A PINTURA AS MULATAS (1962), DO ARTISTA PLÁSTICO MODERNISTA DI CAVALCÂNTI, FOI UM DOS BENS DANIFICADOS PELO VANDALISMO GOLPISTA DE OITO DE JANEIRO.
Por Alexandre Figueiredo
Em entrevista realizada ao portal de notícias Poder 360 no último dia 20, o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Leandro Grass, afirmou que o instituto foi "bastante atacado" durante o governo Jair Bolsonaro, não bastasse a humilhante iniciativa de extinguir, nesse mandato, o Ministério da Cultura e substitui-lo por uma secretaria sem autonomia administrativa.
Se o IPHAN costuma ser alvo de desprezo e ser subestimado pelas políticas públicas, durante os quatro anos em que Jair Bolsonaro, como presidente da República, envergonhou o Brasil, a autarquia era alvo do mais profundo desprezo e, quando era lembrada, era apenas "de maneira pejorativa e desrespeitosa", de acordo com o atual presidente do órgão.
Grass lembra que a área do patrimônio cultural foi prejudicada nos últimos anos. "Para se ter uma ideia, em 2022 o Iphan investiu R$ 1,7 milhão na salvaguarda do patrimônio imaterial. No ano passado (2023), nós alcançamos R$ 23 milhões de investimento e estamos investindo mais neste ano".
Num dos poucos acertos do atual mandato de Lula, hoje bastante irregular e focado mais na propaganda pessoal do presidente, o IPHAN retomou a atividade técnica que marcou o instituto e também a sua preocupação social voltada ao interesse público. "O grande propósito da nossa gestão é fazer com que a política do patrimônio cultural alcance as pessoas que mais precisam", disse o professor e sociólogo.
Grass mencionou uma das iniciativas recentes do IPHAN, o Canteiro-Modelo de Conservação, um projeto que combina assistência técnica e auxílio social aos moradores de centros históricos, buscando ajudá-los na qualidade de vida e também torná-los parceiros do trabalho de preservação do patrimônio histórico.
Citando que o Canteiro-Modelo de Conservação busca trazer melhorias habitacionais para moradores vulneráveis em centros históricos, prevenindo contra desgastes que já provocaram tragédias no passado, principalmente devido à deterioração de edifícios históricos, Grass fez o seguinte comentário:
"Muitas vezes, um morador de um centro histórico, de uma área tombada, não tem recursos para contratar um arquiteto ou um material adequado e o Iphan nessa ação vem respondendo a essas pessoas".
Grass também apontou outro aspecto derivado das ações nocivas do governo Bolsonaro para o patrimônio cultural, a revolta golpista de Oito de Janeiro, quando bolsonaristas provocaram vandalismo por não aceitarem a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, que tentou se reeleger em 2022. Um dos bens danificados foi o quatro As Mulatas, obra de 1962 do artista plástico que integrou o Movimento Modernista de 1922, Emiliano Di Cavalcânti (1897-1976).
"Neste momento, nós estamos em uma parceria Palácio do Planalto, Iphan e Universidade Federal de Pelotas, com um laboratório de conservação que está recuperando 21 peças danificadas no 8 de Janeiro. Entre elas, a tela de Di Cavalcanti, ‘As Mulatas’, que ficou muito conhecida pela violência que sofreu com aquele criminoso que perfurou a tela 7 vezes", disse Leandro Grass.
O presidente do IPHAN acrescentou: "A nossa resposta foi muito efetiva. O Brasil demonstrou naquele momento, além de resiliência e capacidade democrática, uma capacidade técnica para gerir e preservar o seu patrimônio em situações de emergência como foi o 8 de Janeiro".
FONTES: Poder 360, IPHAN.
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