Por Alexandre Figueiredo
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural realiza, este mês em Belém do Pará, o projeto educativo Muito Prazer, Seu Patrimônio", uma forma de mostrar as atividades de preservação do patrimônio para a população.
O projeto é uma iniciativa da 2ª Superintendência Regional, um esforço para estabelecer a comunicação entre o IPHAN e a sociedade, além de despertar nas pessoas a consciência patrimonial. Por meio da linguagem teatral, conta-se uma história que mostra os principais problemas que fazem parte do cotidiano social, no que se refere ao patrimônio.
A sinopse gira em torno de quatro personagens. O primeiro é um fotógrafo tradicional, do tipo lambe-lambe, que com uma caixa de madeira realiza fotografias artesanais de transeuntes que passam pela praça diante da Igreja de Santana, no bairro da Campina, em Belém. Há também um jornaleiro, considerado descolado, responsável pela venda do jornal Folha do Patrimônio em plena feira do Ver-O-Peso. A terceira personagem é uma vigarista que se passa por uma vendedora ambulante, e em dado momento ela é flagrada vendendo azulejos roubados na Praça da República, na capital paraense. O quarto personagem é um simpático senhor conhecido como Seu Patrimônio, que percorre os vários espaços da cidade contando histórias curiosas relativas aos bens culturais. No cenário, destaca-se o contraste entre um prédio muito antigo e outro moderno como forma de discutir a questão da preservação dos bens imóveis.
As quatro atividades artísticas descritas na peça correspondem às quatro modalidades de intervenção no patrimônio arquitetônico que contam com a participação do IPHAN. A atividade do fotógrafo lambe-lambe na frente da Igreja de Santana é uma forma de informar ao público sobre o processo de restauração do monumento arquitetônico, feito pela 2ª SR do IPHAN desde 2002. O jornaleiro que trabalha no Ver-O-Peso mostra as atividades de restauração do Mercado de Carne Francisco Bolonha, realizado pela prefeitura da capital paraense com recursos provenientes do Ministério da Cultura. A atuação da vigarista ambulante na Praça da República, por sua vez, alerta para o perigo de roubo e venda ilegal dos objetos históricos e informa aos espectadores sobre os esforços que a 2ª SR do IPHAN realiza trablhando no inventário de alvenaria em Belém. Por fim, o personagem Seu Patrimônio é uma personificação do IPHAN, e informa às pessoas sobre o rico patrimônio histórico do país, na peça exemplificado pelo patrimônio de Belém. Sua performance instiga as pessoas à discussão e chama atenção também à restauração feita pelo Iphan na fachada da sede da Associação Fotoativa, no Largo das Mercês.
Ainda que estejam vinculadas às ações nos prédios históricos, as atividades presentes no projeto pretendem também valorizar a dimensão imaterial do patrimônio cultural. A história contada na peça tem como sinopse central o despertar de um prédio antigo num determinado dia, e sua percepção de que três azulejos históricos de sua fachada foram roubados. O prédio então conta com a ajuda de um edifício moderno, Nupérrima, para descobrir o paradeiro das peças e o autor do roubo.
A valorização do patrimônio imaterial, embora seja uma preocupação antiga - ela era uma das preocupações do poeta e pesquisador cultural Mário de Andrade - , se popularizou nos últimos anos e ganhou o reforço legal do decreto federal 3551, de 2000, que instituiu em todo o país o registro de bens culturais de natureza imaterial e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Com este decreto, o IPHAN deixou de restringir a avaliação do patrimônio através de critérios técnicos, passando a reconhecer também as atividades, artes, crenças, rituais e outros bens culturais a partir da visão dos grupos sociais envolvidos, permitindo que a própria sociedade avalie o patrimônio imaterial através da realidade vivida por seus segmentos.
A peça, a princípio prevista para percorrer os vários espaços culturais de Belém entre 07 e 13 de março, estendeu seu prazo até o dia 22. A nova relação do IPHAN com a sociedade, objetivo da peça, dialoga com a filosofia do decreto 3551, que estimula à sociedade desenvolver um sentimento de pertencimento cultural, além de uma consciência de preservação do patrimônio mais atuante.
Em Belém, a 2ª Superintendência Regional fez duas principais realizações, a de reconhecer o espetáculo do Círio de Nazaré como patrimônio histórico, no ano passado, e a dar início ao inventário da Dança do Carimbó, uma manifestação tradicional da cultura paraense.
FONTES: IPHAN, Diário do Pará.
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