendo escrito sua biografia em 1858, 44 anos depois da morte do artista. Mesmo assim, alguns dados, com o tempo, foram contestados em pesquisas posteriores.
Um deles é referente ao ano de nascimento do artista. Segundo Bretas, Antônio Lisboa nasceu em 29 de agosto de 1730, na antiga cidade de Vila Rica, antiga capital de Minas Gerais e hoje conhecida como Ouro Preto. Mas pesquisas de documentos consultados posteriormente fizeram com que a data fosse corrigida para 1738, o que credita o óbito de Aleijadinho na idade de 76 anos.
Consta-se que, por causa da doença, que lhe dava uma aparência que constrangia muitas pessoas, Aleijadinho cobria as partes enfermas de seu corpo com roupas amplas e folgadas, além do uso de chapéus para cobrir a cabeça.
Entre duas roupas, conforme registra o historiador de arte britânico John Bury, estava um grosso pano azul que era usado para cobrir os joelhos. Usava calças e coletes e adaptava os sapatos aos seus pés para parecerem normais. Quando andava a cavalo, usava uma enorme capa de manto negro e mangas longas.
Ele também criava um espaço cercado de biombos toldos para evitar a exposição e fazia os trabalhos quase sempre à noite. Fazia isso para não ser assediado enquanto realizava seus trabalhos artísticos, já que a doença e as reações das pessoas o fizeram ser uma pessoa ríspida e desconfiada.
Mas até mesmo a sua enfermidade causava polêmica. Mesmo quanto à idade, já que se atribui a idade de 47 anos em algumas fontes e, em outras, 39 ou 40. Não há dados precisos sobre como se deu sua moléstia degenerativa, coisa que nem mesmo o exame dos restos mortais de Aleijadinho conseguiram desvendar.
Seu acervo riquíssimo também era alvo de polêmicas, e sua identificação dependia muitas vezes da pesquisa de documentos referentes à encomenda de tais trabalhos. Um dos primeiros a avaliar o acervo de Aleijadinho foi o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que em sua viagem a Congonhas enumerou 66 figuras atribuídas a Aleijadinho.
Já o poeta Mário de Andrade, em suas turnês como pesquisador de manifestações culturais brasileiras, havia creditado um acervo de 74 imagens. Atualmente, conforme pesquisas diversas realizadas, considera-se o acervo de Aleijadinho dotado de 76 objetos, incluindo os 12 profetas.
Quatro escravos trabalharam para Aleijadinho, sendo três homens e uma mulher. Seus nomes eram Maurício, Januário, Agostinho e Anna. Maurício e Agostinho eram seus assistentes, e o primeiro dividia os bens salariais com o artista, de acordo com o relato de Bretas.
CELEBRAÇÕES À SUA MEMÓRIA
Um dos cenários da produção artística de Aleijadinho, a antiga Vila Rica, que hoje é a cidade histórica de Ouro Preto, divulgou um roteiro de atividades comemorativas à memória do artista, que ocorrem na cidade entre os próximos dias 17 a 21 de novembro de 2014. Os eventos são promovidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Já nesta semana já acontecem as exposições e oficinas Olhares sobre Aleijadinho, dedicadas a compreender a arte do mestre mineiro através de desenhos, ilustrações e fotografias, e de trabalhos que buscam obter conhecimentos sobre a arte barroca a partir do estudo do legado do artista.
Na igreja da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, no próximo dia 18, haverá a inauguração do seminário Aleijadinho e os Próximos 100 Anos, que contará com a participação do diretor do Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização (DEPAM) do IPHAN, Andrey Schlee, do presidente do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), Ângelo Oswaldo, do Cônego da Diocese de Mariana, Luís Carlos Ferreira e um representante da Prefeitura Municipal de Ouro Preto.
O seminário irá discutir as medidas de preservação e conservação do acervo de Aleijadinho, seus significados para as artes plásticas na atualidade e nas próximas décadas e como projetos de investimentos como o PAC das Cidades Históricas podem contribuir para a proteção de seu patrimônio artístico, destacando a construção do Museu de Moldagens que abriga seu acervo.
No dia 19, será a vez do lançamento do livro Antônio Francisco Lisboa: Moldagens de gesso como instrumento de preservação da sua obra, que relata as experiências do antigo SPHAN (Serviço), sob a direção do advogado Rodrigo Melo Franco de Andrade, entre 1937 e 1968, no processo de salvaguarda, preservação, conservação e proteção da obra do mestre Aleijadinho.
Outro projeto contemplado é a restauração da própria Matriz de Nossa Senhora da Conceição, prevista para os próximos dois anos. A igreja foi construída entre 1727 e 1746 com projeto e execução do arquiteto e pai de Aleijadinho, Manuel Francisco Lisboa.
A igreja um dos monumentos mais representativos da arquitetura barroca brasileira e receberá recursos do PAC das Cidades Históricas, com o trabalho de obras previsto para começar já no próximo ano.
FONTES: IPHAN, Blog Arte Médica, Wikipedia.
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