APESAR DOS EVIDENTES PRIVILÉGIOS, AS ELITES BRASILEIRAS AGORA TENTAM SE PASSAR POR PESSOAS COMUNS.
Por Alexandre Figueiredo
Quando Lula se lançou candidato à Presidência do Brasil, em 2022, uma nova ordem social estaria prestes a chegar ao poder? Observando bem, não. Trata-se de uma velha ordem social que, repaginada e mudada na forma e em algumas posições - pois ela se torna mais contida em seus preconceitos sociais e no seu conservadorismo - , tenta se manter no poder, se livrando de antigos anéis para preservar seus dedos.
A embalagem "nova" da elite do bom atraso, uma direita moderada metida a ser "democrata e progressista" e que, trocando de coadjuvantes, subsituiu a extrema-direita fisiológica pela centro-esquerda aburguesada, não esconde que sua base cultural é a mesma dos tempos "flexíveis" da ditadura militar, entre a crise do "milagre brasileiro" no fim do governo do general Emílio Garrastazu Médici e o fim do governo do sucessor e também general Ernesto Geisel. Ou seja, entre 1974 e 1979.
O governo Lula, em seu mandato atual e, em tese, mais "decisivo" para o Brasil, poderia, em teoria, representar a volta ao protagonismo das forças sociais e culturais alijadas pelo golpe militar de 1964. Embora um ensaio da volta dessas forças ao protagonismo tivesse ocorrido nos anos 1980, a contrarreforma da Era Collor, que começou a operar uma estrutura de coronelismo midiático que reciclou e ampliou, em níveis quase totalitários, o culturalismo da Era Geisel.
Hoje o que temos, desde 1990, é a hegemonia e supremacia de uma estrutura sociocultural autoritária, meritocrática, financista, burocrática e, em relação ao povo pobre, depreciativa e paternalista. Há uma censura no âmbito das palestras, dos documentários e nas atividades acadêmicas, presas a padrões ideológicos supostamente "objetivos" que têm que corroborar com os paradigmas culturais vigentes na Era Geisel, como a bregalização cultural, o obscurantismo religioso e o atendimento meramente paliativo para as demandas das classes pobres.
Essa censura é feita sob duas desculpas básicas: manter a estabilidade social de 50 anos atrás e a estabilidade econômica das classes dominantes, agora convertidas em uma elite pretensamente generosa que agora protege seus privilégios através de uma aparente paz social.
Bastante "pragmática", essa sociedade apela para extremos na contratação de profissionais no mercado de trabalho. Exigem habilitação rigorosa para funções simples e apelam frequentemente para o etarismo, em evidente preconceito social, exigindo o padrão fantasioso do empregado com pouca idade e muito tempo de experiência.
Por outro lado, quando querem parecer flexíveis, levam em conta demais o senso de humor, como se funcionários "divertidos" fossem ideais para a integração social de uma equipe de trabalho. Em ambos os casos, o talento é posto em segundo plano, pois os critérios se alternam entre a burocracia, o etarismo e o "espírito de equipe".
Com o extermínio de "subversivos", com as necropolíticas dos crimes do campo, dos feminicídios e dos assassinatos de gente pobre nos subúrbios, a redução populacional por essas necropolíticas informais, na medida em que reduz a quantidade depessoas paradividir o bolo do crescimento econômico, as elitesse tornam mais sossegadas.
Com a pandemia da Covid-19, mesmo matando pessoas de todo tipo, também aliviou o privilégio da burguesia, que aproveitou a crise do governo Bolsonaro para atribuir unicamente a ele e seus pares pelos males históricos causados pelas classes dominantes no Brasil.
LULA SIMBOLIZA O "GOVERNO JANGO" QUE OS ANTI-JANGUISTAS SONHAVAM
A velha ordem social ganhou uma maquiagem de arrojada, moderna e futurista. Caprichando na informalidade aparente, a chamada "elite do bom atraso", a velha Casa Grande ressignificada para os tempos "democráticos" dos últimos anos.
A burguesia pós-moderna do Brasil de hoje tenta camuflar seus valores conservadores, mesmo quando eles vêm à tona. Mesmo quando remetem ao obscurantismo religioso de "pastores" e "médiuns" - tipos de pregadores religiosos patrocinados pela ditadura militar para tentar enfraquecer a mobilização opositora da Teologia da Libertação católica - , tentam, pelo menos no caso destes últimos, forjar um falso humanismo. Enquanto os "pastores" se tornam símbolos de uma suposta rebeldia oficialmente associada ao bolsonarismo, os "médiuns" do Espiritismo brasileiro, ainda que sob o mesmo apetite ultraconservador do bolsonarismo, estão associados a uma reputação mais "liberal" e "ecumênica", mais de acordo com o modelo de "democracia" defendido pela burguesia ilustrada que hoje apoia o governo Lula.
A classe dominante repaginada e transformada em uma elite oculta, travestida de "gente comum" e, por ter a posse plena do dinheiro, da vantagem do consumo pkeno de bens e serviços e da compra de cursos para formação técnica e profissional, se acha no "direito" de julgar os desejos, vontades, necessidades e méritos de todos, defendido por uma "democracia" tão restritiva quanto a da Grécia Antiga, apesar das diferenças de contexto e de beneficiados. Isso porque essa "democracia" simbolizada por um Brasil feito "um só país" e pela liderança "única" do presidente Lula, só serve a uns piucos privilegiados, favorecendo mais quem realiza festas barulhentas durante a madrugada do que aqueles que necessitam dormir mais cedo para trabalhar no dia seguinte.
Para ocultar seu passado elitista, simbolizado por seus antepassados do bandeirantismo, das oligarquias escravocratas, das aristocracias da República Velha e, recentemente, das elites que pediram o golpe militar de 1964, a elite do bom atraso, depois dos últimos surtos do golpe de 2016 e do bolsonarismo, resolveu agora "limpar sua imagem", atribuindo agora os males de toda a História do Brasil ao restrito grupo da família Bolsonaro e seus amigos e colaboradores diretos.
Com isso, os descendentes das antigas elites agora são "democráticos" e seu suposto humanismo se desenhou com o objetivo de sobreviverem ao naufrágio social da crise política pós-Covid. E, se seus avós defenderam de forma desesperada a queda de João Goulart, a elite do bom atraso aposta, no governo Lula no terceiro mandato, um "governo Jango" adaptado aos caprichos politicamente corretos da burguesia atual.
Mesmo quando defendem o elitismo velado da bregalização cultural que domestica o povo pobre e do assistencialismo burguês simbolizado por "médiuns" e outros filantropos "ecumênicos", que apenas minimizam a pobreza sem acabar com ela nem prejudicar os ricos, a elite do bom ateaso tenta parecer "humanista".
É uma elite meritocrática, moralista sem moral, hedonista no seu prazer abusivo pelo supérfluo e pelas emoções baratas, gananciosa, egoísta e privatista. Mas agora passou a defender, no discurso, a ideia do Estado forte, aparentemente dando um tempo no apetite privatista, que até poucos anos atrás fazia essa classe saltar da cadeira quando havia protestos contra os leilões de venda de estatais.
De repente, a nossa burguesia "passou a gostar" de marxismo, de Estado forte, de mitos como Ernesto Che Guevara, de Educação e Saúde públicas e de MST. A conversão ao esquerdismo é só aparência para essa burguesia ilustrada. Por trás desse comunismo de coquetel, desse socialismo de butique e de botequim, há a intenção dessa elite em pedir ao presidente Lula o financiamento de seus projetos de trabalho, para assim deixarem suas fortunas pessoais para o lazer hedonista.
Com isso, a iniciativa privada pode operar como se fosse uma instituição estatal, uma empresa pública. Tudo para reforçar a máscara "democratica" das elites historicamente associadas a atrocidades humanas que, agora, estão apenas na conta de Bolsonar, liberando caminho para as elites do dinheiro se passarem por "humildes" e "liberais", aparentemente isentos de qualquer culpa e se camuflando escondidos e espalhados entre pessoas do povo.
Fontes: Blogue Mingau de Aço, Blogue Linhaça Atômica, Universo On Line, Carta Capital, Quem Acontece, Brasil 247, Diário do Centro do Mundo.
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