Por Alexandre Figueiredo
Pode parecer surreal e até esquisito para muita gente que acredita numa realidade sempre linear e prosaica, presa no mundo das aparências. Mas a verdade é que o Brasil, ultimamente, age como se fosse uma concessão da Faria Lima, a elite empresarial paulistana que atua como se fosse uma versão tropical do Illuminati, a elite europeia responsável por elaborar o modelo de mentalidade a ser dominada pela sociedade.
Se hoje vivemos uma sociedade hipermidiática e hipermercantil, com pessoas vivendo a obsessão frenética de ver os reels das redes sociais, como o Instagram e Tik Tok, de forma ainda mais intensa que o Facebook, é por influência de toda uma engenharia de valores que executivos, publicitários, psicólogos e famosos engajados na máquina culturalista da Faria Lima desenvolvem de forma tão habilidosa que é feita para dar a impressão de que tudo isso flui como se fosse carregado pelo ar que respiramos.
Pouco importa se esse “ar puro” vem dos ares condicionados dos escritórios da Avenida Brigadeiro Faria Lima, a meca do empresariado brasileiro, incluindo filiais de empresas estrangeiras. O público é induzido a aceitar tudo, como se fosse uma imposição divina, e se deixar levar por gírias, ídolos, hábitos, valores e atos determinados pelo “espírito do tempo”.
A bregalização cultural, o obscurantismo religioso travestido de suavidade - como se nota no Espiritismo brasileiro, religião instrumento do culturalismo neoconservador, através de novelas e filmes associados - e até o vocabulário a ser falado pelos jovens, tudo isso vem de um planejamento estratégico da Faria Lima e sua mídia associada.
Sendo uma elite empresarial dotada de um forte senso publicitário, já que é parceira das maiores agências de publicidade de todo o Brasil, a Faria Lima tem a habilidade de captar a natureza emocional de qualquer faixa de público, estabelecendo assim um repertório de valores a serem não somente assimilados pelo respectivo público, mas também reproduzidos e consolidados no cotidiano comum.
Seja para reforçar uma religiosidade conservadora mas dócil, como o Espiritismo brasileiro, seja para promover o populismo lúdico da música brega-popularesca, seja para transformar uma gíria privada de jovens riquinhos, como “balada”, em um termo pretensamente atemporal e universal e seja até mesmo a usar um de seus veículos, a rádio 89 FM, para domesticar o público de rock, a Faria Lima estabelece estratégias de persuasão com seus canais de divulgação no rádio, na TV, na imprensa e nas redes sociais.
Em primeiro lugar, a Faria Lima recorre ao mercado e aos institutos de pesquisas para observar o comportamento padrão de um público. Em seguida, cria-se um padrão de linguagem, hábitos e sentimentos que crie estereótipos, como se criasse uma versão pasteurizada do público-alvo de dado fenômeno a ser lançado. A criação desse padrão tem que desenvolver apelos emocionais e estimulantes, de forma que a adesão possa ter um aspecto de aparente naturalidade.
Tudo isso criou uma domesticação de vários públicos conforme as classes sociais, as opções culturais e as faixas etárias. E isso é assustador, pois a influência de um grupo de empresários da Zona Sul de São Paulo é capaz de atingir o Brasil inteiro.
De repente, o "farialimês" atinge crianças, roqueiros, evangélicos e nordestinos ao fazê-los assimilar a gíria "balada", o jargão dos jovens ricos paulistas que, originalmente, significava "orgia de drogas sintéticas". E as parcerias com latifundiários do Norte, Nordeste ou mesmo do Triângulo Mineiro, entre Goiás e Minas Gerais, podem influir nos padrões domesticadores do povo brasileiro através da religião ou da cultura musical.
A Faria Lima pode até mesmo atuar como "torcida organizada" monitorando eventos sobre futebol a ponto de transformar campeonatos em "manias nacionais", mesmo quando as vésperas desses eventos sejam marcadas por aparente indiferença do público em geral.
Mas isso não basta. A Faria Lima também é capaz de tornar "hábitos" elementos da cultura estadunidense, como a festa do Halloween e, ultimamente, os torneios de futebol americano da NFL (National Football League). Mas nada se compara ao investimento que se faz para tornar o cantor Michael Jackson (1958-2009) ao mesmo tempo uma mania brasileira e uma pretensa novidade, a ponto de criar falsas atribuições a ele, como "astro do rock" e "ativista político".
Mentir, para a Faria Lima, faz parte do negócio e atrai mais lucros. Como relançar uma canção de valor medíocre, "Evidências", do cantor brega José Augusto e interpretada pela dupla Chitãozinho & Xororó. A canção tornou-se "clássico" de graça, quando uma observação mais apurada mostra que a glorificação da música não tem a menor razão de ser. A canção ganhou até uma pretensa reputação de "sofisticada", por conta das falácias da elite da Faria Lima.
Desde a crise do "milagre brasileiro", que não atingiu a burguesia que foi a maior beneficiada, a ditadura militar precisava de um meio para evitar a revolta popular. E aí veio o think tank informal da Faria Lima, que atuou, na Era Geisel, como uma espécie de IPES-IBAD sem o paletó e a gravata, mas empenhada em "penetrar" nos sentimentos da maioria possível de todo o povo brasileiro.
Para isso, até mesmo os "vilões" tinham sua lista seletiva. Viralatismo cultural se limitaria a ser uma submissão meramente política e comercial aos EUA, como, hoje, na apreciação do presidente Donald Trump. Não se podia dizer que o requentamento do sucesso de Michael Jackson (considerado decadente no seu país de origem) no Brasil seria expressão desse viralatismo.
Da mesma forma, o obscurantismo religioso se limitaria ao neopentecostalismo e seus pastores e "bispos" com discurso histérico e raivoso. Não se podia considerar dessa forma os discursos dos "médiuns espíritas" e suas ideias dignas da Idade Média, mesmo quando essas ideias apelam para os oprimidos sofrerem calados e resignados.
A própria assimilação dos ideais do "jornalismo da OTAN", que definem "culturalismo" como um eufemismo para propagandismo político manipulador, faz a Faria Lima disseminar a falácia do "culturalismo sem cultura", enquanto faz com que a deterioração da cultura popular pelo brega-popularesco seja um fenômeno classificado pela suposta "pureza e inocência" das classes populares, por mais que seus fenômenos sejam patrocinados por grandes empresários e fazendeiros.
Desse modo, se observa o fenômeno perigoso de uma meia dúzia de empresários ter o Brasil inteiro nas palmas de suas mãos, com um assustador poder de influência sobre a população brasileira, através dos canais de divulgação nas TVs, rádios, imprensa e Internet. E se decisões de escritórios passam a influir até nas feiras livres do Nordeste, significa que a Faria Lima está, há cerca de cinco décadas, manipulando o país, sem que a maior parte dos brasileiros perceba. E isso é muito grave.
FONTES: UOL, Carta Capital, G1, Blogue Linhaça Atômica.
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