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A IMPORTÂNCIA DE OSCAR NIEMEYER PARA O BRASIL E O MUNDO


Por Alexandre Figueiredo

Oscar Niemeyer, um dos mais renomados arquitetos brasileiros, nos deixou ontem à noite, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, a dez dias de completar 105 anos. Sofria insuficiência respiratória e desde novembro estava muito doente.

Foi uma vida longeva e ativa, em que Oscar, mesmo com a voz mais frágil, expressou sua lucidez nos últimos anos. Era um dos últimos remanescentes de uma produtiva geração de intelectuais que procurou pensar e agir pelo Brasil. Era formado em Arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes, atual Escola de Belas Artes da UFRJ, em 1934.

Era uma época em que a geração modernista já se consolidava como um grupo de intelectuais dedicados ao progresso sócio-cultural do Brasil. Mário de Andrade já atuava em cargos administrativos do governo paulista e depois se tornaria um dos fundadores do IPHAN, então conhecido como SPHAN (Serviço), juntamente com Rodrigo Melo Franco de Andrade.

A fundação do SPHAN, a partir de 1936 mas oficialmente através do Decreto-lei 25, de 30 de novembro de 1937, se deu a partir do aval de inúmeros intelectuais. Até o poeta Vinícius de Moraes deu seu aval para a criação do IPHAN. E Oscar Niemeyer também deu seu grande apoio à instituição.

Niemeyer, em 1943, já se tornava bastante conhecido quando o amigo e prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek de Oliveira, o designou para criar o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, desenhando uma das paisagens mais bonitas da capital mineira. E que seria também um dos símbolos que puxariam a reformulação urbana da cidade, com Juscelino já como governador de Minas Gerais.

A Pampulha se destaca sobretudo pela belíssima Igreja de São Francisco de Assis, com um traçado diferente das igrejas convencionais, com o desenho do santo junto a um lobo feito pelo artista plástico Cândido Portinari.

Dez anos antes de se reunirem para bolar Brasília, Oscar Niemeyer e outro arquiteto, Lúcio Costa - também notável estudioso da história e da teoria da Arquitetura no Brasil e também um dos que deram aval à criação do SPHAN - , participaram de uma numerosa e prestigiada equipe de arquitetos e engenheiros que elaborou o edifício do então Ministério da Educação e Saúde.

Hoje intitulado Palácio Gustavo Capanema, o imponente edifício situado no bairro do Castelo, no Rio de Janeiro, era um dos símbolos da reformulação urbana do centro carioca, depois da derrubada do Morro do Castelo, no final da década de 1920. Outros arquitetos, como Affonso Eduardo Reidy e Ernani Vasconcellos, também participaram da elaboração, sob a coordenação do famoso arquiteto Le Corbusier.

Le Corbusier era uma das mais destacadas figuras da arquitetura moderna mundial, do começo do século XX, com várias obras realizadas, principalmente na França, seu país adotivo (era suíço de nascimento) e em 1936 havia feito viagens de pesquisa no Brasil, tendo como piloto de um dos aviões que o transportaram o famoso Antoine de Saint-Exupèry, aviador popularmente conhecido pelo livro O Pequeno Príncipe.

O Edifício Palácio Gustavo Capanema, inaugurado em 1946, havia sido um dos símbolos tardios do Estado Novo, mas era sobretudo o símbolo de uma arquitetura moderna, com seu prédio e um pátio dotados de grande beleza, e que são tombados pelo patrimônio histórico, estando hoje em reformas, melhorias na rede elétrica e criação de acessos para portadores de deficiência física.

Logo depois, Niemeyer, já consagrado arquiteto, foi convidado para desenhar o prédio da sede da Organização das Nações Unidas, principal bloco político surgido em 1947 para corrigir os erros da organização anterior, chamada Liga das Nações, e que existe até hoje como um dos principais órgãos reguladores da geopolítica mundial. Niemeyer fez o projeto junto com Le Corbusier.

Oscar Niemeyer se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCB - atual Partido Comunista Brasileiro), conheceu Luiz Carlos Prestes mas foi impedido de dar aulas na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, devido a essa posição política. Niemeyer também assumiu ser ateu e, mais tarde, tornou-se amigo também do político cubano Fidel Castro.

Em 1950, Niemeyer foi homenageado com um livro de Stamo Papadaki, The Work of Oscar Niemeyer, primeiro livro dedicado a analisar sua obra. E Niemeyer, enquanto isso, bolava o desenho do edifício Copan, um dos maiores feitos em estrutura de concreto armado em São Paulo, inaugurado em 1951. Quatro anos depois, de suas mãos São Paulo ganha o Conjunto do Ibirapuera, no parque do mesmo nome.

Em 1952, depois de um ano de elaboração, ele constrói sua própria casa, na Estrada das Canoas, em São Conrado, no Rio de Janeiro. O bairro tem como principal avenida uma que homenageou seu trisavô, o engenheiro Conrado Jacob Niemeyer, a famosa Av. Niemeyer que termina no bairro do Leblon, na Zona Sul carioca.

Como ativista cultural, Niemeyer também colaborou muito, e em 1955 era um dos membros fundadores da revista Módulo, dedicada não somente à arquitetura, mas a outros assuntos relacionados às artes e à cultura de interesse no Brasil. A revista teve sua edição proibida pela ditadura militar, em 1965, mas em 1975 voltou a circular, encerrando suas atividades em 1989.

Em 1956, vencendo um concurso de Arquitetura, Oscar Niemeyer e o parceiro Lúcio Costa foram escolhidos por seu projeto de desenho arquitetônico da nova capital, Brasília, construída em tempo recorde e sob muitas dificuldades e oposição - sobretudo do político udenista e jornalista Carlos Lacerda - durante o governo Kubitschek.

Lúcio Costa elaborou o plano piloto da capital federal, elaborando os desenhos das ruas de acordo com os critérios técnicos da Novacap, empresa responsável pela construção da cidade. Niemeyer foi responsável pela elaboração de prédios públicos da cidade e da ornamentação de seu entorno. Em 1958, algumas obras são inauguradas, entre elas o Palácio da Alvorada.

Inaugurada Brasília, em 21 de abril de 1960, Niemeyer se prontifica a registrar sua experiência em livro, Minha Experiência em Brasília, publicado em 1961. Participando dos debates e traçando o desenho arquitetônico da Universidade de Brasília, Niemeyer foi nomeado coordenador da Escola de Arquitetura da instituição, na sua breve experiência educacional banida pela ditadura militar e nunca recuperada.

Abandona a Universidade de Brasília em protesto contra as pressões do regime militar e depois se exila na França, onde faz vários trabalhos como arquiteto e intelectual, colaborando não só para a França, mas também para Portugal e para a Argélia, na África.

Nos anos 80, já de volta ao Brasil por conta da anistia, Oscar Niemeyer desenha o Sambódromo, que inaugurou em 1984 uma nova fase dos desfiles do Carnaval do Rio de Janeiro, que passaram a contar com um espaço próprio, recentemente ampliado, sob a autorização do próprio, que chegou a visitar as obras. Pouco antes, o arquiteto havia desenhado o prédio-sede da TV Manchete, inaugurado em 1983.

Na mesma época, Niemeyer construiu o prédio do Memorial JK, dedicado à lembrança e ao legado de Juscelino Kubitschek, morto em 1976 num estranho acidente automobilístico na Via Dutra, juntamente com seu motorista. Em 1985 criou o Panteão da Pátria, em Brasília, e em 1987 o Memorial da América Latina, em São Paulo.

Nos últimos anos, Oscar Niemeyer estava se dedicando ao traçado urbano no centro de Niterói, como o Caminho Niemeyer, junto ao Terminal João Goulart e situado no Aterro Praia Grande. Na década de 90, ele realizou uma de suas últimas grandes obras, o Museu de Arte Contemporânea, no bairro niteroiense de Boa Viagem, junto à ladeira de acesso ao Ingá, pela orla da Baía da Guanabara.

Desde 1989 existe a Fundação Oscar Niemeyer, dedicada a reunir o acervo e a obra do arquiteto, além de documentos a ele relacionados, constituindo-se um memorial dedicado aos seus pouco mais de cem anos de vida de inúmeras atividades e contribuições.

Em 2010, é inaugurado um dos últimos projetos do arquiteto, a Cidade Administrativa Tancredo Neves, ou Cidade Administrativa de Minas Gerais, sede do governo estadual, em Belo Horizonte, na divisa com os municípios de Vespasiano e Santa Luzia.

Na Espanha, a última obra internacional foi o Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer, inaugurado em 2011 e construído durante a candidatura do país europeu para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, competição perdida pela cidade do Rio de Janeiro, que foi escolhida para sede do evento. O centro foi fechadomeses depois, devido à crise política, econômica e administrativa, mas foi reaberto no ano seguinte.

Ao completar 100 anos de idade, o IPHAN tombou 24 de suas obras, além de manter o tombamento de outras, como a Pampulha e a cidade de Brasília. Sabendo do falecimento do mestre, a presidenta do IPHAN, Jurema Machado, que está em Paris participando da 7ª Sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial na sede da UNESCO, destacou a vida e a obra do Arquiteto do Brasil.

"A unidade entre seu pensamento e sua criação, as pontes que soube estabelecer entre a nossas referências culturais e o presente, fazem da sua obra, especialmente para nós que atuamos na preservação do patrimônio, um ensinamento permanente. Precisamos estar à altura desses valores preservando o espírito e a coerência de sua obra. Sua despedida em Brasília é mais um gesto seu em favor da defesa da integridade dos conceitos geradores da cidade, da sua arquitetura e da sua indissociável paisagem. Nos cabe honrar e sobretudo agradecer”, declarou Jurema.

Como últimos legados em 2012, estão o museu Pelé, dedicado ao famoso craque brasileiro, a ser inaugurado em breve, e a nova sede da União Nacional dos Estudantes, no Rio de Janeiro. Como figura humana, Niemeyer deixa também uma lição de humildade, de jovialidade e de paixão pela arte, assim como um exemplo de um grande ativista intelectual e político, sendo importante colaborador para o progresso da humanidade, no Brasil e no mundo.

FONTES: Wikipedia, Carta Capital, Portal R7, Portal Vermelho, IPHAN.

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