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DO GOLPE CONTRA JANGO AO APOIO DE LULA: A BURGUESIA ILUSTRADA QUE MANDA NO BRASIL


Por Alexandre Figueiredo

O atual governo Lula tem a peculiaridade, admitida por poucos, de ser um governo mais voltado para o que o pensamento marxista define como "pequena burguesia". É uma elite cheia de dinheiro mas, em vez de ter o poder supremo de decidir o processo político e econômico geral, decidem o processo sociocultural a ser dominante dentro do modelo de diversidade social que estabelecem.

Vivemos sob uma ordem social que é a mesma que derrubou João Goulart em 1964. Embora as gerações recentes, inspiradas no identitarismo pós-tropicalista posterior a 1968, se alinhassem hoje ideologicamente ao lulismo, que representa um esquerdismo mais do que moderado, trata-se de uma mesma elite de classe média abastada, que pode não ter o poder político-econômico comparável ao dos banqueiros, mas é considerada formadora de opinião e de bom senso.

Alcançando o protagonismo pleno nos últimos meses, não se pide subestimar nem ignorar a função dessa elite como uma classe social delimitada no tempo, no espaço e no processo de obter privilégios e defender interesses específicos. Essa sociedade se faz de "invisível", como se ela fosse o conjunto de toda a humanidade, mas é necessário delimitá-la como uma elite específica e privilegiada.

Essa sociedade, embora relativamente heterogênea, é bastante limitada e padronizada na sua essência. Ela varia entre o pobre emancipado ao famoso muito rico que, apesar de ter uma fortuna comparável ao de banqueiros e empresários, nos casos mais extremos, não possuem poder de influência e decisão nos processos político-econômicos.

Seus costumes são muito estranhos, e podemos enumerar alguns deles:

1) Apelam para gírias um tanto estranhas, como "balada" (no sentido de agitos noturnos), um jargão originalmente privativo dos jovens da Zona Sul de São Paulo para definir rodízio de pílulas alucinógenas nas festas noturnas e que, graças à manobra conjunta da Jovem Pan e Rede Globo, se projetou como uma gíria pretensamente "universal";

2) Falam "dialetos" em inglês, como "boy", "body", "crazy", "delivery", "bike", no idioma português cotidiano;

3) Compram comida farta nos restaurantes, a preços relativamente caros, para depois jogar fora a maior parte do alimento no lixo, sob a desculpa de não ser uma elite esfomeada e que não tem tempo suficiente para completar a refeição, sugerindo uma vida, em tese, frenética e muito movimentada;

4) Adora aberrações de arquitetura urbana como os "parquiletes" (do inglês parklet), "currais" humanos, situados nos meios-fios das ruas, que integram estabelecimentos comerciais, mas vendem a falsa imagem de "praças públicas", e exibem uma estética forçadamente "americana", como se pudessem reproduzir o clima californiano nas cidades brasileiras;

5) Religiosamente, boa parte dessas pessoas, independente de religiões a que pertençam, gostam de postar frases de um conhecido "médium" ultraconservador e famoso por obras literárias fake com autorias supostamente atribuídas a personalidades mortas, famosas ou não;

6) Tratam o futebol não só com o fanatismo que se observa, também, entre os torcedores do mesmo esporte na Grã-Bretanha, Argentina, França e Itália, mas também de maneira glamourizada como se os atletas futebolistas fossem "apolos" brasileiros e "guerreiros" de um "combate" lúdico contra os times adversários, como uma "luta" para provar a "superioridade cívica da pátria brasileira";

7) Musicalmente, essas pessoas são mais inclinadas a ouvir sucessos popularescos - principalmente o brega mais antigo, tipo Odair José, e ritmos "alegres" como o "funk", a axé-music e o "pagode romântico - , que parecem mais "digestíveis" para ouvidos pouco exigentes e soam mais "divertidos" que a "velha MPB" que havia sido respeitada e admirada pelas antigas esquerdas universitárias dos anos 1960.

ANTI-VARGUISMO, ESTADO NOVO E DESBUNDE

A "nata" dos apoiadores de Lula de hoje pode se autoafirmar "tradicionalmente de esquerda", colocar um retrato de Ernesto Che Guevara no pôster, afirmar que leu Karl Marx sem mexer numa única página de sua trilogia O Capital nem chegar perto do Manifesto do Partido Comunista. Mas essas pessoas pertencem ao que os marxistas definem como "pequena burguesia", pela vida confortável que levam, a ponto de jornalistas da mídia esquerdista, lembrando os antigos fidalgos do Brasil-colônia, mandarem seus filhos para estudar faculdades no exterior.

E os ancestrais não são necessariamente gente de esquerda, muito pelo contrário, se assumindo de direita, se não formalmente, pelo menos nas atitudes. A árvore genealógica dos "esquerdistas" cool de hoje, com muito dinheiro a gastar com o hedonismo identitário, remete a uma elite bem menos progressista e moderna do que se pode imaginar mesmo em piores hipóteses.

Seus ancestrais foram os senhores de engenhos, os comerciantes de ouro e os proprietários de terra em geral, a Casa Grande do Brasil de 1500 até, pelo menos, o fim do Segundo Império. Em seguida, eram as elites do café-com-leite da República Velha que, entre outras coisas, realizavam fraudes no processo eleitoral, para fazer vencer os candidatos que elas apoiavam.

Mais tarde, eram os ressentidos com o varguismo, que desenvolveu um Brasil muito diferente das elites viciadas da antiga Casa Grande, que aproveitaram a crise do Estado Novo para pedir o golpe contra Getúlio Vargas, em 1945, e, mais tarde, pressionaram para a queda política do mesmo governante, que se matou em 1954 durante o seu segundo mandato.

Depois vieram as elites que bradaram contra João Goulart e pediram o golpe civil-militar de 1964 - o golpe teve amplo apoio do empresariado da época, inclusive a burguesia nacional - e, mais tarde, também reivindicavam soluções mais drásticas para combater a revolta popular, como a medida do AI-5.

No entanto, essa elite, dividida entre a direita mais radical - hoje posta à margem do establishment social, vide o bolsonarismo nos últimos meses - e uma esquerda considerada "festiva", viu este segundo lado se ascender socialmente, com a nova burguesia brasileira envolvida no desbunde, que era a tendência do hedonismo escapista que o AI-5 forçou uma parcela da juventude a aderir, desiludida com a política e estimulada a se divertir depois do espetáculo comportamental do Tropicalismo.

PODER SUAVE

Outro fator que fez mudar a linhagem da burguesia brasileira, principalmente da pequena burguesia heterodoxa que se formou no Brasil dos anos 1970, foi a tendência do soft power, o "poder suave", que cada vez mais crescia como alternativa para não enfraquecer as forças populares pela violência explícita, mas manipulá-las em torno de um lazer ao mesmo tempo anestesiante e catártico, como tornou-se a bregalização cultural, uma pretensa "cultura popular" desenvolvida pelos veículos regionais e nacionais de televisão controlados por oligarquias apoiadoras da ditadura militar.

Eram tempos de correntes ideológicas diversas feitas para amenizar as desigualdades sociais sem que se fizesse alguma ruptura com a ordem econômica dominante. O ano de 1974 foi um marco de várias dessas frentes, desempenhadas a evitar o progresso social pleno, apenas contribuindo para amenizar as crises sociais sem trazer grandes benefícios para os oprimidos sociais.

Entre estas frentes estão a bregalização cultural, que enfraquecia, no âmbito da Cultura, o poder emancipador das classes populares e transformava a pobreza em espetáculo. Na Economia, a Teoria da Dependência de Fernando Henrique Cardoso (mais tarde, presidente da República) defendia um desenvolvimento econômico limitado para o Brasil, criando uma relativa prosperidade sem no entanto desafiar a hierarquia geopolítica dos países mais ricos.

Na ação social, tem-se a religião do Espiritismo brasileiro - cuja atuação tornou-se, na prática, bastante divergente e, em muitos pontos, antagônica ao Espiritismo original de Allan Kardec - , uma das religiões financiadas pela ditadura militar para enfraquecer o poder opositor da Teologia da Libertação católica, que estava ajudando o povo pobre a se mobilizar contra o regime militar e as forças solidárias, como o latifúndio nas áreas rurais, por exemplo.

Desse modo, o Espiritismo brasileiro fingia seguir o mesmo projeto da Teologia da Libertação, mas na prática se constituiu numa força oposta, pois o chamado "kardecismo" (nome adotado apesar das traições doutrinárias em relação a Kardec) nunca passou, no Brasil, de uma simples repaginação do velho Catolicismo medieval trazido pelos movimentos jesuítas na fase colonial. E isso é tão verídico que um dos maiores pregadores, segundo os "espíritas", é um espírito a que se atribui ao espectro do falecido padre jesuíta Manuel da Nóbrega, famoso personagem da História do Brasil.

No âmbito da "caridade", o Espiritismo brasileiro - que serve como um contraponto "sagrado" ao espetáculo "profano" da bregalização cultural, dentro do culturalismo da pequena burguesia contemporânea - defende meramente ações paliativas, como doar pequenos donativos para famílias pobres, coisa que não difere de eventuais promoções de estabelecimentos comerciais nem de espetáculos assistencialistas de programas de TV. 

Mas a própria pequena burguesia insiste que a "caridade espírita" - que serve de carteirada para a reputação do "médium" ultraconservador cujas mensagens a própria elite do atraso em sua feição "democrática" de hoje adora publicar nas redes sociais - é "necessária para transformar vidas", quando se vê que os efeitos sociais, além de precários, são provisórios, pois os pobres não tardam a voltar à infeliz situação de antes, servindo-se de tolos para alimentar a propaganda assistencialista dos "espíritas".

E como falamos do contraponto entre o "sagrado espírita" e o "profano brega", nota-se que, em ambos os casos, em que pese o aparente contraste moral de um e de outro, ambos atuam pela causa comum da domesticação social do povo pobre, induzido a se conformar com sua inferioridade social e até se orgulhar dela (o que resultou no recente ufanismo em prol das favelas). O Espiritismo brasileiro acaba enfatizando o foco nos mais velhos, voltado ao recato religioso, e o brega-popularesco focaliza os mais jovens, pela catarse dos impulsos corporais que os levam ao hedonismo obsessivo.

Mais tarde, essa elite burguesa deu seu canto de cisne do reacionarismo aberto se mobilizando para pedir a derrubada de Dilma Rousseff, desmascarando muitos burgueses conservadores - incluindo aqueles que "patrulhavam" internautas que não concordavam com o establishment dos valores socioculturais dominants - que só se afirmavam "de esquerda" porque se envolveram em atividades que dependiam dos recursos públicos que só o Ministério da Cultura do governo Lula poderia oferecer em fartas quantidades.

ESTRANHA VOLTA DE LULA

Embora Lula tivesse representado, ainda que de forma bastante amena, a herança dos projetos políticos de Getúlio Vargas e João Goulart, e, de forma menos glamourosa, de Juscelino Kubitschek, o líder petista que havia sido sindicalista nos anos 1970 apenas chegou a fazer dois bons governos nos dois mandatos que se deram entre 2003 e 2010.

Tendo sido sucedido por Dilma Rousseff que, todavia, não conseguiu conter as crises que deram no golpe político de 2016, Lula, que nos dois primeiros mandatos fez boas realizações dentro dos limites de um progressismo moderado, no entanto foi culturalmente sabotado por uma elite de intelectuais que tentou ressignificar os valores socioculturais, entre musicais, comportamentais e religiosos, que prevaleceram na ditadura militar, moldados para o contexto das esquerdas mainstream.

E isso mostra o quanto a classe média abastada que tomou as rédeas das esquerdas brasileiras possui um DNA bastante conservador, em que pese seus discursos supostamente libertários e sua retórica que, nos últimos meses, fala em defesa da "sociedade da paz, do amor e da justiça social". É com base nesse conservadorismo que a pobreza humana foi convertida de um grave problema social para uma pretensa identidade cultural.

E a volta de Lula ao poder, desta vez por meio de um terceiro mandato que se tornou medíocre já durante a campanha presidencial, quando o então candidato do PT abriu mão de um programa de governo e faltou a debates estratégicos na televisão, entre tantos outros erros cometidos, representou práticas que apenas mudam levemente o contexto de certas palavras ou práticas, sem abrir mão de sua essência original.

Dois exemplos são ilustrativos: o pretexto da "democracia" e o "voto de cabresto". No primeiro caso vemos os netos das velhas elites das "marchas da família" falarem em "democracia", embora num contexto formalmente diferente e oposto ao de seus avós. 

Mesmo assim, a "democracia" nos dois casos tem um ponto em comum: o respeito à burguesia, a classe dessas duas gerações. Enquanto a "democracia" das marchas pró-golpe de 1964 pedia o banimento do projeto esquerdista de João Goulart para proteger os interesses da burguesia, a "democracia" prometida por Lula desde a campanha de 2022 tem como objetivo flexibilizar a causa progressista para atender aos interesses dessa mesma burguesia, apenas descontando os "super-ricos" da trupe bolsonarista.

No segundo caso, evoca-se um processo eleitoral da República Velha para garantir a vitória eleitoral de Lula. A "democracia de cabresto" tornou-se uma tendência estranha na campanha presidencial de 2022 na medida em que Lula, desprezando a competitividade eleitoral, se impôs como "candidato único" contra Jair Bolsonaro, a ponto de cooptar ou depreciar outros concorrentes, já no primeiro turno.

Lula se impôs como o "único candidato" para restaurar a democracia, e, contraditoriamente, seus adeptos desaconselhavam qualquer outro voto, usando como desculpa o suposto favorecimento eleitoral de Jair Bolsonaro, que buscava se reeleger.

Ganhando as eleições, sob os apelos chorosos de Lula de que sua vitória seria necessária para "reconstruir o Brasil" e "combater a fome", o presidente, no entanto, esqueceu essas prioridades e preferiu apostar numa precipitada e supérflua política externa, causa que poderia ter sido adiada por um ano. A pouca dedicação de Lula com a reconstrução do país, a ponto dos progressos sociais ocorrerem, mas de forma abaixo do desejado pelo povo em geral, tornou-se evidente.

Mas o que chama a atenção é a reação de uma parcela da sociedade que se considera formadora de opinião e produtora de bom senso, desmascarando o seu caráter elitista. Os apoiadores de Lula, indiferentes aos erros do presidente e boicotando a leitura de textos críticos ao atual governo, preferindo aceitar que Lula fosse cegamente movido pelos seus instintos porque tudo o que o petista faz é sempre considerado "correto", revelaram ser a mesma burguesia que pediu as quedas de Jango e Dilma.

São elites que torcem o nariz para o desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek, só aceitando aspectos econômicos, mas demonizando ações socioculturais como o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Torcem o nariz para a Bossa Nova, para os escritores da Geração de 1945, para o senso crítico em geral, preferindo apoiar um culturalismo musical, comportamental e religioso da ditadura militar por conta, ao mesmo tempo, de não afrontar a precarização social que garante o bom-mocismo da burguesia de hoje, e de não promover, seja com indignação ou simples raiva, a instabilidade social.

Daí os funqueiros, os "médiuns", as mulheres-objetos e seu pretenso "feminismo de glúteos", os "brinquedos culturais" de um Brasil novelizado e reembalado ao gosto dos consumidores afoitos de Instagram e Tik Tok. E a classe média abastada que apoia Lula demonstrou, também, não ter sido lesada por Michel Temer e Jair Bolsonaro, cujos estragos profundos não atingiram essa "boa" elite, que apenas se sentiu incomodada pessoalmente pelos dois governantes retrógrados, mas sempre viveu a boa vida de sempre.

A "doce vida" da burguesia, então, deixou cair a máscara. É uma elite "progressista", a burguesia "ilustrada" que nunca se preocupou em protestar de verdade para derrubar Temer e Bolsonaro. E não se incomoda em ver Lula viajando o tempo todo, deixando o povo pobre à deriva, entendendo aqui o povo pobre que não se vê nas atrações cômicas de televisão. Portanto, a "nata" dos lulistas confirmou ser a mesma elite cujos ancestrais protagonizaram a República Velha e a ditadura militar, apenas repaginada e ressignificada para "ficar bem na fita" nos dias de hoje.

FONTES: Carta Capital, Caros Amigos, Folha de São Paulo, O Globo, Blogue Linhaça Atômica.

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