Por Alexandre Figueiredo
Morreu na manhã de ontem, de falência múltipla dos órgãos, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o advogado, empresário e bibliófilo José Mindlin. Ele era membro da Academia Brasileira de Letras e, já doente, havia doado em 2009 todo o seu acervo de livros para a USP, transformando-a na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Seu acervo de livros é considerado o maior acervo particular do país.
Descendente de judeus, Mindlin nasceu em 08 de setembro de 1914, na cidade de São Paulo, a mesma onde encerrou sua vida, em 28 de fevereiro de 2010. Formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e exerceu durante alguns anos a profissão de advogado. Mais tarde, trocou a profissão pela de empresário, no comando da indústria de autopeças Metal Leve.
Mas nunca deixou de ser um colecionador e leitor de livros. Quando se aposentou da profissão de empresário, realizou outras atividades, entre elas a de integrar a Sociedade de Cultura Artística.
Nos anos de chumbo, José Mindlin, por sua visão humanista, chegou a ser classificado como "homem de esquerda" pelo empresário Henning Boilesen, dono do grupo Ultra e colaborador da Operação Bandeirantes (OBAN), órgão de tortura do regime militar. Por isso, Boilesen foi sequestrado e morto por um grupo esquerdista, em abril de 1971.
Mindlin, no entanto, pelo seu caráter ideologicamente neutro, foi chamado pelo governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins - que, como líder estudantil, chegou a transformar a UNE numa organização direitista, nos anos 50 - para assumir a Secretaria de Cultura. Mindlin convidou o jornalista Wladimir Herzog para dirigir a TV Cultura de São Paulo e, quando Wlado, como era conhecido o jornalista, foi torturado e morto pelos militares do DOI-CODI (nome posterior da OBAN), e depois tido por estes como "suicida", o bibliófilo reagiu energicamente e se demitiu do cargo de secretário de Cultura.
José Mindlin define o livro como uma das tecnologias mais fascinantes e duradouras criadas pelo homem, e acreditava ser uma tecnologia difícil de ser superada. Ele acrescentou que sua importância na contribuição para a nossa cultura e para a nossa resistência é inegável. Seu acervo bibliográfico conta com muitas raridades, incluindo as primeiras edições de várias obras de Machado de Assis e outras preciosidades, várias delas obtidas em sebos.
Mindlin havia doado cerca de 40 mil títulos para a USP, que vai compor a nova biblioteca, a Biblioteca Brasiliana Guida e José Mindlin (Guida foi o nome da esposa de Mindlin, também falecida), que estará pronta em maio do próximo ano. Certa vez, Mindlin afirmou sobre sua biblioteca: "Nunca me considerei o dono desta biblioteca. Eu e Guita éramos os guardiães destes livros que são um bem público".
FONTES: FOLHA ON LINE, AGÊNCIA ESTADO, PORTAL G1 (BLOGO), Wikipedia.
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