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COMUNIDADES INDÍGENAS DO ALTO-XINGU SÃO PATRIMÔNIO CULTURAL



Por Alexandre Figueiredo

As duas localidades situados no Mato Grosso que são considerados pelas tribos indígenas do Alto-Xingu como lugares sagrados tornaram-se patrimônio cultural por iniciativa do IPHAN.

O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional aprovou há cinco dias, por unanimidade, o pedido de tombamento das localidades de Sagihengu e Kamukuwaká, feito por iniciativa das etnias Waurá, Kalapalo e Kamayurá e reforçado pelos técnicos do IPHAN.

Sagihengu e Kamukuwaká são lugares que fazem parte do Kwarup, a maior festa ritualística realizada pelos povos do Alto-Xingu. Nove etnias que formam seu complexo sócio-cultural participam, de forma compartilhada, dos rituais. Todavia, as duas áreas ainda estão fora do território demarcado pelo Governo do Parque Nacional do Xingu.

Observando essa limitação, os grupos indígenas formularam, em 2008, um pedido para o IPHAN de transformação da área em patrimônio cultural, garantindo a conservação e também o acesso da comunidade ao local. Outro objetivo é garantir a preservação de valores culturais, através da transmissão de valores espirituais e religiosos tradicionais entre os indígenas e que são transmitidos e expressos através desses rituais.

De acordo com o representante dos 14 povos indígenas do alto-Xingu, Ianacolá Rodarte, índio da etnia Kamayurá, afirma que a festa do Kwarup é vital para a existência da comunidade e que os lugares sagrados de Sagihengu e Kamukuwaká podem exercer também uma importância de monumentos não-indígenas, como um meio dos leigos reconhecerem o valor histórico, social e cultural dos povos indígenas do Alto-Xingu. "Estes lugares tem a mesma relevância para nós, quanto os lugares sagrados de outros povos como Meca, Jerusalém, Cristo Redentor, etc.", afirmou Ianacolá.

Os limites originais do Parque Nacional do Xingu foram reduzidos e sua área é menor que o território original da ocupação indígena. Boa parte da área das nascentes do Rio Xingu foram ocupadas por pólos agropecuários, restringindo o território atual numa área de 30 mil km². Nesse território, vivem 14 povos indígenas, espacialmente divididos entre povos do alto, do médio e do baixo Xingu.

Durante o processo de avaliação para o tombamento, foi realizada intensa pesquisa, já dois anos antes do pedido de tombamento de Sagihengu e Kamukuwaká. Durante esse trabalho, os técnicos do IPHAN realizaram registros textuais, fotográficos e videográficos, como meio de desenvolver e sistematizar uma documentação que seja capaz de apresentar dados sobre o objeto estudado, que envolve valores de patrimônio material e imaterial.

Para a diretora do Centro Nacional de Arqueologia do IPHAN, Maria Clara Migliacio, o tombamento dos lugares sagrados representa, além da ampliação das perspectivas de atuação do Patrimônio Histórico junto aos povos indígenas, como reafirma a ampliação do interesse do instituto por bens culturais que ainda não foram devidamente considerados dentro de 73 anos de existência. Ela acrescentou que esse novo interesse se encontra em acordo com os novos paradigmas mundiais de preservação do patrimônio histórico e cultural da humanidade.

Apesar dos povos do Alto-Xingu fazerem parte de diferentes etnias, eles compartilham uma unidade sócio-cultural muito expressiva. A unidade se expressa através dos mitos, ritos, cerimônias, um sistema de trocas de bens materiais e especialidades artesanais que manifestam um sentimento comum de identidade e pertencimento cultural.

Um dos mais expressivos eventos de reunião dessas etnias é a festa do Kwarup. É uma festa ritual que celebra um novo ciclo para a comunidade, celebrada à memória póstuma de chefes e líderes, a transição do luto e da tristeza para um tempo de renovação espiritual através da alegria, e acontece normalmente no mês final da estação seca na região, que é agosto e, às vezes, setembro. A aldeia que perdeu o parente homenageado torna-se "dona" da festa, responsável pela alimentação dos convidados para evitar mal-entendidos.

No Kwarup, Sagihengu é considerado o lugar de início das cerimônias, e onde as comunidades indígenas afirmam ter acontecido o Primeiro Kwarup em homenagem a uma mulher, que teria sido uma matriarca ancestral. É o lugar onde se encontra remédio para ter saúde e vida longa, além de renovar o espírito.

Já o abrigo rochoso Kamukuwaká é o sepulcro, lugar de vida e morte, lugar de prisão e sepulcro, mas também de renascimento. Seu nome é homenagem a um antigo cacique, ali sepultado junto aos parentes. Segundo sua crença, essa família teria sido castigada pelo Sol, invejoso de sua beleza, e Kamukuwaká tornou-se ancestral dos povos Waurá. No local ocorre o ritual chamado furacão de orelhas, que celebra a transição entre o menino e o homem adulto.

Os dois lugares foram mapeados entre 2005 e 2008 por um programa de pesquisa do Patrimônio Cultural, de caráter interdisciplinar que envolveu universidades locais e contou com a colaboração dos próprios povos indígenas. O projeto de apoio para as áreas de Sagihengu e Kamukuwaká foi inscrito no Prêmio Rodrigo Melo Franco foi inscrito na categoria apoio institucional e saiu vencedor em 2008, o que permitiu estabelecer recursos para o tombamento dos lugares sagrados.

FONTE: IPHAN.

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