Por Alexandre Figueiredo
Os gaúchos da cidade de Santana do Livramento se preparam para homenagear a Revolta Farroupilha e a reabilitar a imagem do General David Canabarro, cujos restos mortais retornam ao município depois de 61 anos. Um memorial em sua homenagem será erguido na Praça General Osório.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional elaborou um projeto, junto à prefeitura de Santana do Livramento, prevendo a construção, além do memorial, do Museu do Pampa Gaúcho. Para o museu, a prefeitura adquiriu de um morador a residência que pertenceu a David Canabarro, com um preço de R$ 200 mil pelo imóvel. Este será reformado pelo IPHAN para abrigar o museu. O imóvel teve como morador Luiz de Mello Arnes, que viveu no local durante cerca de três décadas.
Entre o imóvel que abrigará o museu e a praça onde ficará o mausoléu, existe uma distância de aproximadamente 500 metros. A praça fica num ponto destacado do centro da cidade e o imóvel fica na Rua 24 de Maio, na esquina com a Rua Barão de Triunfo e na vizinhança de uma unidade do Exército.
A residência foi construída por ordens de Canabarro no ano de 1845. Ela se chamava Chácara da Vila de Sant'Anna do Livramento e serviu de hospedagem para ele e seus familiares enquanto se encontravam na cidade. Assim que deixaram o lugar, Canabarro doou a residência para uma irmã. O general Canabarro passou a maior parte do tempo em outro terreno, a estância de São Gregório, que fica também em Livramento.
A chácara já havia sido tombada pelo então DPHAN (Departamento) em 1953. No entanto, até hoje a comunidade municipal ainda não reconhece o lugar como um patrimônio próprio. Foi preciso que, no ano de 2005, se manifestasse a intenção de recuperar o imóvel que pertenceu ao general farroupilha, através de uma parceria entre o IPHAN e o Centro de Ensinos e Pesquisas Arqueológicas (CEPA) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC-RS). Foram feitas escavações no local, em busca de objetos arqueológicos que possam depois integrar o acervo do museu a ser estabelecido no lugar. O museu se destina a contar não somente a história do General Canabarro e da Revolta Farroupilha, mas também da história da região de Santana do Livramento.
A raiz de Santana do Livramento se dá a partir de um povoado instalado por volta de 1814. Nessa época, Luís Teles da Silva Caminha e Menezes, quinto Marquês de Alegrete, realizou as doações das primeiras sesmarias, com uma área de uma légua de frente por três de fundos. O número de sesmarias aumentou em 1818, pois suas construções eram incentivadas pelo governador da província do Rio Grande do Sul, Dom José Castelo Branco da Cunha de Vasconcelos, o Conde de Siqueira, que havia assumido o poder.
Entre os primeiros colonizadores de Santana do Livramento, estavam os índios das tribos Charrua e Minuano, pertencentes ao grupo dos Guaicurus do Sul. Entre os primeiros europeus que viviam no lugar, estavam os jesuítas espanhóis, que contribuíram para a formação e o povoamento do município.
A cidade de Santana do Livramento fica na fronteira sudoeste do Rio Grande do Sul, na divisa com o Uruguai. É cidade vizinha da uruguaiana Rivera, e as duas cidades são consideradas cidades-irmãs, porque são separadas por apenas uma rua, conhecida como "Fronteira da Paz".
Santana do Livramento surgiu num período de conflitos e, como todas as cidades localizadas na fronteira sul do Brasil, foi alvo de disputa política entre portugueses e espanhóis. A Colônia do Santíssimo Sacramento, surgida em 1680, foi o primeiro vestígio da colonização portuguesa na região, mas que não tardou de ser disputada também pelos espanhóis, que durante quase um século entraram em conflito com os portugueses. A situação foi resolvida, a princípio, com o Tratado de Madrid, em 1750, quando a região dos Sete Povos das Missões passou para o controle dos portugueses, enquanto o Santíssimo Sacramento passou para os espanhóis. Mas a resistência dos índios guaranis fez com que fosse realizado o Tratado de El Pardo, em 1761, que anulou o Tratado de Madrid. O litígio só terminou no início do século XIX, quando foram definidas as fronteiras atuais.
Nascido David José Martins, em Taquari (RS), em 22 de agosto de 1796, já atuava aos 15 anos no exército do império brasileiro. Tornou-se tenente após a Guerra Cisplatina, o conflito entre o Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (região que corresponde à atual Argentina), que se encerrou com a independência da Província Cisplatina, disputada pelos dois países, e que se tornou a atual República do Uruguai.
O sobrenome Canabarro tem origem misteriosa, mas segundo o historiador da região de Santana do Livramento, Ivo Caggiani, este sobrenome já era usado por vários parentes do general. Diante dos conflitos que aconteciam na região, o governo Português nomeia vários comandantes da fronteira. Canabarro é um dos escolhidos, por conhecer toda a região.
Tendo sido um dos líderes da Revolução Farroupilha, revolta de causa republicana contra o governo imperial no Brasil, David Canabarro tornou-se uma figura polêmica. Na fase final da Guerra dos Farrapos (o nome "farrapos" se dá por causa do traje humilde de muitos soldados; o nome se associou depois a todos os que se revoltavam contra o Império), a Batalha dos Porongos, quando os Lanceiros Negros, um grupo de escravos que entraram na guerra na esperança de obterem alforria, foram massacrados pelas tropas imperiais comandadas pelo coronel Francisco Pedro. Canabarro, considerado um dos heróis da Guerra dos Farrapos, teria sido acusado de desarmar os Lanceiros Negros e colocá-los para lutar assim mesmo contra as tropas imperiais. Não existem provas sobre essa hipótese, e espera-se que as dúvidas e polêmicas sobre este episódio se resolvam com os futuros estudos a serem estimulados pelo acervo do Museu do Pampa Gaúcho e com o memorial do general Canabarro.
FONTES: Jornal Extra Classe, Wikipedia, Assis Brasil.Org.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
OLIVEIRA, Fabiana de e SOARES, André Luiz Ramos. "Educação Patrimonial e a Pesquisa arqueológica do “Sítio Casa de David Canabarro” em Santana do Livramento, RS". Monografia realizada no Núcleo de Educação Patrimonial e Memória – NEP, da Universidade Federal de Santa Maria (RS). Publicado no endereço http://cidadereveladaadm.itajai.sc.gov.br/arquivos/COM-08.pdf. Consultado em 19 de agosto de 2008.
Comentários