IMAGEM ILUSTRATIVA MOSTRA COMO OS EMPRESÁRIOS DO ENTRETENIMENTO TENTAM CONVENCER OS CRÍTICOS MUSICAIS A EVITAR FALAR MAL DA MEDIOCRIDADE MUSICAL DOMINANTE NO BRASIL.
Por Alexandre Figueiredo
A onda de narrativas que glamouriza os antigos ídolos da música pipularesca anda chamando a atenção por sua aparente objetividade. A exaltação de fenômenos como o "pagode romântico", a celebração dos 40 anos da axé-music e o saudosismo de resultados do brega-vintage mostra que existe um movimento de faz-de-conta que tenta forjar genialidade no comercialismo fácil dos ídolos da música brega-popularesca.
Com fenômenos recentes como a entrevista do cantor de "pagode romântico" Péricles no Fantástico, as homenagens ao cantor Luís Caldas pela obra "pioneira" da axé-music e, pouco tempo atrás, pela antecipação dos 30 anos do É O Tchan - outro nome da axé-music - aos 28 anos de carreira e o hype da música "Evidências", composição de José Augusto nas vozes de Chitãozinho & Xororó, a goumetização do brega tornou-se um modismo entre setores considerados "sérios" e "gabaritados" da crítica especializada.
Temos, além disso, Michael Sullivan, que já tentou destruir a MPB autêntica e passou a usá-la para retomar a carreira, além de "peregrinar" pelos espaços de divulgação emepebistas, tentando vender seu produto, também tentou forjar um pretenso "movimento" chamado "Pernamblack", nome baseado no Estado natal do músico, Pernambuco, projeto que não repercutiu.
E ainda há o caso do recente disco de Odair José, ícone do brega dos anos 1960-1970 e musicalmente equivalente, no Brasil, ao que representou o cantor Pat Boone nos EUA. Com a crítica promovendo uma reputação de "rebelde" a Odair, a partir das músicas censuradas pela ditadura militar - mais por mal-entendidos das letras do que pela "ameaça subversiva" que representariam - , o autor de "Pare de Tomar a Pílula" e "Eu Vou Tirar Você Deste Lugar" tenta soar "mais roqueiro" e "experimental". Tendo feito uma tentativa de fazer uma "ópera-rock" baseada na vida de Jesus Cristo, Odair recentemente fez um disco "focado" na Inteligência Artificial.
Odair José tornou-se o queridinho da crítica musical "séria" dos últimos anos e também o ídolo de uma parcela descolada da intelectualidade burguesa que se tornou "órfã" de Caetano Veloso e Roberto Carlos, cuja idolatria foi manchada por incidentes considerados "controversos". Daí Odair simbolizar, ao mesmo tempo, uma opção para uma "Tropicália sem Caetano" e uma "Jovem Guarda sem Roberto".
O APARATO DE PROFISSIONALISMO: ARRANJADORES, PRODUTORES E EXECUTIVOS DE MÍDIA
O aparato de "qualidade" e "transparência" do mercado brega-popularesco se desenvolve como um lobby no qual críticas negativas precisam ser minimizadas para quase nada, para o bem da sustentabilidade econômica do ídolo popularesco. E várias funções estão envolvidas neste processo.
Os arranjadores são designados para "embelezar" as canções dos ídolos popularescos, num meio musical onde quase não existem intérpretes que fazem seus próprios arranjos. Geralmente os arranjadores têm um histórico de trabalhos com a MPB e a Jovem Guarda, e que, por questões profissionais, têm que atuar para tornar as músicas popularescas mais "palatáveis" e "agradáveis".
Temos também os produtores de televisão, os executivos do entretenimento, da mídia e de empresas anunciantes, principalmente as indústrias de cerveja, maiores interessadas pela supremacia da música brega-popularesca, feita para "descer redondo" na goela do público.
Não por acaso, o cancioneiro brega-popularesco, dos primeiros ídolos cafonas até a sofrência atual, passando pelos "sofisticados" Chitãozinho & Xororó, está cheio de sucessos que têm a cerveja como tema, soando como um mershandising disfarçado.
Todo esse aparato é feito para dar um verniz de "bom gosto", "objetividade" e "estabilidade" nos fenômenos popularescos, como se estes fossem algo artisticamente relevante, o que não é verdade. Pois esses fenômenos são apenas sucessos comerciais, são meros produtos e mercadorias, e todo esse jogo de aparências, por mais que apele para mentiras que apresentem uma "superioridade artística" inexistente, que glamourize canções que são mais precárias e superficiais artisticamente do que hoje tanto se fala.
As canções brega-popularescas são apenas canções de elaboração precária, em muitos casos com um conteúdo piegas e que só servem para o sucesso momentâneo. São de qualidade artístico-cultural duvidosa, mas a carga afetiva que toda essa blindagem feita pelo mercado, pela mídia e pela crítica especializada, através de um calculado "saudosismo", converte os ídolos popularescos em falsos gênios.
Tudo é decidido em mesas de negócios, um lobby é formado e até os críticos musicais mais incisivos precisam moderar suas abordagens para adotar uma postura complacente a certos nomes popularescos que precisam ser "preservados".
Portanto, a música popularesca e seus sucessos do passado não se revelaram "melhores" do que quando executavam nos sucessos momentâneos do rádio. Na verdade, elas continuam tão medíocres e, culturalmente, tão "nutritivos" quanto uma bala de um sabor artificial. As músicas podem soar "divertidas" e "emocionantes", mas os sucessos popularescos não têm a força de serem perenes artisticamente, apenas sobrevivendo nos seus "quinze minutos" de pretensa genialidade forjada pelo lobby de empresários, produtores, arranjadores, jornalistas e outros envolvidos. É tudo negócio.
FONTES: Portal G1, UOL, Carta Capital, Caros Amigos, Blogue Linhaça Atômica.
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