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REDE GLOBO E A MÚSICA BREGA-POPULARESCA



Por Alexandre Figueiredo

Poucas pessoas entendem, mas a hegemonia da música brega-popularesca, o milionário mercado da mediocridade musical herdada da música brega dos anos 70, foi favorecida pelos mecanismos das relações entre mídia e poder desde a ditadura militar. Apesar de haver muitos defensores se esforçando em desmentir essa influência, alegando que a mediocridade musical dominante nas rádios e TVs de nosso país resultam numa "nova forma de cultura popular", supostamente sem a influência de qualquer veículo da grande mídia, a verdade é que a música brega-popularesca - a suposta "música popular" das rádios mais ouvidas no país - nada seria se não fossem os conchavos entre a grande mídia, sobretudo a Rede Globo de Televisão, e o poder político que ela respaldou nos últimos anos.

Historicamente, a música brega-popularesca se iniciou a partir de rádios AM interioranas e de gravadoras como Odeon, Copacabana e Continental-Chantecler desde meados dos anos 60, e, na década de 70, através de emissoras de televisão como Tupi, Record, TV Studios e Bandeirantes, além de apresentadores como Sílvio Santos, Raul Gil e Edson "Bolinha" Curi. Ao longo dos anos 70 e 80, esse era o cenário da música brega, respaldado por emissoras de televisão com audiência mediana e voltada para as classes C, D e E da estratificação sócio-econômica oficial.

Mas, ainda nos anos 80, e sobretudo depois de 1985, a transformação da música brega num mercado hegemônico que ameaça a sobrevida da própria MPB - convertida num filão cada vez mais marginalizado - não se deveu por suposta "revisão" estética nem intelectual da cultura popular, nem por uma pretensamente inocente assimilação das "modernas" lições da cultura pop internacional, mas, muito antes, por fatos político-midiáticos que favoreceram o crescimento de um tipo de mídia popularesca que, antes dedicada a prostíbulos e botequins rurais, hoje procura ingressar, de preferência pelas portas da frente, até mesmo nos lares mais abastados e nas universidades de todo o Brasil.

DIVULGAÇÃO NADA INOCENTE - Faz sentido realmente que a mediocridade musical, de cantores que mal sabem direito o que é a verdadeira música caipira, o verdadeiro samba, que são influenciados claramente, mas nem sempre de forma assumida, pela música brega dos primórdios, terem seus trabalhos divulgados de forma inocente por redes de supermercados e de eletrodomésticos, de emissoras de TV e rádio FM controladas por grandes grupos de comunicação, de caráter nacional e também regional?

Não, não faz. Que interesse tem divulgar um conjunto de "samba" que se limita a reproduzir caricaturalmente elementos musicais de nomes como Lionel Richie e Manhattans, juntando a isso uma letra de poesia sofrível e instrumentos de samba mal tocados? Ninguém nasce sabendo na vida, mas faz sentido valorizar, até o extremo, a mediocridade musical que aparece bem evidente nas gravações de discos e nas apresentações ao vivo?

No Brasil mitificado como um país inocente, que o moçambicano Ruy Guerra, em letra musicada por Chico Buarque, ironizou com a frase "não existe pecado no lado de baixo do educador", parece ter sentido, sim. Como se, no Brasil das maravilhas, onde até políticos como Paulo Maluf conseguem se reabilitar diante da opinião pública, não existisse grande mídia, não houvesse música comercial, e se vê grande sambista até em quem se limita a rebolar de sunga na praia. Exalta-se a mediocridade musical como uma suposta democracia, como se só por sermos um país tropical vale tudo na vida, a libertinagem, para muitos, rima com o sol e com o céu azul.

Mas até essa visão pode ser tendenciosa. De repente, a própria grande mídia domina e tenta dar a impressão de que não está de forma alguma dominando. Para manter o poder, ela anula a imagem desse poder aos olhos dos seus dominados. Por isso a ideia da grande mídia e do comércio divulgar "inocentemente" a música brega-popularesca esconde o poder que as elites exercem na manipulação da cultura popular.

Afinal, por que não temos mais novos grandes sambistas, grandes violeiros, grandes compositores de música popular fazendo sucesso entre o grande público de forma definitiva? Grandes artistas de qualidade até fazem sucesso, mas fazem o papel de meros coadjuvantes de um mercado dominado pelos ídolos popularescos, aqueles que imitam Lionel Richie em pseudo-sambas, ou que imitam Bee Gees em falsas modas de viola.

BREGA E CONTROLE SOCIAL

Enquanto a música brega permanecia no seu mercado fechado, de emissoras AM, umas poucas FMs popularescas, da TV Bandeirantes e do SBT e do comércio de camelôs, ninguém desconfiava de suas intenções de dominar o país. Tanto que o historiador oficial da música brega-popularesca, Paulo César Araújo, e seu equivalente "moderno", o antropólogo Hermano Vianna, não creditam qualquer manobra tendenciosa envolvendo os ídolos popularescos. Pelo contrário, Paulo César Araújo, numa retórica sedutora, tenta convencer, no melhor esquema "Foi sem querer querendo" do comediante mexicano Chavez, de que a música brega, "sem querer fazer protesto", era "música de protesto".

A ideia, bastante discutível, de que a música brega foi a "música de protesto" brasileira, venceu pelo sentimentalismo. Mas há muitas falhas, se considerarmos a tese como verídica. Primeiro, como é que uma "música de protesto" pudesse, automaticamente, surgir e desaparecer juntamente com o AI-5 (o ato institucional da ditadura que previa mais censura e repressão), como se acionasse um botão de emergência? Segundo, por que essa "música de protesto" não apareceu junto com as manifestações pela redemocratização do país? Terceiro, por que os ídolos cafonas, tão carinhosamente defendidos por Paulo César Araújo, não conseguiram ser tão adorados quanto os grandes artistas da MPB autêntica (que Araújo jocosamente apelida de MPBzona), se limitando apenas a ser menos atacados?

A música brega foi um instrumento ideológico das elites conservadoras para manobrar culturalmente o povo. A ideologia cafona previa um povo desajeitado, feliz com sua situação de inferioridade, e não é por acaso que os primeiros redutos dos ídolos cafonas foram as zonas rurais, controladas pelo latifúndio, e seus redutos foram os prostíbulos (ambientes de subemprego feminino) e botequins (onde o alcoolismo consolava a revolta resignada dos miseráveis).

O povo cafona era condenado ao subemprego, ao alcoolismo, à prostituição, ao comércio clandestino, à inferioridade social imposta pelas elites em reação ao crescimento das Ligas Camponesas e às mobilizações sociais expressas pelos sindicatos, pelo catolicismo de esquerda (Teologia da Libertação) e pelo movimento estudantil. Não é coincidência que os primeiros discos de Waldick Soriano tenham surgido na mesma época dos "institutos" IBAD e IPES, na prática os "partidos políticos da burguesia", que condenavam os movimentos sociais e contribuíram para o estabelecimento da ditadura militar para fazer extinguir as conquistas obtidas pelo nacional-trabalhismo e aperfeiçoadas pela mobilização de esquerda, mesmo aquela que discordava do nacional-populismo e do comunismo do "partidão" (PCB).

Por isso mesmo, um povo subordinado e resignado, embora indignado com sua miséria, torna-se fácil para a efetiva dominação das classes dominantes, que tão cedo pensavam em controlar não somente pela via política e econômica, mas também pela via cultural.

O CRESCIMENTO DA REDE GLOBO

A Rede Globo de Televisão foi o principal projeto midiático de sustentação dos grupos de poder representados pela ditadura militar e pela sua base de apoio civil. Surgiu em 1965 como resultado de uma transação ilegal feita desde 1962 com a empresa estrangeira Time-Life, dos EUA.

A princípio sua programação era considerada sofisticada, num tempo em que sofisticada também era a televisão em geral. Mesmo nos primeiros anos da ditadura, a programação seguia um perfil de qualidade que permitiu, por exemplo, que a TV Record de São Paulo transmitisse programas com artistas da MPB autêntica, como Jair Rodrigues, Elis Regina e Wilson Simonal. E a própria Record, como outras emissoras, transmitiam festivais de música brasileira, redutos do que hoje conhecemos como a MPB moderna, uma fusão do requinte melódico da Bossa Nova com o regionalismo engajado dos CPC's da UNE.

Para se ter uma ideia da fase televisiva da época, os chamados 'quiz shows' incluíram até questões sobre História e filosofia. Falando em filosofia, o prestigiado intelectual Jean-Paul Sartre pôde viver seus momentos de celebridade na tV, quando veio ao Brasil em 1960, cinquenta anos antes de qualquer cidadão inexpressivo tornar-se célebre por tão poucas bobagens.

A Rede Globo herdou o formato vanguardista da TV Excelsior, emissora que começava a ameaçar a pioneira TV Tupi, então líder em audiência na TV. A Globo - inicialmente, a TV Globo do Rio, mas em 1966 a TV Paulista, com Sílvio Santos e tudo, se transformou na atual TV Globo São Paulo - só não assimilou o potencial político-ideológico da emissora de Wallace Simonsen, o dono da Panair que investiu na emissora de TV simbolizada, na propaganda, por um casal de crianças.

Ao longo dos anos 60 e 70, a Rede Globo, sob o comando de profissionais como Walter Clark e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, entre outros, adotou um estilo de programação ao mesmo tempo popular e sofisticada, e a aliança do empresário Roberto Marinho (que já colaborava no IPES na sua engenhosa campanha para tirar João Goulart do poder) com os militares permitiu que se investisse no crescimento da rede televisiva das Organizações Globo, que atingiu um alcance que o jornal O Globo e a Rádio Globo não conseguiram.

Por isso, ao chegar o final dos anos 70, a Rede Globo já era considerada a líder em audiência televisiva em todo o país. A TV Tupi estava em processo de falência, concluído em 1980. A TV Excelsior já havia sido extinta em 1970. A Rede Record já não estava mais na sua fase áurea dos anos 60, e o SBT engatinhava com as duas afiliadas da TV Studios de Sílvio Santos, no eixo Rio-São Paulo, vitoriosas numa competição de concessões que teve o Grupo Abril e o Jornal do Brasil no páreo.

A BREGALIZAÇÃO DA REDE GLOBO

Foi preciso um contexto de concorrência entre emissoras de TV para que a música brega se expandisse por todo o país. Com a redemocratização do país e com os primeiros escândalos envolvendo a Rede Globo - como o caso Proconsult, das manobras para adulterar o favoritismo de Leonel Brizola para o governo do Rio de Janeiro, e a omissão de seus telejornais em divulgar as campanhas pela redemocratização do país - , as demais concorrentes na televisão, tal qual na imprensa (com o poderio do jornal O Globo desafiado pelos concorrentes jornais paulistas e carioca - o Jornal do Brasil - no âmbito nacional), buscavam acirrar a competição midiática. Certamente, muita gente exagerou, superestimando a cobertura da TV Bandeirantes e da Folha de São Paulo, paradigmas da mídia oposicionista naquela época (1983-1984), nos movimentos pela democratização do país, quando os dois veículos estavam do outro lado, defendendo o golpe militar em 1964.

Com o SBT, Bandeirantes e as AMs e FMs popularescas priorizando a divulgação de cantores e conjuntos bregas e aumentando seu poder de mídia sobre o grande público, as Organizações Globo buscaram sutilmente investir no mesmo filão. No Rio de Janeiro, por exemplo, a rádio 98 FM tirou do ar a Eldorado FM - que, apesar de conhecida como Eldo Pop, era dedicada ao rock clássico - e pôs no lugar uma programação enfatizada no brega romântico.

Mas foi em 1985 que a Rede Globo, contratando a dupla de ex-músicos da Jovem Guarda, Michael Sullivan (ex-Fevers) e Paulo Massadas (ex-Lafaiette & Seu Conjunto), promoveu a expansão da ideologia brega em todo o Brasil, rompendo com os limites das classes C, D e E. Era, todavia, a segunda parte de seu trabalho de controle social, uma vez que, antes, o trabalho era de diluir e pasteurizar a MPB propriamente dita, através de outra dupla, Lincoln Olivetti e Robson Jorge, com base em outra diluição, que foi a do cantor Roberto Carlos que, em 1976, abandonou a boa fase 'soul' para abraçar o brega romântico de vez. Se Roberto Carlos tornou-se o Elvis brasileiro, a Rede Globo tornou-se seu Coronel Parker. Não por acaso, Lincoln, Robson, Michael e Paulo se reuniram para compor "Amor Perfeito", para Roberto Carlos gravar. Parecia uma comemoração pelo trabalho completo de enfraquecimento da música brasileira 'mainstream'.

Sullivan & Massadas recrutaram tanto cantores bregas como José Augusto (da geração pós-Odair José de Fernando Mendes, Sílvio Brito e Nahim) e não-cantores como Xuxa quanto medalhões da MPB contratados pela RCA-Victor (então tendo outro ex-Fevers como diretor-artístico, Miguel Plopschi), como Alcione, Roupa Nova e Fagner, para seu esquema de juntar a MPB pasteurizada pelo padrão Olivetti-Jorge com o projeto de transformar a música brega setentista numa pretensa "cultura superior".

A influência de Sullivan & Massadas, no entanto, se estenderia até mesmo fora da RCA, em artistas como Rosana Fiengo (que nos anos 70 fazia 'soul music' e se consagrou nos anos 80 pelo sucesso "Como uma Deusa"), e Simone. Esta última, aliás, foi o símbolo da pasteurização da MPB em discos grandiloquentes, superproduzidos, com excesso de baladas românticas comercialmente calculadas, e no fim dos anos 80 chegou a gravar a própria dupla Sullivan & Massadas e uma outra música do "pupilo" deles, José Augusto.

O resultado disso tudo influenciaria decisivamente a geração neo-brega dos anos 90 em diante, sobretudo através de Alexandre Pires (desde seus tempos no Só Pra Contrariar), Leandro & Leonardo, João Paulo & Daniel, Exaltasamba, Negritude Júnior e muitos outros.

O maior reduto da música neo-brega - filha por inseminação do brega setentista com a MPB pasteurizada - foi o programa Domingão do Faustão. Criado em 1989 para preencher o nicho de entretenimento deixado vago depois da morte de Chacrinha, foi resultado da contratação do ex-apresentador da TV Bandeirantes, Fausto Silva.

A princípio, o Domingão herdaria o vanguardismo do programa Perdidos da Noite (que Faustão apresentou na Record e na Band), e chegou até a receber o cantor Raul Seixas no final de sua vida (então lançando o disco em parceria com Marcelo Nova). Mas o programa não tardou a ser o Olimpo dos ídolos neo-bregas, que praticamente faziam rodízio para aparecer semanalmente no programa, determinando o gosto cultural da classe média e das classes populares.

GLOBO, POLÍTICA E BREGA: TUDO A VER

No entanto, pouco antes de Fausto Silva animar as tardes dominicais brasileiras, um fato político e midiático contribuiu decisivamente para a expansão do brega-popularesco e para a multiplicação de tendências derivadas da música brega - sobretudo os neo-bregas que simbolizam uma falsa MPB - , a princípio como modismos isolados, que a crítica definia como "monocultura", e, depois, juntas, são relançadas sob o pretenso rótulo de "diversidade cultural".

Em 1985, o então presidente da República, José Sarney, e seu ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, promoveram um esquema de concessões de rádio e TV baseado no clientelismo, bem à maneira dos antigos "coronéis". Os dois tornaram-se conhecidos por liderar oligarquias em seus Estados de origem, Sarney no Maranhão e Magalhães na Bahia. Ambos, também, eram originários da UDN, o temível partido conservador que, aparentemente extinto, teve seu projeto político herdado fielmente por sucessivos partidos (ARENA, PDS, PFL e DEM).

Sarney e Magalhães praticamente desenharam o quadro da mídia radiofônica e televisiva dos anos 90 em diante, concedendo emissoras para aliados. Juntamente à farra de concessões, Magalhães ainda fez transações com Roberto Marinho com a empresa de telecomunicações NEC e também com a mudança de representação das Organizações Globo na Bahia, transferida do Grupo Aratu, de Joaci Góes, para a futura Rede Bahia, dos familiares de Antônio Carlos Magalhães.

A farra de concessões é subestimada por muitos críticos, que acreditam ela ter se limitado a deputados interioranos ou de regiões como Norte e Nordeste, da mesma forma que creem que o episódio está há muito superado. No entanto, a farra de concessões envolveu grandes políticos e mesmo empresários "independentes" e "idôneos", e seus reflexos continuam até hoje.

As concessões fizeram multiplicar a quantidade de emissoras FM popularescas, a ponto de todo um cenário brega-popularesco se multiplicar e se estabilizar, sob amplo apoio da Rede Globo e das oligarquias regionais que, não obstante, patrocinam festivais com ídolos popularescos.

Desta maneira, a cultura popular dava lugar a uma "cultura" midiatizada, cujos referenciais não eram mais aqueles socialmente compartilhados pela população, mas os referenciais impostos pela programação de apelo populista das emissoras de rádio e TV. Isso já se dava nos primórdios da ideologia brega, mas tornou-se intenso com as articulações de Roberto Marinho, Antônio Carlos Magalhães e José Sarney. Uma aliança que os adeptos e defensores da música brega-popularesca se recusam a admitir, crentes ainda na tese da "inocente" divulgação pela grande mídia, como se isso fosse um acaso.

A influência da Rede Globo é tal que na aparência os ídolos neo-bregas, como Alexandre Pires, Zezé Di Camargo & Luciano, Chitãozinho & Xororó e Chiclete Com Banana, estabeleceram mudanças. Sem representar uma real evolução artística e musical, os ídolos neo-bregas tiveram que mudar no vestuário,

A ideologia brega representa, assim, uma idealização do povo bem ao sabor etnocêntrico da classe média. Os adeptos do brega reclamam muito de que o "outro" é mal-compreendido, quando eles são os primeiros a distorcer a visão do outro, transformando, neste caso, o povo pobre numa multidão de "bons selvagens", patéticos, caricatos, resignados. Um povo quieto e submisso, medíocre nos seus desejos, crenças e vontades. Medíocre na sua "expressão cultural", estranhamente patrocinada com entusiasmo pelas classes dominantes regionais e nacionais. Mesmo por quem, pessoalmente, não se interessa em apreciar a música brega e outros valores relacionados à cafonice.

CONCLUSÃO

A música brega-popularesca não está acima da mídia, e não representa senão uma "cultura de massa" movida pelo poder da grande mídia. Por trás de seus ídolos, há todo um esquema empresarial ligado ao entretenimento, e a grande corporação que simboliza as Organizações Globo, sobretudo através da Rede Globo de Televisão, torna-se a expressão máxima desse esquema.

Omitir o papel da Rede Globo no crescimento da suposta "música popular" que predomina nas emissoras de rádio FM é ignorar a realidade que acontece da forma mais explícita. É ignorar que o sucesso dos ídolos da música brega-popularesca se fortaleceu não pela força do acaso, mas pela ajuda de uma das maiores corporações de mídia do Brasil, sem a qual os mesmos ídolos dificilmente teriam a mesma projeção hegemônica no mercado do entretenimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SODRÉ, Muniz. A comunicação do grotesco. 10.ed. Petrópolis, Vozes, 1985.
TAME, David. O poder oculto da música. Tradução Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix, 1997.
TINHORÃO, José Ramos. Música popular: um tema em debate. 3.ed. São Paulo: Editora 34, 1997.
ZEGAIB, Aniz Tadeu. Central da Periferia: o declínio do povo brasileiro.. Extraído do endereço http://www.observatoriodaimprensa.com.br. Publicado em 10 de abril de 2006. Consultado em 30 de abril de 2006.

Comentários

Você citou aí o Raul que ia no Faustão no começo...mas o Raul ia na contramão...ia no Bolinha, se não me engano no Raul Gil. Inclusive O Nova faz questão de afirmar que Raul Gil deu grande impulso na sua carreira (pasme). Eu acho isso paradoxal, o Raul e outros como Jair Rodrigues estão nos anais da MPB, mas circulam por outros meios. Um dia vi Jair cantando no Ratinho com uma desenvoltura que só vendo e na semana seguinte o vi na TV Cultura e isso não causa estranheza. Fale Elis Regina e vem logo na memória Jair que fez dueto com ela. E isso não causa estranheza. Eu gostaria de ver mais cantores de verdade circulando nesses territórios. Se você está numa batalha, não escolhe territórios, tem que ir lá.

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