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CULTURALISMO SEM CULTURA?

NO MITO DO "CULTURALISMO SEM CULTURA", LIMITA-SE A ENTENDER "CULTURA" APENAS EM ÂMBITO LIMITADO, COMO A PEDAGOGIA FAMILIAR.

Por Alexandre Figueiredo

Culturalismo, oficialmente, é tudo, menos cultura. Entretenimento, muito menos. Limita-se, no chamado "senso comum" oficial dos brasileiros, conduzido pela classe média que domina o imaginário social, a entender "cultura" apenas como Educação e Propaganda, como a pedagogia familiar, no que se refere à formação social dos filhos, ou a publicidade política, como em cenários políticos ditatoriais.

Descontando tudo isso, predomina-se a visão de que a "cultura" propriamente dita, sobretudo a que se movimenta a partir do entretenimento popular, é como uma "virgem imaculada" que permanece intocada pelas armadilhas do jogo político das elites do atraso. A chamada bregalização, por exemplo, é sempre narrada como se o povo pobre tivesse descoberto o caminho para o paraíso.

Esta é uma visão equivocada e resultante de uma interpretação equivocada da sociologia de Jessé Souza, motivada pela obsessão de uma parcela da classe média, que se autoproclama "ilustrada" e "progressista", em manter o que entendem como "cultura popular" numa redoma de vidro, proibida de ser analisada de maneira crítica sob a desculpa de que todo questionamento seria "preconceituoso" contra aquilo que se entende como "periferia".

Depois do "eterno verão" do "combate ao preconceito" trazido por ideólogos como Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna e corroborados por gente como Denise Garcia, Rodrigo Faour, Eugênio Raggi e Milton Moura, entre outros analisados no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes..., apareceu o senso crítico de Jessé Souza, numa atitude inédita nos últimos anos, quando os meios acadêmicos viraram redutos de complacência acrítica dos fenômenos cotidianos.

Jessé Souza lançou novas ideias, depois de tantos anos com o chamado senso comum acostumado com abordagens fenomenológicas meramente descritivas, lendo monografias que praticamente soavam como relatórios acríticos de problemáticas claramente desproblematizadas. Nos cursos de pós-graduação, quem tivesse senso crítico tinha o caminho barrado pelas bancas acadêmicas. Se fosse brasileiro, Umberto Eco, por exemplo, nunca iria além de um suado e apertado diploma de Bacharelado ou Licenciatura na graduação universitária simples.

E o que é o culturalismo de Jessé Souza?

 Em vários de seus livros, ele descreve o culturalismo a partir de fenômenos como a educação que os pais dão para seus filhos, mencionando o contraste entre pobres e ricos, a questão do gosto como "capital cultural" a medir vantagens ou desvantagens sociais às pessoas, e ao mito do "patrimonialismo" que o discurso do golpe de 2016, motivado pelas ações juridicamente abusivas da Operação Lava Jato e da campanha da mídia empresarial contra Dilma Rousseff e Lula, trouxeram para definir a corrupção como "patrimônio exclusivo do poder estatal".

Evidentemente, Jessé Souza tem escolhas que o fazem optar pelo horizonte temático que escolheu. É claro que ele não vai dizer que o "funk", o "arrocha" e a "pisadinha" representam o culturalismo conservador e nem os ritos da periferia infantilizada, como brincar de trenzinho nos "bailes funk", expressam o "racismo científico" de uma pobreza idealizada.

Não que ele talvez evitasse pensar nos problemas da bregalização cultural, ao menos de forma explícita, pois acredita-se que ele possa estar ciente dos problemas do entretenimento popularesco, que tratam o povo pobre de maneira caricatural, como se as favelas vivessem num Carnaval permanente o tempo inteiro. Mas é porque ele estabeleceu um "trajeto" de pensamento que só ele tem suas razões pessoais e seus métodos de analisar a realidade, que lhe são próprios e oportunos.

O que nos cabe, neste caso, não é nos prendermos nas abordagens de Jessé Souza e irmos mais à frente do que ele pensa e escreve, sob o risco de cairmos em ilusões diante de uma abordagem "ao pé da letra" e bastante preguiçosa. 

Caso contrário, iríamos interpretar mal a sua concepção de "culturalismo conservador" ao ponto de achar que basta a mãe cantar "Eu Não Sou Cachorro, Não" para ninar sua filhinha para assim romper o conservadorismo cultural e botar a educação familiar em dia com supostas missões revolucionárias de esquerda, o que é um absurdo, ante o reacionarismo de seu autor e intérprete, Waldick Soriano.

CULTURALISMO VAI MAIS ADIANTE

O mito do "culturalismo sem cultura", limitado à Educação e à Publicidade e que, no âmbito do entretenimento, mal consegue migrar do imediatismo reacionário do noticiário político para os preconceitos sociais das atrações humorísticas e dos reality shows, cria uma visão bastante preguiçosa da abordagem cultural.

Enquanto achamos que o reacionarismo reside nas expressões explícitas de preconceitos sociais trazidos por jornalistas, analistas políticos, comediantes e algumas subcelebridades, algo que se deixou mais claro durante o golpe político de 2016 e atingiu seu ponto máximo durante o governo Jair Bolsonaro, esquecemos que mesmo o "funk" e a axé-music, ou mesmo qualquer abordagem "positiva" e "sem preconceitos" da população pobre, escondem também gravíssimos preconceitos, expressando também o chamado "racismo científico".

A ideia de um "povo festivo e feliz", um paisagismo idealizado das chamadas "periferias" - termo tomado emprestado da obra de Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República - , dava o tom de todo um discurso "desprovido de qualquer tipo de preconceito" trazido por intelectuais tendenciosos que não tinham receio de exprimir sua carteirada e seu panfletarismo.

Era um Paulo César de Araújo que, com seu vitimismo, concebeu seu livro Eu Não Sou Cachorro Não supostamente sem o apoio do meio acadêmico, ou então um Pedro Alexandre Sanches que, em tese, entrevistou um "quem é quem" da MPB. Ou então Denise Garcia e Ivana Bentes com suas experiências intelectuais, uma como documentarista, outra como acadêmica. Todos, misturando coitadismo com triunfalismo, exibindo sua "superioridade" em se proclamarem "autoridades em cultura popular".

É o que costumo denominar de "intelectualidade bacana", por causa da atitude "positiva" de apreciar os fenômenos do culturalismo popularesco. E chamo a atenção à sua pretensão de se acharem "mais povo que o povo", que, em casos extremos, geraram atitudes arrogantes como as de um Eugênio Raggi ou mesmo do falecido Roberto Albergaria, antropólogo que apostava no mito da "autoesculhambação" ou "brincadeiragem", ou seja, ele acreditava que, no seu juízo de valor, a essência do povo pobre é "rir e fazer gozação com a sua própria miséria".

Graças a essa intelectualidade, pouco conhecida do público comum mas blindada dentro do próprio meio - daí o termo "santíssima trindade" que atribuo a Araújo, Sanches e Vianna - , o culturalismo se limita a ser reconhecido apenas como um processo "não-cultural" ou, quando muito, "parcialmente cultural" no que se refere à transmissão de valores por meio de processos educacionais ou propagandistas.

Por isso, investe-se na ilusão de que a cultura propriamente dita é imune a qualquer questionamento, e vemos o quanto tem de preconceituoso o discurso do "combate ao preconceito", que na verdade foi uma forma, trazida pela mídia empresarial e ampliada pelas elites intelectuais - dentro de um proselitismo praticado nos meios esquerdistas - , de evitar o debate sobre cultura popular e seus problemas trazidos a partir da bregalização intensificada a partir da ditadura militar.

Com isso, a bregalização se desenvolveu na "positivação" dos defeitos e problemas do povo pobre. O comércio clandestino seria uma forma "libertária" de obter renda e vender produtos "boicotados" pelo comércio formal. A prostituição, como um suposto empoderamento feminino de mulheres pobres. O alcoolismo, um pretenso consolo aos problemas de velhos pobres, sejam da ordem profissional ou amorosa. E a própria vida em casas precárias nas favelas é glorificada como se fosse "viver no paraíso".

O culturalismo conservador se expressa nessa forma pseudo-progressista, através de uma elite intelectual tida como "acima de qualquer suspeita" e cujo prestígio social parece inabalável. São máscaras ideológicas que empurram os problemas culturais para debaixo do tapete, enquanto, oficialmente, "culturalismo", como um problema, se limita a abordagens não-culturais, que no âmbito midiático mal conseguem sair dos limites imediatistas do noticiário econômico. 

Tentam nos fazer esquecer que o culturalismo vai muito além de aspectos político-institucionais, e que envolvem, sim, o entretenimento e as supostas expressões populares, que ocorrem em função do poder mercadológico e midiático que "desenham" o sistema de valores que, supostamente, está associado às classes populares.

SUBSÍDIOS

Embora Jessé não percorra, em tese, o universo popularesco explorado pelos intelectuais "bacanas" - e é tendencioso, por exemplo, que Pedro Alexandre Sanches tenha entrevistado o sociólogo, numa das "aventuras" do jornalista nas pautas esquerdistas "mais sérias" - , suas ideias oferecem subsídios para compreender o culturalismo conservador enrustido, mascarado de "cultura das periferias" ou de qualquer valor relacionado à suposta "felicidade do povo pobre", que envolve desde o "funk" até a religiosidade pseudo-progressista do Espiritismo brasileiro.

Em dado momento, Jessé até menciona a cultura brega-popularesca. No livro A Elite do Atraso, o sociólogo menciona a "glorificação da periferia" das atrações da Rede Globo e a "assistência social" do Criança Esperança, que a emissora dos Marinho utiliza para mascarar sua defesa do capitalismo financeiro.

Dessa forma, Jessé Souza descreve sobre a Globo, com base numa raríssima abordagem crítica trazida pela professora Maria Eduarda Rocha, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sobre a dita "cultura das periferias" e que serviu de fonte para A Elite do Atraso:

"(...) a defesa de minorias, desde que não envolvam repartição de riqueza e de poder social, é apoiada pela empresa, que pode posar de crítica e emancipadora. A glorificação da periferia das grandes cidades, desde que não envolva real incorporação das classes populares aos bens civilizatórios, o que exigiria a discussão de suas carências que são reais, também é defendida pela Globo. Inúmeras novelas, assim como o programa Esquenta, de Regina Casé, servem para esconder o engodo. Aqui se chama 'favela' de 'comunidade', como se com isso a vida prática dessas pessoas pudesse melhorar pela magia da palavra bonita que expressa uma mentira". (pags. 216-217)

Jessé acrescenta que a Globo "é a roupagem perfeita para um capitalismo selvagem e predatório que chama a si mesmo de emancipador e protetor dos fracos e oprimidos". Podemos acrescentar, ao raciocínio do sociólogo, várias observações.

Por exemplo, os programas de Regina Casé sobre a "periferia", que tiveram vários nomes - Esquenta é o último, mas tivemos o destacado Central da Periferia - , são concebidos por Hermano Vianna, um dos intelectuais orgânicos da bregalização, que lamentou por que o É O Tchan "não figurava nos dicionários respeitáveis de Música Popular Brasileira". 

Nesse cenário de compadrio intelectual, também vale uma curiosidade: a comunicóloga Ivana Bentes, criticando o mito da "periferia legal" de Central da Periferia, quis trocar "seis por meia-dúzia", ao elogiar o documentário Sou Feia Mas Tô Na Moda, de Denise Garcia, que, evocando as mulheres no "funk", também investe no mermo mito trazido pelo programa da Rede Globo de Televisão.

A suposta glorificação do oprimido foi um artifício usado por intelectuais formados ou consagrados nos anos 1990 - época em que Fernando Henrique Cardoso presidia o país e seu grupo acadêmico influenciava as universidades em todo o país - para sabotar o projeto progressista dos governos Lula, no âmbito cultural, evitando que se efetivassem processos como os do antigo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, atuante durante o governo João Goulart entre 1961 e 1964.

Dessa forma, os intelectuais formados pela Era FHC, assim que Lula chegou ao poder, já atuavam nos veículos da mídia progressista - Caros Amigos, Carta Capital, Fórum e Brasil de Fato - para fazer proselitismo em favor da bregalização. 

Um funqueiro patrocinado pela Globo, apadrinhado pelo cineasta José Padilha (ligado ao neoliberal Instituto Millenium) e pela antropóloga Adriana Facina (ligada ao grupo liderado pela falecida Ruth Cardoso, esposa de FHC), MC Leonardo, era um dos ideólogos, fazendo o jogo duplo de manter uma coluna sobre "funk" no periódico Expresso, tabloide popularesco das Organizações Globo, e outra sobre "ativismo político-cultural" na Caros Amigos.

Esse processo de pretensa exaltação das "periferias" reflete, na verdade, a uma das faces da farsa elitista, que é de apreciar, seja negativa ou positivamente, o povo pobre sempre na condição de subgente, problema que, em outro livro de Jessé, Como o Racismo Criou o Brasil, é descrito neste trecho:

"(...) O que é produzido 'culturalmente' no Brasil é a reprodução, sob novas máscaras, do descaso e do prazer escravocrata de humilhar e oprimir. Por conta disso, toleramos a existência de subgente, ou seja, de pessoas cuja socialização familiar e escolar, que corresponde à socialização de classe, não dá a elas qualquer chance de integração na dimensão econômica e no mercado de trabalho competitivo, por exemplo". (pag. 126)

"Uma classe de pessoas objetivamente animalizadas, à qual reagimos, necessariamente, ou com compaixão, ou com desprezo - simplesmente duas faces de uma mesma moeda, comprovando que todos, sem exceção, compartilham da percepção negativa e inferiorizada dessa classe social. Afinal, só sentimos pena ou desprezo por quem é objetivamente percebido como inferior. Não importa, portanto, se temos 'bom coração' e sentimos pena ou se temos coração frio e sentimos desprezo ou raiva. Essas pessoas são objetivamente inferiorizadas porque a avaliação moral acerca do valor relativo delas é socialmente produzida e se impõe às consciências individuais. É isso que significa dizer que somos, enquanto indivíduos, classes sociais". (pags. 126-127).

A farsa do "combate ao preconceito", mencionada no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes..., revela esse lado da "compaixão" que não nega a inferiorização social do povo pobre, mas antes manipula sua narrativa tornando essa inferioridade "mais positiva" e "inerente às classes populares", dentro da perspectiva geral que Jessé trabalha, opondo a ideia de "espírito", atribuída ao homem elitista dotado de "racionalismo protestante", sendo ele rico, branco e masculino, e suas antíteses, como o pobre, o negro e, em certos contextos, a mulher, como representações do "corpo", meramente "animalizadas".

E como Jessé menciona a religião e, depois, a formação do "racionalismo protestante" que seculariza o conceito de "salvação humana", outra vertente do culturalismo popularesco, imposta ao imaginário esquerdista dentro do que eu defino como "brinquedos culturais" que as esquerdas infantilizadas recebem do culturalismo de centro-direita a partir da Rede Globo (e seu imaginário de glamourização da pobreza trazido pelas novelas das 21 horas), o Espiritismo brasileiro, pode ser questionado a partir de subsídios oferecidos pelo trecho do livro A Radiografia do Golpe:

"(...) As elites do dinheiro e do poder precisaram, em todas as épocas, convencer a imensa maioria dominada e explorada que seus privilégios são merecidos e justos. Se esta justificação hoje em dia é feita pelos 'cientistas', no passado a elite intelectual que se incumbia desse trabalho era religiosa. Era a religião, e não a ciência, que interpretava o mundo. Por conta disso, todas as grandes religiões mundiais desenvolveram mecanismos de justificação do privilégio e da riqueza. Antes que a política se diferenciasse como uma esfera autônoma, a religião fazia também o trabalho da política. O cristianismo ocidental, por exemplo, levou ao paroxismo a justificação do privilégio injusto ao sacralizar a ordem mundana, repetindo-a na hierarquia religiosa. Se os reinos tinham seus reis, duques e condes, a igreja tinha o papa, o cardeal, o bispo etc. A correspondência entre as hierarquias profana e sagrada era perfeita e servia para justificar por 'vontade divina' o mundo como ele era. O dado fático, a vida injusta, era transformado em desejável e moralmente justo. Por conta disso, dados potencialmente revolucionários do cristianismo, a noção de humildade e a experiência da humilhação, percebidas como virtudes redentoras, e não como fraquezas, foram vistas como ensejo para uma recompensa no 'outro mundo', e não 'neste mundo'. Com isso, a justificação do privilégio fático e injusto se torna perfeita. Todas as outras grandes religiões mundiais construíram mecanismos de justificação do privilégio semelhantes ou até mais elaborados". (pag. 20)

Curiosamente, o Espiritismo brasileiro, que já participou dos movimentos religiosos em favor do golpe militar de 1964, teve um conhecido "médium" defendendo a ditadura militar com tanto radicalismo que lhe rendeu condecoração da Escola Superior de Guerra e, recentemente, defendeu o golpe contra Dilma Rousseff creditando as passeatas como "expressão da Regeneração" (uma das utopias defendidas pelos chamados "kardecistas"), é tratado com complacência por setores das esquerdas brasileiras.

Com uma prática assistencialista não muito diferente das ações oportunistas de Luciano Huck - astro da mesma Rede Globo que transformou o "médium" apoiador da ditadura militar em "filantropo" - em prol da pretensa caridade, o Espiritismo brasileiro também faz parte do imaginário da "glorificação do oprimido", apenas contrastando, em relação ao "funk", por ser um fenômeno voltado para o "sagrado", diferente do ritmo popularesco, que é voltado para o profano. Apesar desses contrastes, ambos compartilham da mesma hipocrisia da exploração da falácia da "felicidade do povo pobre".

O culturalismo conservador, portanto, envolve uma série de coisas que escapam das abordagens de Jessé Souza. Esse conceito não pode ficar preso a abordagens próprias do noticiário político, da pedagogia familiar ou da propaganda governamental, porque pensar assim seria acreditar num "culturalismo sem cultura", se esquecendo que mesmo formas de entretenimento e religiosidade que, supostamente, fazem o pobre "sorrir", mesmo sob a máscara "progressista" de um discurso "positivo", também representam, até com maior gravidade, o culturalismo conservador.

É interesse do sociólogo se concentrar em seu horizonte de abordagem, não cabendo a ele investir em agendas que, certamente, fugiriam aos seus focos temáticos principais. O que não impede que ele forneça subsídios para que outras pessoas avancem em análises críticas atuando no terreno do culturalismo popularesco no âmbito do entretenimento e até da religião, para mostrar outras questões acerca da espetacularização da miséria através do mito da "glorificação do oprimido".

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FIGUEIREDO, Alexandre. Esses Intelectuais Pertinentes... Como a Retórica do "Combate ao Preconceito" da Bregalização Contribuiu para o Golpe Político de 2016. Niterói, Independente, sob publicação virtual no portal Amazon, 2020.

SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso: Da Escravidão à Lava-Jato. Rio de Janeiro, Leya, 2017.

SOUZA, Jessé. A Radiografia do Golpe: Entenda como e por que você foi enganado. São Paulo: LeYa, 2016.

SOUZA, Jessé. Como o Racismo Criou o Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2021.

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