Por Alexandre Figueiredo
Será aberta em Brasília, no próximo dia 27, a exposição interativa "Patrimônio Imaterial Brasileiro – A Celebração Viva da Cultura dos Povos", uma parceria da Caixa Econômica Federal e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A mostra será realizada na Caixa Cultural e a entrada será gratuita. A mostra durará até 27 de março.
O evento foi idealizado pela relações públicas Fernanda Pereira, o produtor cultural Luiz Prado e a pesquisadora e escritora Mirna Brasil Portella, com curadoria de Luciano Figueiredo, com o objetivo de apresentar um levantamento das maiores manifestações culturais ligadas ao patrimônio imaterial brasileiro.
A mostra será inaugurada com a apresentação de Boi de Seu Deodoro, tradicional grupo de bumba-meu-boi do Distrito Federal que atua sob o legado deixado pelo pesquisador folclórico Teodoro Freire (1920-2012), maranhense que viveu no Rio de Janeiro e havia também ensinado a cultura do bumba-meu-boi na capital fluminense.
A exposição passou por Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife e Fortaleza, e a primeira edição contava apenas com 30 bens culturais considerados patrimônio imaterial. A lista se ampliou com o tempo, devido aos novos bens incluídos, e a nova exposição contará com 38.
O Bumba-Meu-Boi do Maranhão é um dos bens incluídos na exposição, e o Estado compartilha com o Ceará a apresentação do Teatro de Bonecos do Nordeste Cassimiro Coco. Os teatros de bonecos Mamelungo, em Pernambuco, João Redondo e Calunga, ambos no Rio Grande do Norte, e o Babau, na Paraíba, serão representados na mostra.
A Bahia será representada pela Oficina das Baianas do Acarajé, da Festa do Nosso Senhor do Bonfim e do Samba de Roda do Recôncavo Baiano. No âmbito nacional, o Ofício dos Mestres de Capoeira e a Roda de Capoeira serão apresentados na mostra. Sergipe virá com o Modo de Fazer Renda Irlandesa.
Em Pernambuco, a Feira de Caruaru, com todas as manifestações relacionadas - sobretudo a Banda de Pífanos de Caruaru - , será apresentada, assim como o Frevo, o Maracatu Nação, o Maracatu de Baque Solto e o Cavalo Marinho. O Piauí será representado pela Cajuína e o Rio Grande do Norte, pela festa religiosa de Santana de Caicó, homenagem à padroeira desta cidade potiguar.
Do Norte, o Amazonas mostrará imagens da Cachoeira do Iauaretê, lugar considerado sagrado pelas tribos indígenas Tariano, Pira-Tapuia, Wanano, Tuyuka e outras, que vivem nas áreas dos rios Uaupés e Tapuri. Do mesmo Estado, será também exibido o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro.
Também do Norte, serão mostrados, do Pará, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, as Festividades de São Sebastião na Região do Marajó, o Carimbó e o Modo de fazer Cuias no Baixo Amazonas. Do Amapá, será exibida a Arte Kisiwa, constituída de pintura corporal e arte gráfica produzida pela tribo Wajãpi.
Do Centro-Oeste, Goiás virá com a Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis. Goiás compartilha com Tocantins (Estado que, apesar de pertencer à Região Norte, correspondeu a parte do território goiano) a apresentação dos patrimônios Rtixòkò, que é a cultura artística e mística da tribo Karajá, e os Saberes e Práticas Associados aos Modos de Fazer Bonecas da mesma tribo indígena.
Outro patrimônio presente na mostra, o Modo de Fazer Viola-de-Cocho, muito tocada em festas religiosas nas regiões do Pantanal, é compartilhado pelos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (que outrora eram o mesmo Estado do Mato Grosso). De parte apenas do atual Mato Grosso, será apresentado o Ritual Yaokwa do Povo Indígena EnaweneNawe.
Do Sudeste, Minas Gerais será representada pelo Modo Artesanal de Fazer Queijo de Minas nas regiões do Serro e serras da Canastra e do Salitre, o Toque dos Sinos e o Ofício dos Sineiros. Os quatro Estados sudestinos, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, compartilham o Jongo, dança de origem africana derivada do samba.
O Rio de Janeiro será representado pela Festa do Divino Espírito Santo de Parati e pelas Matrizes do Samba do Rio de Janeiro, que são o partido alto, o samba de terreiro e o samba-enredo. São Paulo divide com o Estado sulino do Paraná o Fandango Caiçara, dança caipira de origem barroca praticada no litoral sul paulista e no litoral norte paranaense.
O Rio Grande do Sul representará a Região Sul através das imagens e informações a respeito de Tava Miri São Miguel de Arcanjo, um local de referência para a tribo GuaraniMByá por ter sido território de antepassados, situado na região de São Miguel das Missões, no Oeste gaúcho.
O Samba de Roda do Recôncavo Baiano, a Arte Kusiwa da tribo Wajãpi, o Frevo, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré e a Roda de Capoeira também são considerados Patrimônios Históricos da Humanidade pela UNESCO, órgão vinculado à Organização das Nações Unidas.
Os bens culturais do patrimônio imaterial estão registrados em quatro livros pelo IPHAN, cada um com uma categoria específica: Saberes, Lugares, Celebrações e Formas de Expressão. O tema patrimônio imaterial tornou-se oficialmente foco das políticas patrimoniais a partir do Decreto-Lei de 04 de agosto de 2000.
No entanto, pode-se inferir que o patrimônio imaterial teria sido um dos grandes interesses do poeta, escritor e ativista cultural Mário de Andrade (1893-1945), um dos principais líderes do movimento modernista. Quando ele fundou o então SPHAN (serviço), junto com Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898-1969), em 1936, Mário tinha muitas ideias a respeito do patrimônio cultural.
No entanto, restrições de ordem política e financeira fizeram, na época, o SPHAN se concentrar no patrimônio material, com ênfase nos principais sítios históricos brasileiros. Com o tempo, porém, o âmbito patrimonial acabou se ampliando e o idealismo de Mário de Andrade e suas pesquisas sobre patrimônio imaterial deixaram sementes para políticas futuras.
FONTES: IPHAN, Portal Feira de Caruaru, Fundação Joaquim Nabuco, Ministério da Cultura, Wikipedia.
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