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O MEDO DE SE LER UM LIVRO COMO 'ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES'

NOVA CAPA DO LIVRO, SUBSTITUINDO O CINZA, QUE SOAVA "PESADO", POR UM BEGE, QUE SOA MAIS "LEVE".

Por Alexandre Figueiredo

Evidentemente, esta postagem não vai falar sobre as pessoas que não se interessam em comprar Esses Intelectuais Pertinentes por opção própria, porque têm outras prioridades. Fala-se daqueles que poderiam adquirir esse livro e não querem por medo, embora, supostamente, também justifiquem que possuam "outras prioridades" e "outros interesses".

Precisamos discernir quem realmente não tem necessidade de ler um livro como este e quem precisa, mas não quer por medo. Afinal, tanto à direita quanto à esquerda, há desculpas esfarrapadas para as pessoas não adquirirem o livro, preferindo "coisas mais importantes" como livros para colorir, romances de jogos de Minecraft e estórias de cavaleiros medievais procurando o segredo da medalha de amendoim e do unicórnio cor-de-rosa.

Na direita, temos argumentações toscas neste sentido:

"Esse livro é um grande desperdício. É claro que o objetivo dos intelectuais de esquerda é tornar a cultura popular imbecilizada. Isso nem se discute e é uma perda de tempo lançar livros de duzentas e tantas páginas falando do óbvio. A máquina do PT é uma usina de idiotas, isso se diz na Internet com umas poucas linhas".

Já na esquerda, temos outras argumentações, apelando para a carteirada:

"Coitados. Um livro desses, desqualificando grandes intelectuais, que sabem de tudo de música brasileira. Eles não apoiam só brega, eles também valorizam a MPB também, só querem é colocar o brega numa posição de respeito, ao lado de outras manifestações, e é isso o tom do combate ao preconceito que esse livro tão injustamente desconstrói".

Com esses pontos de vista polarizados, que em seus respectivos redutos nas redes sociais, cria o "efeito manada" que desencoraja até quem poderia ler o livro, iludido com as queixas vazias do "gado digital" que, no fundo, demoniza, igualmente, o senso crítico, pouco importando o plano ideológico em questão.

Em outras palavras, o que o "gado digital" quer é que as pessoas leiam obras inofensivas, que dominam o mercado de obras literárias analgésicas, que, em vez de transmitir Conhecimento e Saber, servem para um entretenimento supérfluo, desviando demais a capacidade de raciocinar para ficções de suspense medieval ou de terror juvenil, que são apenas fuga da realidade que as pessoas têm muito medo de resolver.

Essa obsessão foi satirizada pelo meu novo livro, uma coletânea - com vários textos exclusivos, outros inéditos e outros indisponíveis na Internet - , intitulada Diário de um Jornalista - O Livro do Saber, título que pode soar pretensioso, mas a ideia de Informação, embora não possa não ser confundida com Conhecimento (que tem mais profundidade que a outra), tem de certa forma alguma relação com o Saber.

NÃO DEI SINOPSE (SPOILER)

As pessoas imaginam que eu revelei o conteúdo de Esses Intelectuais Pertinentes, em várias postagens deste e de outras páginas, como meu blogue Linhaça Atômica. Isso é um erro, e faz com que as pessoas, no seu julgamento de valor, achem que "tenham lido" um livro que não leram. Isso, sim, é um grande preconceito, pior do que aquele que os intelectuais pró-brega descritos no meu livro queriam combater.

Não vou explicar o conteúdo do livro. Quem não leu o livro só pode admitir que leu ele se, realmente, for adquirir o livro. Não existe esse negócio de "ler o livro" sem ler. Para ler o livro, pelo que eu saiba, tem que adquirir o livro, não é? É muito livro para colorir, muito Minecraft, muito vampiro de escola de ensino médio que povoa a cabeça de certas pessoas que acaba corrompendo a percepção de alguns mais aloprados.

Só o que eu dei de exemplos de como os intelectuais pró-brega rendeu capítulos que não foram reproduzidos nas postagens de divulgação do livro. Fiz citações superficiais e elas não apresentam detalhes do conteúdo, e são vários capítulos do livro, mostrando um pouco mais de uma dezena de intelectuais pesquisados minuciosamente por mim.

Além disso, também citei trechos de seus textos e de seus artigos e argumentos. E incluí um texto inteiro que o historiador mineiro Eugênio Raggi escreveu contra mim, numa discussão no fórum Samba & Choro, recentemente extinto. Eu havia gravado o texto quando o fórum ainda existia e eu estava questionando o "pagode romântico", por seu comercialismo e mediocridade, e Raggi, de forma bastante reacionária - vinda de alguém autoproclamado "de esquerda" - , me esculhambou grosseiramente.

Só lendo este livro para entender o propósito de sua obra. De tanto se perder nas florestas encantadas para colorir, verdadeiras selvas de bonecos Minecraft, vampiros estudantis e cavaleiros medievais em busca do Enigma do Borogodó perdido, ninguém vai ler um livro que sai dessas zonas de conforto literárias, ainda mais quando muitos pensam erroneamente que Conhecimento é sinônimo de auto-ajuda ou ocultismo místico.

O mercado literário brasileiro vai tão mal que Literatura hoje precisa ser espetacularizada, ter um pouco de show, com livros de títulos mais apelativos, vide a nova linha de auto-ajuda - vendida sob pretensos rótulos de "administração" ou "neurolinguística" - e a prioridade de livros de youtubers em detrimento de intelectuais que não conseguem ver a luz do Sol da venda de livros.

Infelizmente, até mesmo as capas precisam ter algum apelo mais pop, que as feiras literárias precisam ter algum motivo de espetáculo, só faltando aparecer bonecos gigantes, provavelmente personificando Minecrafts ou caricaturas de youtubers, ou modelos fantasiados de cavaleiros medievais ou estudantes-vampiros. 

Se o mercado literário tem como destaque uma editora "espírita" que publica livros fake com nomes de mortos (é claro que as obras escapam, e muito, da natureza pessoal dos supostos autores espirituais), então o meio editorial anda muito corrompido. Convém você romper com todo esse marasmo e procurar livros que parecem "difíceis", mas que fazem um grande diferencial quando o objetivo é transmitir o verdadeiro conhecimento.

 FONTES: Blogue Mingau de Aço, Blogue Linhaça Atômica, portal G1


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

FIGUEIREDO, Alexandre. Esses Intelectuais Pertinentes... Como a Retórica do "Combate ao Preconceito" da Bregalização Contribuiu para o Golpe Político de 2016. Niterói, Independente, sob publicação virtual no portal Amazon, 2020.

 

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