Pular para o conteúdo principal

O ROUBO DE OBRAS DE ARTE NO BRASIL



Por Alexandre Figueiredo

A precariedade dos museus brasileiros é uma preocupação que não pode se restringir às conversas de botequim nem às reclamações pelas costas dos brasileiros. E nem mesmo nas eventuais denúncias veiculadas pela grande mídia. Esse assunto deveria estar em pauta permanente nas preocupações não apenas em entender o problema, mas em solucioná-lo.

Entre fevereiro e março de 2006, ocorreram dois grandes roubos no Rio de Janeiro, quando foram levadas peças estrangeiras e nacionais de grande relevância artística e histórica. Entre elas, quadros de Pablo Picasso, Henri Matisse, Claude Monet e Salvador Dali. Desde 2003, foram cinco roubos registrados, em que ladrões levaram, além de pinturas, documentos históricos, livros raros e outras preciosidades. Até a célebre obra "O grito", de Edvard Munch, se encontra entre as peças desaparecidas.

A falta de segurança favoreceu tais ações, que deixam um quadro preocupante no que se refere à guarda de obras de arte nacionais e internacionais no Brasil. Segundo informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), hoje são cerca de 1010 peças desaparecidas, índice que já é alarmante.

Ações para recuperar peças roubadas e capturar os envolvidos estão sendo feitas. Em uma ação realizada no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, foram encontradas restos de molduras que teriam sido retiradas dos quadros roubados.

Trata-se de uma quadrilha internacional que estaria por trás dos roubos de obras de arte. As peças, várias delas, já podem estar fora do Brasil. Segundo o avaliador de obras de arte, Jones Bergamin, não existe um mercado clandestino de obras de arte no Brasil. Um dos suspeitos pode ser o falsificador de quadros Michel Sylvain Cohen, que havia escapado, três anos atrás, de uma prisão no Rio. Ele teria participado de um assalto no Museu Chácara do Céu, quando nove turistas foram seqüestrados e um vigia foi agredido por se recusar a desligar o circuito interno de televisão. As autoridades brasileiras divulgaram as fotos dos suspeitos nos aeroportos, oferecendo recompensa de R$ 10.000,00 para quem oferecer informações que levem a polícia a prender os ladrões.

As peças de arte, cada uma, são avaliadas em cerca de US$ 50 milhões em média. Mas a ação de ladrões não é a única ameaça relacionada à guarda de obras de arte em museus brasileiros. Uma série de fatores, vinculadas tanto à burocracia quanto à negligência do país quanto à valorização da memória histórica, acontece, constituindo num desleixo típico de um país como o Brasil, que costuma desconhecer e menosprezar seu próprio potencial.

Há uma falta de preparo dos próprios seguranças, que nenhum equipamento sofisticado de segurança pode resolver. Afinal, para que reforçar a aparelhagem de segurança, se os guardas responsáveis mal conseguem mexer num computador? E por que eles têm que andar desarmados, se isso inutiliza totalmente o seu trabalho, porque apenas vigiar não previne ações de assalto. Pelo contrário, uma ação desse porte inevitavelmente põe esses guardas em pior situação, desprevenidos e indefesos.

Além disso, há as instalações problemáticas dos museus, com telhados que não protegem os recintos, que sofrem a ação de goteiras e da umidade que pode prejudicar as obras. Não há investimentos sérios que possam fazer os museus, além de seguros, mais apropriados para guardar e preservar as obras de arte. Alguns museus nem possuem detector de metais. Mas o Museu Chácara do Céu, com sistema interno de televisão, não conseguiu evitar um assalto que fez o museu perder obras de grande valor.

No início de março, o Ministério da Cultura anunciou um plano com o objetivo de reforçar o esquema de segurança em todos os museus brasileiros. Resta saber se ele será mesmo eficaz e permanente e se todos os investimentos necessários serão a ele destinados.

Fontes: Site do Fantástico (Rede Globo) e Agência LUSA.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

IPHAN TOMBA CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO PESSOA

Por Alexandre Figueiredo No dia 05 de agosto de 2008, o Centro Histórico da cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, passa a ser considerado patrimônio histórico. Uma cerimônia realizada na Câmara Municipal de João Pessoa celebrou a homologação do tombamento. No evento, estava presente o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Luiz Fernando de Almeida, representando não somente a instituição mas também o ministro interino da Cultura, Juca Ferreira, ausente na ocasião. Luiz Fernando recebeu dos parlamentares municipais o título de "Cidadão Pessoense", em homenagem à dedicação dada ao Centro Histórico da capital paraibana. Depois do evento, o presidente do IPHAN visitou várias áreas da cidade, como o próprio local tombado, além do Conjunto Franciscano, o Convento Santo Antônio e a Estação Cabo Branco, esta última um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer que foi inaugurado no mês passado. Luiz Fernando de Almeida participou também da abertura da Fei...

A POLÊMICA DA HISTÓRIA DAS MENTALIDADES

Por Alexandre Figueiredo Recentemente, a mídia lançou mão da história das mentalidades para legitimar tendências e ídolos musicais de gosto bastante duvidoso. O "funk carioca", o pagode baiano, o forró-brega, o breganejo e outros fenômenos comerciais da música feita no Brasil sempre lançam mão de dados biográficos, de sentimentos, hábitos pessoais dos envolvidos, chegando ao ponto da ostentação da vida pessoal. Também são mostradas platéias, e se faz uma pretensa história sociológica de seus fãs. Fala-se até em "rituais" e as letras de duplo sentido - na maioria das vezes encomendada por executivos de gravadoras ou pelos empresários dos ídolos em questão - são atribuídas a uma suposta expressão da iniciação sexual dos jovens. Com essa exploração das mentalidades de ídolos duvidosos, cujo grande êxito na venda de discos, execução de rádios e apresentações lotadas é simétrico à qualidade musical, parece que a História das Mentalidades, que tomou conta da abordagem his...

SÍLVIO SANTOS E ROBERTO CARLOS: COMEÇO DO FIM DE UMA ERA?

Por Alexandre Figueiredo Símbolos de um culturalismo aparentemente de fácil apelo popular, mas também estruturalmente conservador, o apresentador Sílvio Santos e o cantor Roberto Carlos foram notícias respectivamente pelos seus desfechos respectivos. Sílvio faleceu depois de vários dias internado, aos 94 anos incompletos, e Roberto anunciou sua aposentadoria simbólica ao decidir pelo encerramento, previsto para o ano que vem, do seu especial de Natal, principal vitrine para sua carreira. Roberto também conta com idade avançada, tendo hoje 83 anos de idade, e há muito não renova sua legião de fãs, pois há muito tempo não representa mais algum vestígio de modernidade sonora, desde que mudou sua orientação musical a um romantismo mais conservador, a partir de 1978, justamente depois de começar a fazer os especiais natalinos da Rede Globo de Televisão.  E lembremos que o antigo parceiro de composições, Erasmo Carlos, faleceu em 2022, curiosamente num caminho oposto ao do "amigo de fé ...