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PRIMEIRO ARRANHA-CÉU BRASILEIRO TORNA-SE PATRIMÔNIO CULTURAL


Por Alexandre Figueiredo

Numa época de transformações em curso na Zona Portuária do Rio de Janeiro, um de seus edifícios mais tradicionais torna-se patrimônio cultural. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) aprovou no último dia 03 o tombamento do edifício do jornal A Noite, situado junto à Praça Mauá e próximo ao começo a Avenida Rio Branco.

Construído no lugar do antigo prédio do Liceu Literário Português, em 1928, o edifício A Noite - cujo jornal era propriedade de Irineu Marinho, antes deste fundar o jornal O Globo, um dos veículos mais antigos das Organizações Globo - foi um projeto arquitetônico, em estilo art déco e dotado de concreto armado, do francês Joseph Gire, autor dos edifícios do Copacabana Palace e do Palácio Laranjeiras, e Elisiário Bahiana, com cálculo estrutural feito pelo engenheiro Emílio Baumgart.

O prédio é considerado o primeiro arranha-céu construído no Brasil, situado na antiga capital do país, e foi uma das construções que simbolizaram a modernização da cidade do Rio de Janeiro depois das transformações iniciadas pelo prefeito Pereira Passos no começo do século XX. Numa cidade onde os prédios tinham, no máximo, oito andares, o edifício A Noite conta com 22 andares.

O edifício, além de abrigar a sede do jornal A Noite, abrigou também filiais de empresas estrangeiras como a companhia aérea Pan Am e a indústria Philips. A origem da Rádio Nacional, inaugurada em 1936, está justamente no fato de que, antes de ter esse nome, a emissora havia sido a Rádio Philips, inaugurada em 1930.

Estatizada pelo Estado Novo de Getúlio Vargas em 1940, a Rádio Nacional inaugurou a Era de Ouro do rádio brasileiro, com diversas atrações que variavam dos musicais às rádionovelas, do radiojornalismo ao humorismo. E, situando-se na Praça Mauá, o edifício sede deixava sua marca com a frequência de artistas e atores como Emilinha Borba, Marlene, Paulo Gracindo, Ademar Casé, Francisco Alves e tantos outros.

Nessa época, a Praça Mauá não tinha o viaduto da Perimetral, que havia sido inaugurado completamente em 1962 e que hoje constitui numa triste paisagem da Zona Portuária, então condenada ao abandono e a ser um reduto de consumo de drogas, prostituição e assaltos.

Com o porto e a avenida principal vistos a céu aberto, a visão da Baía da Guanabara através do porto do Rio de Janeiro era belíssima, e do alto do edifício A Noite - atualmente chamado Edifício Joseph Gire - , dava para observá-la nas mesas do restaurante que ficava no terraço.

Do outro lado, dava-se para ver o restante do centro carioca, incluindo a Central do Brasil e a atual Avenida Presidente Vargas, logradouro construído no lugar de um antigo bairro com muitas residências, comércio e duas igrejas, das quais resta hoje a Igreja da Candelária.

Entre as décadas de 1940 e 1950, a Praça Mauá viveu um período de glamour, e junto ao Edifício A Noite, havia também o Terminal Rodoviário Mariano Procópio, inaugurado em 1950 para abrigar as linhas rodoviárias intermunicipais e interestaduais, que dava um complemento ao transporte marítimo no movimento de pessoas de várias partes do Brasil para o Rio de Janeiro.

O terminal rodoviário foi o primeiro interestadual a ser inaugurado no Estado do Rio de Janeiro, e atualmente está desativado para dar lugar a uma Escola de Artes e uma Pinacoteca, que pretendem dar um novo significado à vida cultural da área juntamente com o já existente Museu de Arte do Rio de Janeiro.

FONTES: IPHAN, O Globo.

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