Por Alexandre Figueiredo
Um dos maiores arquitetos do país completa 100 anos no dia 15 de dezembro. Oscar Niemeyer, também considerado uma figura humana ilustre, por aliar um talento grandioso com uma humildade incomparável, realizou diversas obras no Brasil e no mundo. E, para homenagear o centenário do arquiteto, que continua em atividade e recentemente idealizou o corredor cultural de Niterói, que ganhou o nome de Caminho Niemeyer, o IPHAN decide iniciar o processo de tombamento de 24 obras de Niemeyer.
O anúncio se deu no dia 06, pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Na oportunidade, além do anúncio do processo de avaliação para tombamento das obras de Niemeyer, foi anunciado também o tombamento da paisagem cultural de Santa Catarina, que envolve 50 propriedades rurais e dois núcleos históricos representativos das imigrações italianas, polonesas, alemãs e ucranianas na região, que envolve municípios como Blumenau e Joinville.
Também foi feito o anúncio do processo de tombamento do centro histórico de João Pessoa, capital da Paraíba. É uma área de 370 mil metros quadrados, contendo 502 edificações, 25 ruas e seis praças, e envolvem boa parte dos bairros do Varadouro e da Cidade Alta. Também faz parte da área o Porto Capim, considerado ponto de origem da capital paraibana.
A homenagem das autoridades ao arquiteto Oscar Niemeyer foi adiantada na manhã do dia 30 de novembro, quando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, o presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, compareceram no escritório de Niemeyer, no bairro de Copacabana, para saudar o centenário do arquiteto. Durante a visita, Gil anunciou a decisão do IPHAN em iniciar o processo de tombamento das obras.
AS OBRAS INCLUÍDAS
A maioria das obras de Niemeyer está localizada na cidade de Brasília, cuja construção contou com a participação decisiva do arquiteto, ao lado de Lúcio Costa. As obras envolvem 23 feitas em Brasília e a Casa das Canoas, no Rio de Janeiro. A Casa das Canoas, construída em 1951, foi durante 12 anos a residência de Niemeyer, que concebeu a própria casa, situada na Estrada das Canoas, em São Conrado.
Niemeyer já tem obras tombadas pelo IPHAN: a Catedral de Brasília, o Catetinho (prédio provisório do Governo Federal diante das obras de construção de Brasília), e o entorno da Pampulha, que inclui a famosa e polêmica igreja (suas concepções modernas não agradaram a Igreja católica), em Belo Horizonte.
A lista de obras a ser apreciada pelo IPHAN para inscrição do Livro de Tombo da instituição inclui:
Obras de Brasília:
1. Palácio da Alvorada (Conjunto Arquitetônico, incluindo Capela e demais edificações)
2. Capela Nossa Senhora de Fátima
3. Praça dos Três Poderes
3.1. Congresso Nacional e anexo
3.2. Museu da fundação de Brasília
3.3. Palácio do Planalto
3.4. Supremo Tribunal Federal
3.5. Casa de Chá
3.6. Pombal
3.7. Espaço Lucio Costa
4. Ministérios e anexos
4.1. Palácio da Justiça
4.2. Palácio do Itamaraty e anexos
5. Panteão da Liberdade e da Democracia Tancredo Neves
6. Teatro Nacional Cláudio Santoro
7. Quartel General do Exército
8. Residência do Vice-Presidente da República (Palácio do Jaburu)
9. Memorial JK
10. Memorial dos Povos Indígenas
11. Conjunto Cultural da Funarte
12. Espaço Oscar Niemeyer
13. Conjunto Cultural Sul (Museu e Biblioteca, incluindo os espaços entre os prédios)
14. Prédio do Touring Club do Brasil
Obra do Rio de Janeiro:
1. Casa das Canoas
OSCAR NIEMEYER
Nascido em 15 de dezembro de 1907, no Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal e então sede de uma República Velha onde se concentrava a disputa política entre oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares é um dos remanescentes, vivos no começo do século XXI, de uma geração que promoveu muitas e decisivas transformações sociais, sobretudo no âmbito cultural e político, no Brasil. Foi uma geração que derrubou a República Velha, na década de 1920, e viveu seu auge durante os anos do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961).
Niemeyer pertence ao mesmo clã do comendador Conrado Niemeyer, cujo nome foi utilizado para batizar a avenida que liga o Leblon ao bairro de São Conrado, Avenida Niemeyer. Em 1937, integra a equipe de intelectuais e artistas que faz parte do Ministério da Educação e da Saúde Pública, cujo titular foi Gustavo Capanema e cujo chefe de gabinete foi o poeta e cronista mineiro Carlos Drummond de Andrade. Além de Drummond, Niemeyer convive com outros nomes ilustres, como o escritor e pesquisador cultural Mário de Andrade, um dos mentores da Semana de Arte Moderna de São Paulo, ocorrida em 1922, e também um dos idealizadores do SPHAN (atual IPHAN).
Entre as primeiras obras que contaram com a participação de Niemeyer, destaca-se o prédio que foi sede do Ministério da Educação, no bairro carioca do Castelo, construção hoje conhecida como Edifício ou Palácio Gustavo Capanema, em homenagem ao ministro falecido em 1985. O prédio simbolizava a imponência do Estado Novo e foi idealizado por Lúcio Costa, em parceria com vários arquitetos, entre eles Affonso Eduardo Reidy e o próprio Niemeyer, contando também com a orientação do arquiteto francês Le Corbusier, que apresentou aos brasileiros as lições de sua experiência com um conjunto de edifícios em Paris. O prédio hoje é um dos patrimônios protegidos pelo IPHAN.
A primeira obra individual de Niemeyer foi na área em torno da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Conhecendo o então prefeito da cidade, Juscelino Kubitschek, este o recomendou a planejar a urbanização da área da Pampulha, na Zona Norte. Os prédios idealizados se tornaram realidade em 1943, sendo um deles a igreja de São Francisco de Assis, ou a Igreja da Pampulha. A Igreja católica se recusou a abençoar a construção, por não ter gostado de sua concepção arquitetônica moderna e por cismar com a figura de um cachorro junto a São Francisco, simbolizando um lobo.
Depois de Brasília (onde, depois de inaugurada a nova capital, o arquiteto ainda colaborou com o desenho do prédio da Universidade de Brasília), vindo o Golpe de 1964, Oscar Niemeyer, adepto do comunismo, foi obrigado a deixar o Brasil. Mantendo sua atividade no exterior, é homenageado, em 1965, por uma exposição no museu do Louvre, em Paris. Niemeyer realizou, entre outras obras fora do Brasil, a sede do Partido Comunista Francês, o prédio da editora italiana Mondadori, e a Universidade de Constantine e a mesquita de Argel, ambas na Argélia. Niemeyer é beneficiado pela Lei de Anistia de 1979, que traz de volta os exilados políticos brasileiros.
Entre as obras recentes de Oscar Niemeyer, estão o Museu de Arte Contemporânea, localizado no bairro de Boa Viagem, em Niterói (RJ), inaugurado em 1996, e o Teatro Popular da mesma cidade, inaugurado em abril de 2007.
FONTES: IPHAN, Folha de São Paulo, Wikipedia.
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