Por Alexandre Figueiredo
Num tempo em que os Estados do Sul e Sudeste, incluindo cidades em situação preocupante como o Rio de Janeiro e a ex-capital fluminense Niterói, sofrem um período de decadência, Salvador, que durante anos sucumbiu a um provincianismo austero, agora se reinventa para o progresso, através de inúmeras obras de infraestrutura urbana.
Mas a Salvador que agora se orienta para o futuro também revisita um passado perdido, com a descoberta de vestígios arqueológicos e culturais da história da Bahia antiga, encontradas por meio de escavações realizadas na Av. Sete de Setembro, na altura do Relógio São Pedro, e no entorno da Praça Castro Alves.
Na Av. Sete de Setembro, mais de 10 mil artefatos foram encontrados, incluindo cerâmicas portuguesas do século XVI, conhecidas como "faianças", cerâmicas de produção local e importação, moedas, cachimbos, contas de colares, ossos e até mesmo garrafas de vidro feitas de produção industrial ou artesanal.
Na Igreja de São Pedro, também foram encontradas estruturas arquitetônicas e uma fonte de água. No entorno, foram encontrados também uma bola de canhão, uma imagem de Nossa Senhora do Rosário ou da Saúde e uma urna fúnebre que teria sido a primeira usada para o sepultamento de um indígena tupi-guarani na capital baiana.
As descobertas mais instigantes, no entanto, foram encontradas na Praça Castro Alves que mundialmente é conhecida como um dos palcos do Carnaval de Salvador. As escavações encontraram vestígios de uma estrutura que lembra uma escadaria em torno de um suposto chafariz, e que podem corresponder ao antigo Teatro São João ou a um edifício que teria sido erguido no século XVIII.
O Teatro São João foi durante décadas uma das principais casas de espetáculos do antigo centro soteropolitano. Construído a partir de 1806, foi inaugurado em 13 de maio de 1812, tendo durado 111 anos. O auditório tinha capacidade para duas mil pessoas, o que revelava a importância do Teatro São João na época, deixando sua marca na cultura baiana do século XIX.
Em 06 de junho de 1923, infelizmente, um incêndio abalou as estruturas do prédio, que teve que ser demolido. O incidente adiou em um mês a inauguração de um monumento em homenagem ao poeta Castro Alves, frequentador do local (nele conheceu sua namorada Eugênia Câmara), em 06 de julho daquele ano. Um prédio foi construído no lugar e inaugurado em 1935, tendo sido sede da Secretaria da Agricultura e hoje é o Palácio dos Esportes, que reúne várias entidades esportivas baianas.
A descoberta é ainda um mistério, pois não se sabe se a estrutura corresponde a um chafariz que existia antes do Teatro São João, ou se o mesmo era parte da praça em frente ao edifício, ou se era uma estrutura inerente ao próprio prédio.
O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN - 7ª Superintendência Regional, correspondente a Bahia e Sergipe), Bruno Tavares, informa que as escavações já previam a hipótese de realizar descobertas como as que foram feitas, sugere que a estrutura pode ter sido de uma fonte de água que os moradores usavam nos séculos XVIII e XIX.
"Ainda não há informações ao certo. Pode ser uma estrutura anterior ao teatro, mas pode ser um estrutura incorporado ao teatro. É possível que seja uma fonte. Nós já identificamos outros elementos durante as obras no Centro Histórico de Salvador que serviam para abastecimento de água da cidade. É possível. Há características que podem dar esse indicativo. Mas só uma pesquisa mais aprofundada mesmo. Mas se for uma fonte de fato, é anterior ao teatro, porque não tem indicativos de uma fonte dentro do teatro", disse o superintendente.
Uma série de pesquisas estão sendo feitas para decifrar o enigma. O certo é que a estrutura descoberta irá fazer parte da requalificação da Praça Castro Alves e se tornará um patrimônio do lugar. Isso altera o plano inicial da obra, que irá acolher o novo bem. Por enquanto, as obras de requalificação da Praça Castro Alves apenas se concluirão, nesta etapa, na área externa à estrutura recém-descoberta, que permancerá inalterada até que se concluam as pesquisas a seu respeito.
FONTES: IPHAN, Portal G1, Correio da Bahia, Portal Salvador Antiga.
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